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Berlim recebe mais uma edição da Copa Hipster

Marco Sanchez, de Berlim28 de julho de 2014

Provas irônicas, design, arte e muita música: o festival em Berlim buscou atrair adeptos e levar a subcultura para o grande público. Mas por que o termo é tão odiado e ao mesmo tempo popular?

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Foto: picture-alliance/dpa

Contrariar a competição diária pela individualidade e o vanguardismo nas ruas de Berlim e trazê-la ao grande público é o principal objetivo da Copa Hipster. O festival reuniu, no último sábado (26/07), arte, música, design, provas cheias de ironia e centenas de pessoas em Berlim.

Em tom sempre cheio de humor, a organização do festival tenta a cada ano criar novas provas que reflitam e ironizem o estilo de vida da popular tribo urbana. Na edição deste ano do evento, os participantes competiam em provas como arremesso de iPhone, cabo de guerra com skinny jeans e montar um bigode mecânico.

Além da divertida competição, o festival contou com dois palcos, um interno e outro externo, com bandas e DJs que animavam o público. A locação, uma antiga fábrica com uma enorme área externa, emulava o ambiente de descolados clubes da cidade. O evento ainda contou com uma feirinha de design, comida orgânica, arte de rua e ioga.

Onde estão os Hipsters?

Mas afinal, os hipsters vão a esse tipo de evento? Para quem mora em Berlim e está acostumado aos descolados clubes, festas alternativas, obscuras galerias de arte e jovens com roupas irônicas e vanguardistas andando pelos corredores dos supermercados, a resposta é simples e imediata: não.

"Vim para curtir a música, as bandas e os DJs. Está um clima ideal para esse tipo de evento ao ar livre", disse a estudante Johanna Karberg. "Acho que hipsters se preocupam com o que vestem e misturam estilos antigos de uma maneira moderna. Eu não sou assim."

Outros que não se consideram hipster e não conseguem definir o termo são os amigos espanhóis Pablo Belmar e Jules Leon. "Nós nos vestimos de uma maneira bem normal. Estamos de férias na cidade e esse evento pareceu divertido e interessante. Ontem fomos a um festival de cerveja. Procuramos lugares que são a cara de Berlim", disse Belmar.

Outro fator curioso é que a grande maioria do público era formada por jovens alemães. Os enormes grupos de estrangeiros que lotam as festas no clube ://about blank em Friedrichshain ou nos cafés de Neukölln não podiam ser encontrados no festival.

Hipster Cup Festival 2014
Hipster como um fenômeno popular é algo relativamente recenteFoto: picture-alliance/dpa

Alternativo e mainstream

Hipster como um fenômeno popular é algo relativamente recente. Sua história é mais antiga do que a maioria pensa, e seus desdobramentos para a cultura urbana, mais complexos.

"O termo hipster teve sua origem na cena jazz americana do anos 1940, mas seu atual significado se popularizou no começo da década de 2000. Em muitos sentidos, hoje, ele significa boêmio: pessoas com um estilo de vida 'artístico', sem necessariamente ser um artista", explica o jornalista e escritor Niklas Hofmann.

"Eles passam muito tempo em clubes e café (porque geralmente são sustentados por suas famílias de classe média) em busca de arte e música predominantemente obscura, se vestindo de certa maneira que deveria fugir do mainstream, mas se transformou em um uniforme: barba e bigode, jeans justos, tatuagens, óculos retro. Seu estilo de vida é alternativo, mas também tem se tornado comercial e culturalmente dominante", completa Hofmann, que foi responsável pela tradução para o alemão do livro Hipster – Uma discussão transatlântica, do americano Mark Greif.

No livro, Greif caracteriza os hipsters como "a subcultura da elite", associando alguns problemas das cidades com grande concentração de hipsters: a gentrificação. Assim, lugares onde bares e cafés hipsters abrem suas portas, geralmente se tornam regiões mais caras para se viver. O que aconteceu no Brooklyn em Nova York, região da rua Augusta em São Paulo e em Neukölln, na capital alemã.

"Berlim é um grande metrópole europeia, mas ao mesmo tempo é mais barata que as outras capitais no continente, o que torna fácil ter um estivo de vida hipster. Por causa de sua história, a cidade também oferece espaços abertos e livres que podem ser usados para clubes, bares e estúdios. A gentrificação está acabando um pouco com isso. Os hipsters vão deixar Berlim para um lugar mais barato como Leipzig ou a Cracóvia? Ou Berlim já está estabelecida como um dos centros da cultura jovem e esse movimento só vai acontecer dentro da cidade? Isso só saberemos nos próximos anos", diz o jornalista.

Hipster Cup Festival 2014
O termo hipster teve sua origem na cena jazz americana do anos 1940Foto: picture-alliance/dpa

Pela arte e diversão

A Copa Hipster pode não ser uma representação genuína da cultura hipster em Berlim, mas de uma maneira mainstream, consegue pegar a temática, as referências e atmosfera desse universo e transformar , para o bem ou para o mal, em um evento quase familiar, mas nem por isso menos divertido. Uma interseção que pode soar como suicídio para os descolados, mas faz parte do cotidiano berlinense.

"Essa é a nossa primeira vez participando do evento. Para mim é algo como as gincanas que eu costumava participar na escola", revela Ivo Sagreiski. Ele é o líder da White Elephant, a segunda colocada da Copa Hipster.

"White Elephant é o nome de nosso projeto que estamos desenvolvendo no Senegal. Não é um projeto social, mas artístico, que leva material e artistas alemães para desenvolverem projetos com artistas senegaleses. Participar do evento foi uma maneira de divulgar nosso trabalho", explica o jovem.

Antes que artistas joguem pedras e questionem que tipo de artista divulga sua arte em um evento que se intitula hipster, Sagreiski dá uma resposta ingenuamente hipster. "Não nos consideramos hipsters, estamos participando do festival pela arte."