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Berlim se rende ao sabor dos destilados artesanais

Jefferson Chase (msb)12 de janeiro de 2014

Nova moda nos Estados Unidos, bebida produzida em pequenas destilarias ganha espaço também na capital alemã. Apesar do tom de novidade, há fabricantes com mais de 150 anos no mercado.

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Foto: Jefferson Chase

Frequentadores assíduos de bares ou restaurantes em Berlim já devem ter esbarrado em garrafas identificadas com nomes estranhos ou mesmo exóticos nas prateleiras dos estabelecimentos. Isso não é necessariamente um bom sinal em uma cidade conhecida, quando o assunto é aguardente, pelo Mampe Half and Half, a versão local para o Jägermeister. Hoje em dia, porém, os melhores lugares estão oferecendo ao cliente aguardentes de marcas desconhecidas – bebidas locais diferentes daquelas que o cliente está acostumado a tomar.

A capital alemã está seguindo uma tendência de destilados artesanais que começou nos Estados Unidos. E, como quase sempre acontece, apesar de a moda demorar a pegar, quando ela vem, explode de uma vez. "Não se trata apenas de diversão, mas sim do que eu chamaria de diversão ética", explica Thomas Kochan, proprietário da loja Dr. Kochan Schnappskultur, dedicada a aguardentes artesanais no bairro Prenzlauer Berg.

"Com essas bebidas artesanais, você sabe que está tomando algo puro, sem aditivos, algo mais pessoal", explica Kochan. Sua loja tem vários destilados comprados de pequenos produtores não apenas de Berlim, mas também de várias outras cidades da Alemanha e da Europa. Por ali há gim, vodka, aperitivos de ervas, aguardentes de grãos e frutas, licores e mais uma enorme lista de bebidas. Há ainda rum local e uísque single malt.

Nada de bebida barata

A maioria de seus clientes, conta Kochan, são pessoas entre 25 e 50 anos, e representantes de restaurantes em busca de aperitivos e digestivos sofisticados. Eles estão mais abertos à tendência do que os bares. E a novidade da vez é o gim, com apreciadores ansiosos para tentar descobrir tudo o que essa bebida tem para oferecer.

Em novembro passado, centenas de pessoas lotaram o Markhalle IX no bairro de Kreuzberg – conhecido como uma meca gastronômica – para conferir o "Destille 2003", um festival de bebidas artesanais que durou três dias. Mais de 20 destilarias locais participaram do encontro, cujo ponto alto foi a degustação de gim. A próxima edição do encontro está marcada para abril. "Há cada vez mais barmen experimentando e procurando bebidas artesanais para criar coquetéis exclusivos e originais", conta Kochan.

Berliner Spirituosen
Apreciadores experimentam todo tipo de destilados durante o festival 'Destile 2013', em novembroFoto: Thomas Kochan

Bebidas com história

Mas os destilados locais não nasceram com a moda – eles têm uma longa tradição em Berlim. "Não estou nem aí para a tendência do momento. Como dono de uma destilaria, levo mais tempo planejando e produzindo um aguardente de qualidade do que a duração de qualquer modinha", diz Gerald Schroff, dono da empresa Preussische Spirituosen Manufaktur (PSM), criada em 1874 por um decreto real.

Na virada do século 20, Berlim contava com centenas de destilarias, mas boa parte delas foi sendo engolida ou jogada para escanteio com a consolidação da indústria de bebidas na segunda metade do século. A PSM sobreviveu, em parte por causa de uma parceria com a Universidade Técnica de Berlim. Era o único lugar da Alemanha Ocidental onde as pessoas podiam receber treinamento para virarem destiladores licenciados.

Em 2005, Schroff e seu sócio, o bioquímico austríaco Ulrich Stahl, reavivaram a tradicional marca berlinense Adler de gim e vodka. Atualmente eles vendem toda a produção de seus 28 tipos de aguardente e podem se dar ao luxo de escolher para quem querem vender. A cartela das ofertas inclui bebidas raras, como aguardente de espinheiro marítimo e licor de galanga (gengibre tailandês).

"Nossos produtos não são encontrados nas prateleiras de supermercados populares, tampouco no Cookies", afirma Schroff, referindo-se a um clube noturno berlinense. De fato, o cliente que quiser ter os produtos da PSM no estoque de seu estabelecimento precisa conversar pessoalmente com o impaciente Schroff.

Berliner Spirituosen
Equipamentos de 1874 ainda são usados na destilaria 'Preussische Spirituosen Manufaktur'Foto: Jefferson Chase

Um passeio pelo passado

Um passeio pelas instalações da fábrica é uma volta no tempo. Em salas repletas de prateleiras de madeira e garrafas com rolhas que parecem pertencer a um velho boticário, há equipamentos de época, onde as aguardentes eram produzidas. Alguns datam de 1874.

A destilaria também é um museu, aberta a passeios para grupos de quatro ou mais pessoas, que sempre terminam na loja, com uma degustação. Schroff ressalta que a PSM não quer ninguém comprando um produto sem ter provado antes.

Gim e tônico alemão

Por trás de cada aguardente artesanal há uma história. A Pijökel 55, por exemplo, é produzida por uma pequena empresa no bairro berlinense Prenzlauer Berg, de propriedade de dois engenheiros de som, sendo que um deles herdou a receita do pai farmacêutico. Consta que muitas destas aguardentes tradicionais possuem propriedades medicinais, ficando a cargo do consumidor acreditar ou não nisso.

Questionado sobre o quais os principais ingredientes necessários para produzir um gim perfeito, Kochan responde: "Eu começaria com o Simon's Gim de uma pequena cidade no norte da Baviera. Ele tem notas de pinheiro que fazem você se sentir caminhando por uma floresta conífera. Também usaria o tônico Monaco, de Munique, que é bem seco. E, por fim, apenas acrescentaria uma pequena fatia de limão, para dar um sabor um pouco cítrico".