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Bibliothek: Sobre o Prêmio Büchner 2017

Ricardo Domeneck
31 de outubro de 2017

Jan Wagner é hoje um dos poetas mais populares do país e foi agraciado com o mais importante reconhecimento literário da língua alemã. Ele, porém, não é unanimidade entre críticos e colegas. Mas, afinal, quem o é?

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Deutschland Georg-Büchner-Preis für Lyriker Jan Wagner
Foto: picture-alliance/dpa/F. Rumpenhorst

É impossível imaginar o que o jovem escritor, cientista natural e médico alemão Georg Büchner (1813-1837), morto aos 23 anos em Zurique em decorrência da febre tifoide, pensaria de ter seu nome ligado ao prêmio literário mais importante da língua alemã, e também o de maior recompensa financeira, hoje na marca dos 50 mil euros. Suas obras dramatúrgicas são parte do cânone, especialmente com Dantons Tod (A morte de Danton, 1835) e Leonce und Lena (Leonce e Lena, 1836). Sua peça inacabada Woyzeck (1837) é também um texto cultuado e seria adaptado para o cinema por Werner Herzog em 1971 com Klaus Kinski no papel principal.

O Prêmio Büchner é hoje concedido por um consórcio: o governo federal e o governo do estado de Hessen (região onde nasceu Georg Büchner), assim como pela cidade de Darmstadt e pela Academia Alemã de Língua e Literatura (Deutsche Akademie für Sprache und Dichtung). Na língua portuguesa, é equivalente ao Prêmio Camões.

O prêmio Büchner, porém, não foi originalmente criado para premiar apenas escritores. Entre 1921 e 1933, quando Hitler chega ao poder, e mais tarde entre 1945 e 1950, sua concepção original era reconhecer o trabalho de artistas de diferentes campos, como o compositor Arnold Mendelssohn, que o recebeu em 1923, o escultor Well Habicht em 1928 ou o pintor Adolf Bode em 1932. Após a guerra, ainda dirigido às artes em geral, o prêmio começaria a ir majoritariamente para escritores, como à romancista Anna Seghers em 1947, e à poeta Elisabeth Langgässer em 1950. Foi em 1951 que o prêmio se tornou estritamente literário. O primeiro autor a recebê-lo nesta nova concepção foi o poeta Gottfried Benn.

Desde então, estabeleceu-se como o mais prestigioso da língua. Entre os premiados, encontramos alguns dos mais importantes romancistas, poetas, contistas e dramaturgos do pós-guerra, como 1958: Max Frisch (em 1958), Günter Eich (1959), Paul Celan (1960), Günter Grass (1965), Heinrich Böll (1967), Uwe Johnson (1970), Christa Wolf (1980), Heiner Müller (1985) ou Elfriede Jelinek (1998). Três destes autores aqui mencionados (Grass, Böll e Jelinek) ganhariam mais tarde o Prêmio Nobel. Uma exceção, neste caso, é Herta Müller, ganhadora do Prêmio Nobel em 2008 mas ainda não agraciada com o Prêmio Büchner.

Nascido em Hamburgo em 1971, o poeta Jan Wagner é o nome mais recente a se unir a estes no reconhecimento maior da literatura em língua alemã. Aos 46 anos, é um dos mais jovens a recebê-lo, mas não o mais jovem na história do prêmio. Hans Magnus Enzensberger (em 1963) e Durs Grünbein (em 1995) tinham 33 anos ao receber o prêmio. Ingeborg Bachmann e Günter Grass tinham 38, recebendo-o em 1964 e 1965, respectivamente.

O hamburguês Jan Wagner é hoje um dos poetas mais populares do país, sendo o primeiro poeta a receber o Prêmio da Feira do Livro de Leipzig em 2015. Seu primeiro livro, Probebohrung im Himmel, foi publicado em 2001. A este seguiram-se Guerickes Sperling (2004), Achtzehn Pasteten (2007), Australien (2010), Die Eulenhasser in den Hallenhäusern (2012), Regentonnenvariationen (2014) e a antologia Selbstporträt mit Bienenschwarm. Ausgewählte Gedichte 2001–2015' (2016). Jan Wagner, é importante dizer, não é unanimidade entre críticos e colegas de ofício. Mas, afinal, quem o é?

Na coluna Bibliothek, publicada às terças-feiras, o escritor Ricardo Domeneck discute a produção literária em língua alemã, fala sobre livros recentes e antigos, faz recomendações de leitura e, de vez em quando, algumas incursões à relação literária entre o alemão e o português. A coluna Bibliothek sucede o Blog Contra a Capa.