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Berlim investe em baladas mais sustentáveis

Anne-Sophie Brändlin mo
27 de fevereiro de 2019

Casas noturnas e políticos se unem para que festas sejam menos poluentes e gastem menos eletricidade. Ideias vão desde sistemas de iluminação e resfriamento mais eficientes até a geração de energia por meio da dança.

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Pessoas dançam no clube gay SchwuZ em Berlim. Pista de dança é iluminada por feixes de luz azuis e roxos e globo de vidro; balada já adotou luzes em LED para agir de forma mais sustentável.
Migrar para tecnologia LED é uma das formas de tornar boates mais sustentáveisFoto: Guido Woller

Berlim quer se tornar uma cidade neutra em carbono até 2050. E enquanto muitos apostam em ações da indústria automobilística, é a cena noturna da capital alemã que pode ajudar a cumprir a meta.

Boates liberam muito dióxido de carbono na atmosfera. De acordo com a ONG Amigos da Terra Alemanha, uma casa noturna emite cerca 30 toneladas de CO2 por ano. Além disso, apenas num final de semana, um clube gasta tanta energia elétrica quanto uma casa consome num ano inteiro. 

Para Georg Kössler, representante do Partido Verde alemão para a proteção do clima e cultura dos clubes, é importante que as baladas de Berlim sejam mais sustentáveis – não apenas para fazer a sua parte para proteger o meio ambiente, mas também para motivar os cidadãos pelo exemplo.

"Eu acredito que os clubes de Berlim lançam tendências não só em termos musicais, mas também de estilo de vida. E quando a pessoas virem, 'ah, eles não usam mais canudos de plástico', talvez eles comecem a fazer o mesmo em casa", disse.

Um estudo recente da Clubcomission Berlin (Comissão de Casas Noturnas de Berlim, em tradução livre), uma associação de proprietários de boates da capital alemã, descobriu que apenas em 2018 três milhões de turistas frequentaram casas noturnas em Berlim. O número não inclui os visitantes regulares dos clubes. Segundo a pesquisa, um quarto das pessoas que foram a Berlim o fizeram por causa das baladas. No total, elas obtiveram um lucro anual de 1,48 bilhão de euros para a cidade.

"É por isso que nós, políticos, focamos nos clubes, porque eles causam esse impacto. Milhares de pessoas em Berlim frequentam baladas, milhares de outras pessoas vêm a Berlim para ir para baladas, então nós realmente podemos atingir muito ao trabalharmos com os clubes, fazendo com que eles se tornem mais verdes."

Foto desfocada mostra pessoas dançando em pista com azulejos amarelos, desenhada por Dan Roosegard para armazenar a energia dos dançarinos e gerar energia
Uma casa noturna chega a emitir cerca 30 toneladas de dióxido de carbono por anoFoto: Studio Roosegaarde

Senado de Berlim ajuda boates a se tornarem mais verdes

Um projeto climático da ONG Amigos da Terra Alemanha, da associação Clubliebe e da Clubcomission Berlin foi criado para ajudar as baladas de Berlim a atingirem a meta.

Financiado pelo Senado de Berlim, Executivo da cidade-estado, o projeto envia especialistas às boates para aconselhá-las sobre como podem se tornar mais ambientais, optando, por exemplo, por energia limpa, instalando sistemas de resfriamento e aquecimento eficientes, usando luzes LED (eletrônicas, que emitem mais luz e menos calor) em vez de lâmpadas incandescentes, reduzindo seu consumo de água e administrando melhor o lixo.

"Estamos pensando em como ser um clube sustentável há um tempo. Nós já mudamos para a tecnologia LED, mas acreditamos que podemos fazer mais", contou Marcel Weber, presidente do SchwuZ, um famoso clube gay em Berlim, à DW. "Se você olhar para quanto lixo nós, enquanto clube, produzimos, fica claro que a sustentabilidade é um aspecto importante", destaca.

Ele agora trabalha em parceria com a Clubliebe e. V. e com a Amigos da Terra para fazer da SchwuZ uma casa noturna mais verde. Eles reservaram dois dias para examinar o local, avaliando de cabos de som a refrigeradores e unidades de resfriamento, para encontrar formas de reduzir a pegada ecológica da casa.  

"Seria muito bacana encontrar uma forma de controlar digitalmente nossos sistemas de refrigeração para que nossas geladeiras não precisem funcionar 24 horas, sete dias por semana", contou Weber. O CEO também está empenhado em encomendar mais produtos que não tenham embalagens plásticas.

Pista de dança que gera energia

Outra ideia é a construção de pistas de dança que gerem eletricidade. A chamada pista de dança sustentável, criada pelo designer holandês Daan Roosegaarde, usa azulejos quadrados que coletam a energia de quem dança e a transformam em eletricidade. A invenção já é usada em um clube em Roterdã, na Holanda.

"Nós queremos trazer esse espírito e esses bons exemplos para a Alemanha”, diz Konstanze Meyer, do clubliebe e.V. e da ONG Amigos da Terra Alemanha.

Pista de dança sustentável gera energia a partir do movimento
Pista de dança sustentável gera energia a partir do movimentoFoto: Studio Roosegaarde

O problema, segundo Meyer, é que tecnologias como essas são caras e a maior parte dos clubes em Berlim têm contratos de aluguel curtos, o que pode ser um entrave para investimentos altos como esse.

No entanto, políticos como Kössler querem mudar essa circunstância. "Nós disponibilizamos um fundo multimilionário para a proteção climática da cidade e ainda temos recursos, então quem tiver uma boa ideia deve apresentá-la”, disse ele.

"Nós temos até um recado para os clubes: se você tem um projeto inovador para economizar energia ou tornar sua boate mais verde, você pode se inscrever para receber financiamento".

Festival em Ferropolis já trilha caminhos

Além de Berlim, um festival no estado alemão da Saxônia-Anhalt já encontrou uma maneira de ser mais sustentável.

Thies Schröder, diretor do museu aberto Ferropolis, criou um conceito para fazer com que os festivais na antiga mina de carvão sejam o mais sustentável possível. Do total da energia usada nos festivais, 70% vêm diretamente de painéis solares. Um número impressionante, considerando quanta eletricidade a estrutura de som e de luz um festival de música demanda.

Schröder disse à DW que o plano é construir ainda mais painéis solares e pensar em sistemas mais eficientes de gestão de resíduos e esgotos, por exemplo, ao produzir energia com resíduos através da pirólise, a decomposição térmica de materiais.

Foto mostra guindaste com globo de mosaicos de vidro. A estrutura está montada numa antiga mina de carvão em Dessau, nordeste da Alemanha e sede do maior festival de Hip hop do país
Antiga mina de carvão no nordeste alemão hoje sedia festival sustentável de Hip hopFoto: DW/A. S. Brändlin

Outra ideia que Ferropolis está experimentando é usar dejetos humanos como fonte de energia. "Desde o ano passado, temos dois protótipos de banheiros totalmente novos, onde separamos líquidos de sólidos para produzir energia a partir desses resíduos", contou Schröder.

Outras iniciativas são o incentivo aos 30 mil frequentadores do festival a chegar de trem em vez de carro, oferecer uma área de acampamento ecológica, além de comidas vegana e regional. Assim, Ferropolis está abrindo caminho para um futuro mais verde dos festivais.

Responsabilidade social

A intenção é que, ao implementar medidas para se tornarem mais sustentáveis, festivais e clubes sirvam de inspiração. E as comunidades estão abertas ao conceito.

Konstanze Meyer, da Clubliebe e da Amigos da Terra, entrevistou frequentadores de clubes em Berlim para um estudo e descobriu que mais de 90% deles gostariam que as casas noturnas fossem mais sustentáveis. Mais de 80% disseram que estariam dispostos a apoiar os clubes, agindo por conta própria.

Meyer acredita que a cena noturna de Berlim tem potencial para fazer grandes mudanças na sociedade e iniciar movimentos e campanhas em prol do meio ambiente. "A cena noturna sempre foi um núcleo de onde muitos movimentos sociais vieram", disse ela. "A exemplo da Love Parade, pelo menos no início, eles sempre tinham mensagens políticas que depois afetaram toda a sociedade", lembra.

Já Kössler acha que é hora de os clubes de Berlim usarem esse potencial para lutar contra as mudanças climáticas. Ele disse à DW que a maioria dos clubes da cidade já assume suas responsabilidades sociais organizando iniciativas para uma sociedade mais aberta, defendendo os direitos LGBTQ e se manifestando contra o racismo e a xenofobia.

"Espero que outras cidades olhem para Berlim e digam: 'isso é uma boa ideia'. Queremos tornar nossos clubes mais verdes e usaremos dinheiro público para torná-los mais verdes porque isso realmente tem um longo alcance", espera.

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