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Bolívia

Mirra Banchón (ca)16 de setembro de 2008

O que significa o apelo para mediar o conflito boliviano? Sobre o assunto, DW-WORLD.DE entrevistou o cientista político da Universidade de Trier Stefan Jost.

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Reunião da Unasul em SantiagoFoto: AP

Na Bolívia, aconteceu o que muitos temiam: as forças conflitantes se radicalizaram, o nível de violência aumentou. O referendo de 10 de agosto não conseguiu esclarecer a situação. DW-WORLD.DE conversou com o cientista político Stefan Jost, professor da Universidade de Trier, sobre os recentes acontecimentos.

DW-WORLD:DE: O que aconteceu na Bolívia nos últimos dias era previsível?

Stefan Jost: Sim, era de se temer. Tudo indica que as partes envolvidas no conflito não possuem a capacidade de sentar-se à mesa para dialogar. A radicalização aumentou em ambas as partes. Focos de violência já havia nos dois lados. Esta era a realidade e o tom que predominava pouco antes do referendo. Estava claro que o resultado deste referendo não ia tranqüilizar ninguém.

Segundo a imprensa, há uma nova disposição para o diálogo. Quem deve levar ambas as partes à mesa de negociação?

A condição básica é que haja uma disposição real a levar-se mutuamente a sério. Se cada um vem com a postura de convencer o outro de suas propostas, a busca de uma solução está condenada ao fracasso.

Como seria um possível acordo que tirasse a Bolívia da crise?

É muito difícil esboçar acordos a partir de um escritório na Alemanha. Mas basicamente acho que, por um lado, o governo deve aceitar que, apesar de sua ampla maioria, houve um apoio aos prefeitos dos departamentos de oposição e que ali não se aceita, de forma majoritária, a política do governo boliviano.

Por outro lado, os rudimentares partidos de oposição que ainda existem na Bolívia devem reconhecer que Evo Morales é um presidente eleito democraticamente e que ele conseguiu que, na consciência de boa parte da população, algo ocorresse que não tem mais volta.

Creio que aceitar isto é um dos pontos mais difíceis para ambas as partes. Os pontos temáticos são evidentes e passam pela lei eleitoral, pela regulamentação das autonomias e pela distribuição de recursos.

O que pode fazer a Unasul [União de Nações Sul-Americanas]? Uma mediação pelos líderes sul-americanos faz sentido?

Estou convencido de que, sem uma mediação do exterior, a Bolívia não conseguirá tranqüilizar-se. A questão é quem deve ser chamado para mediar. Como uma comunidade de Estados latino-americanos, a Unasul soa bem. Mas ela é demasiadamente abstrata e a pergunta que aqui se coloca é muito mais concreta.

Venezuela e Equador pertencem à Unasul. Hugo Chávez, o presidente venezuelano, não pode ser aceito como mediador. Ele está envolvido demais na questão. Duas ou três personalidades de peso internacional, quem sabe também do continente europeu, deveriam ser aceitos como mediadores. Ainda que esteja claro que alguns líderes latino-americanos devem participar da mediação, eu não apostaria na Unasul.

O presidente Morales decidiu esfriar as relações com os Estados Unidos...

Desde que assumiu o poder, a política de Evo Morales se movimentou no plano simbólico. É compreensível que os EUA sejam seu inimigo declarado. Dos tempos em que era líder dos plantadores de folha de coca, existem filmagens de Evo Morales finalizando seus discursos com "morte aos ianques". As manifestações contra as embaixadas americanas comprovam que os Estados Unidos são a imagem do inimigo na política interna boliviana.

Não posso julgar o que há de certo na acusação de que a embaixada dos Estados Unidos apóia a oposição. Em todo caso, a expulsão de diplomatas e a ruptura das relações com os Estados Unidos me parecem um erro estratégico tanto para as relações internacionais como para a política interna boliviana. Também porque se oferece ao senhor Chávez a possibilidade de estender o conflito para o cenário latino-americano. Isso não pode levar à paz.