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Berlinale homenageia Fernando Solanas

cp / lk11 de fevereiro de 2004

Expoente do cinema político latino-americano, o cineasta argentino Fernando Solanas recebeu no Festival Internacional de Cinema de Berlim um Urso de Ouro especial pelo conjunto de sua obra.

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Foto: AP

O prestigiado cineasta argentino Fernando Solanas, que em poucos dias completará 68 anos, foi alvo de homenagem da Berlinale 2004. O Urso de Ouro especial em reconhecimento ao conjunto de sua obra — um testemunho da realidade de seu país nas últimas três décadas — foi entregue na terça-feira (10/02), em Berlim. Na ocasião, sua mais recente obra, o documentário Memoria del saqueo, teve estréia mundial. "Para nós é motivo de grande satisfação poder prestar homenagem a este diretor excepcional e corajoso", declarou Dieter Kosslick, diretor do festival.

Olhar crítico e manifesto social

Poucos diretores de cinema conferiram ao cinema político da América Latina uma marca tão própria como Solanas. Películas como Tangos: el exílio de Gardel (1980), realizada durante seu exílio em Paris, onde se refugiou da ditadura militar, e El viaje (1982) são documentos da história argentina recente, do árduo caminho de volta para a democracia.

Já em sua obra de estréia, La hora de los hornos, que data de 1967, ele enfocou a realidade sócio-política do país, criando um clássico do documentário de teor político. Há mais de 30 anos, Solanas vem observando os acontecimentos na Argentina sob os mais diversos ângulos e valendo-se de diferentes linguagens cinematográficas. Mostra sempre sua visão do país sul-americano por meio da poesia de suas imagens, nas quais se mesclam a melancolia e a rebeldia da luta social por um país mais justo.

O exílio, o sul e a globalização

Em 1976, quando se instaurou a ditadura na Argentina, Solanas, partidário de Perón, foi ameaçado de morte, exilando-se como tantos outros compatriotas. Nunca se acostumou à vida na França, transportando para as telas a saudade da amplidão da Argentina e do sentimentalismo do tango. Já de volta à pátria, conquistou com El Sur (1987) reconhecimento internacional. O filme lhe valeu o Prêmio de Melhor Diretor do Festival de Cannes. Também sua obra seguinte, El viaje (1992), fez sucesso fora da Argentina.

Quando Solanas retornou do exílio, em 1984, a democracia estava restaurada em seu país. A ditadura (1976 - 1983) havia deixado um saldo de 30 mil pessoas desaparecidas, e os crimes cometidos pela Junta Militar começavam a ser esclarecidos lenta e dificultosamente.

O diretor decidiu-se então pela atuação ativa na política, sendo de 1993 a 1997 deputado no Congresso Argentino, onde pertencia aos críticos da política neoliberal de Carlos Menem. Nessa época, sofreu um atentado, ao qual sobreviveu por pouco, com seis tiros nas pernas que o paralisaram por uns tempos.

De volta à atividade cinematográfica, rodou La nube (1998), uma homenagem à grande tradição teatral argentina. Em Memoria del saqueo (2004), o diretor documenta a crise sofrida pela Argentina nos últimos anos e mostra o país sob a influência da globalização. Mais uma vez Solanas denuncia a corrupção e a malversação dos recursos públicos.

"Meu filme", diz o cineasta, "deve contribuir como imagem viva para o debate urgentemente necessário sobre a globalização indigna dos seres humanos que está ocorrendo no meu país, na América Latina e em toda parte." Mas ele deve mostrar também "que um outro mundo é possível".