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Bombardeio põe EUA em rota de atrito com Rússia

8 de abril de 2017

Moscou diz que ataque de Washington a forças de Assad na Síria é agressão a Estado soberano e ameaça encerrar cooperação militar com Exército americano no combate ao "Estado Islâmico". Otan declara apoio a Trump.

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Segundo autoridades americanas, 59 mísseis Tomahawk foram disparados de um porta-aviões no Mediterrâneo
Segundo autoridades americanas, 59 mísseis Tomahawk foram disparados de um porta-aviões no MediterrâneoFoto: picture-alliance/dpa/Sputnik/M. Voskresenskiy

O ataque das forças militares americanas contra a Síria colocou sob ameaça as relações entre os Estados Unidos e a Rússia, que trocaram duras acusações ao longo desta sexta-feira (07/04).

Durante a madrugada, navios de guerra americanos situados no Mar Mediterrâneo dispararam uma série de mísseis contra a base aérea de Shayrat, na cidade de Homs, em retaliação pelo suposto ataque químico que deixou mais de 80 mortos nesta semana – os EUA atribuem a responsabilidade desse ataque ao regime do presidente sírio Bashar al-Assad, que tem o apoio de Moscou no conflito.

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A Rússia condenou o ataque americano – o primeiro contra as forças de Assad em seis anos de guerra –, dizendo se tratar de "uma agressão contra um Estado soberano em violação das leis internacionais".

As justificativas de Trump para ataque à Síria

Segundo o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que a justificativa do governo americano para o ataque contra Shayrat se baseia num "pretexto fabricado".

"A atitude de Washington representa um golpe significativo nas relações Rússia-EUA, que já se encontravam em estado deplorável", afirmou Peskov em comunicado, acrescentando que tal ofensiva cria "graves obstáculos" para a cooperação bilateral na Síria contra o "Estado Islâmico" (EI).

Cooperação contra terrorismo ameaçada

A mesma opinião foi expressada por uma série de autoridades russas ao longo do dia. "Condenamos veementemente as ações ilegítimas dos EUA. As consequências disso para a estabilidade regional e internacional podem ser extremamente graves", disse Vladimir Safronkov, representante de Moscou nas Nações Unidas, durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU nesta sexta-feira.

O primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, por sua vez, afirmou que o ataque americano na Síria se trata de uma "dura contradição com o direito internacional" e gerou uma "desconfiança absoluta" por parte da Rússia. "Isso é realmente triste para as nossas relações agora completamente arruinadas. E uma boa notícia para os terroristas", escreveu o político em mensagem publicada em rede social.

Em resposta aos disparos, o governo russo, além de anunciar planos para fortalecer a defesa aérea na Síria, decidiu interromper o canal de comunicação que mantém com os EUA para tratar da guerra no país do Oriente Médio. A linha foi criada em 2015, depois que a Rússia entrou definitivamente no conflito, e é usada, por exemplo, para transmitir informações sobre a localização de seus aviões.

Washington – que avisou Moscou previamente sobre o ataque em Homs por meio desse canal – clamou para que o governo russo mantenha aberta a linha de comunicação e afirmou que não vai deixar de usá-la. "[O canal] é um benefício a todas as partes que operam no espaço aéreo sírio, evitando acidentes e erros de cálculo. Esperamos que o Ministério de Defesa da Rússia chegue a essa mesma conclusão", afirmou o major Adrian Rankine-Galloway, porta-voz do Pentágono.

Donald Trump e Vladimir Putin
Donald Trump e Vladimir Putin: promessa de um estreitamento nas relações está agora sob ameaça

EUA "preparados para mais"

Em reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a embaixadora americana na organização, Nikki Haley, defendeu a decisão tomada pelo presidente Donald Trump, afirmando que o governo em Washington tinha "justificativas plenas" para realizar tal ataque. Para os EUA, os caças que lançaram o ataque químico sobre Khan Cheikhoun partiram da base aérea de Shayrat.

"Os Estados Unidos não vão mais esperar que Assad use armas químicas sem qualquer consequência. Esses dias acabaram", afirmou Hailey, acrescentando que seu país deu "um passo muito planejado" na véspera e "está preparado para fazer mais". "Esperamos que isso não seja necessário", disse ela.

O ataque americano, que polarizou opiniões entre a comunidade internacional, foi defendido pela Otan nesta sexta-feira. O secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, afirmou que a aliança militar liderada pelos EUA já vinha "condenando consistentemente o uso contínuo de armas químicas pela Síria", classificando-o como "uma clara violação de normas e acordos internacionais".

Para Stoltenberg, a responsabilidade pelos disparos contra a base aérea de Shayrat é unicamente do regime de Assad na Síria. "Qualquer uso de armas químicas é inaceitável e não pode ficar sem resposta. Os responsáveis precisam ser responsabilizados", declarou o chefe da Otan.

Desde terça-feira, o governo sírio e seus aliados vêm negando qualquer participação no suposto ataque químico em Khan Cheikhoun. O Ministério da Defesa russo chegou a responsabilizar a oposição de Assad pela tragédia, afirmando que os agentes tóxicos foram liberados quando um ataque aéreo atingiu um arsenal de armas químicas e uma fábrica de munições que seriam dos rebeldes.

EK/afp/ap/rtr/efe/ots