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Berlusconi defende deportação de 600 mil

5 de fevereiro de 2018

Após atentado contra imigrantes em Macerata, ex-premiê banido da política por fraude fiscal diz que migração é "bomba social" prestes a explodir. Sua coalizão de direita lidera pesquisas para as eleições gerais.

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Mesmo banido da política após condenação por fraude fiscal, ex-premiê ainda possui cacife político significatico na Itália
Mesmo banido da política após condenação por fraude fiscal, ex-premiê ainda possui cacife político significatico na ItáliaFoto: picture alliance/dpa/Eidon/MAXPPP/F. Frustaci

O ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi, que lidera a coalizão conservadora favorita para vencer as próximas eleições gerais, afirmou nesta segunda-feira (05/02) que os italianos "não são racistas", mas têm sua segurança ameaçada pela imigração descontrolada ao país.

No fim de semana, o magnata da comunicação prometeu que, em caso de vitória da coalizão entre seu partido e legendas extrema direita, mais de 600 mil ilegais serão deportados da Itália.

A questão da imigração domina o debate político no país antes das eleições, marcadas para o dia 4 de março, poucos dias após um homem envolvido com movimentos radicais de direita abrir fogo de dentro de um carro na cidade de Macerata, ferindo seis migrantes.

Leia também: Mais de 160 detidos em operação contra máfia

"Há uma angústia social difundida que se origina da presença na Itália de um número enorme de imigrantes ilegais", disse Berlusconi à emissora estatal RAI. O veterano político de 81 anos de idade disse que o incidente em Macerata não teve "nada de político", afirmando de tratar de um ato isolado perpetrado por um indivíduo "insano".

No domingo, Berlusconi afirmou ao grupo Midiaset, de propriedade de sua família, que existem na Itália "ao menos 630 mil irregulares" que seriam "uma bomba social pronta para explodir, porque vivem de trabalhos clandestinos e crimes". Berlusconi disse se tratar de "prioridade absoluta reconquistar o controle da situação".

O partido de Berlusconi, o Força Itália, forjou para as eleições deste ano uma aliança com duas siglas de extrema direita, o nacionalista Liga Norte e o neofascista Irmãos da Itália.

Mesmo banido da política após ser condenado por fraude fiscal, o ex-premiê, que governou o país em três ocasiões, poderá ter ainda algum poder no novo governo, caso sua aliança saia vencedora em março.

"Quando estivermos no governo investiremos muitos recursos na segurança", afirmou, ecoando os sentimentos de uma parte significativa do eleitorado italiano. "Reforçaremos a presença da polícia. Nossos soldados patrulharão as ruas ao lado dos policiais."

Berlusconi apelou também para os sentimentos de rejeição à política migratória da União Europeia (UE), que fracassou ao tentar compartilhar entre os Estados-membros o grande número de migrantes que chegam ao país. "Hoje em dia, a Itália não pode contar com nada de Bruxelas e do mundo. Faremos com que possamos contar com eles novamente", disse.

O ex-premiê e seu parceiro de coalizão Matteo Salvini, da Liga Norte, defendem a deportação de todos os imigrantes ilegais, apesar das incertezas quanto aos custos e a viabilidade de um processo dessa magnitude.

Cenário político indefinido

A Itália é o principal ponto de entrada de imigrantes rumo à Europa que se arriscam na perigosa travessia do Mar Mediterrâneo. Entre 2015 e 2017, mais de 450 mil pessoas chegaram por mar ao país, das quais ao menos 40% receberam alguma forma de proteção ou refúgio. 

Em 2017, a média anual de chegadas através do Mediterrâneo foi reduzida a menos de um terço, graças a um acordo de controle migratório com a Líbia – pais de onde parte a maioria das embarcações de refugiados rumo à Itália. O tema, porém, não deixou de estar no centro das preocupações dos eleitores italianos.

É bastante provável que nenhum dos grupos que concorrem às eleições consiga maioria no Parlamento, o que poderá permitir que Berlusconi tenha um papel decisivo num futuro governo de coalizão. 

Pesquisas recentes apontam que a coalizão de centro direita estaria com 35% das intenções de voto, contra 28 do eurocético Movimento Cinco Estrelas (M5S) e 25% do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda. Os resultados, porém, sugerem que ainda há milhões de eleitores indecisos.

Análises apontam para uma ampla variedade de possíveis coalizões, ainda que com poucas possibilidades de que alguma destas possa atingir uma maioria segura. Parece que até o M5S, criado a partir da rejeição dos partidos tradicionais, estaria disposto a negociar com outras legendas.

O partido, que ganhou um grande número de adeptos nos últimos anos, parece ter suavizado o discurso, diminuindo a pressão pela realização de um referendo sobre a permanência da Itália na União Europeia.

Caso a maioria não seja de fato atingida e fracassem as tentativas de coalizão, o presidente Sergio Mattarella poderá manter o governo atual, liderado pelo primeiro-ministro Paolo Gentiloni, até que seja encontrada uma nova solução, o que pode incluir a convocação de novas eleições. Mas, num país que teve 64 governos diferentes desde 1946, isso não chega a ser novidade.

"Temos alguma proficiência na arte de encontrar soluções para a instabilidade política", afirmou Mattarella

RC/dpa/afp/ots

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