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Banda faz turnê com músicos refugiados como protesto na Alemanha

Bernd Sobolla (mas)21 de agosto de 2013

Na luta por políticas de asilo mais justas, o alemão Heinz Ratz formou um grupo com estrangeiros que buscam abrigo na Alemanha. Viagem pelo país rendeu um disco e é contada em documentário.

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Foto: autofocus videowerkstatt

Há dois anos, Heinz Ratz saiu em turnê de bicicleta pela Alemanha com sua banda, Strom & Wasser. Mais do que levar sua música através do país, o objetivo era lutar por políticas de asilo mais justas na Alemanha e para a captação de recursos para a causa.

No caminho, eles visitaram quase 80 abrigos de refugiados, onde entraram em contato com músicos conhecidos em seus países de origem, mas que não podem trabalhar ou viajar dentro da Alemanha.

"Tive a ideia de convidá-los para irem a Hamburgo e gravarem um CD, assim poderíamos sair em turnê", diz Ratz, de 45 anos.

Assim nasceu Strom & Wasser featuring The Refugees, que conta com a participação de 30 músicos refugiados de 15 países diferentes. O disco é uma mistura de world music, rap, folk e pop. A capa mostra um barco a remo verde em uma paisagem desértica.

Em vez de recomeço, incerteza

Após o lançamento do disco, a banda saiu em uma turnê, na qual Ratz teve que obter permissão especial das autoridades responsáveis para poder viajar com os músicos refugiados.

"Os músicos com quem eu trabalhei estão concretamente mais ameaçados de deportação", conta Ratz no documentário Can't Be Silent, da cineasta Julia Oelkers.

Nuri, do Daguestão, Jacques e Revelino, da Costa do Marfim, e Hosain, do Afeganistão, foram alguns dos músicos do projeto que deixaram seus países para fazer da Alemanha seu novo lar. Mas, até agora, tudo que eles vivenciaram no país foi uma espera que paralisou suas vidas.

Heinz Ratz Strom & Wasser
Heinz Ratz líder da Strom & Wasser teve a idéia de formar uma banda com músicos refugiadosFoto: Linn Marx

Frequentemente, quem se encontra em um abrigo de refugiados tem que esperar anos para, talvez, obter um visto de residência permanente. Eles não têm permissão para trabalhar ou fazer cursos profissionalizantes, e muitos não podem sair, sem permissão, da região onde está localizado o abrigo.

A turnê não trouxe apenas reconhecimento aos músicos refugiados, mas também tornou Heinz Ratz ainda mais conhecido do grande público.

Filho de uma peruana e de um alemão, o músico já viveu em Espanha, Peru, Arábia Saudita, Suíça, Argentina e Escócia. Aos 25 anos, passou um ano vivendo voluntariamente nas ruas como forma de protesto.

Depois de trabalhar no teatro, lançou, desde 1994, contos, audiolivros e discos, além de organizar leituras e de participar da turnê cômica O Último Discurso de Hitler, em 2010.

"Heinz Ratz não é apenas um colega muito simpático e com uma presença de palco incrível, mas um dos talentos mais fortes e originais da nova geração", diz o cantor compositor alemão Konstantin Wecker.

Ratz é também engajado. Em 2009, nadou cerca de mil quilômetros em diversos rios alemães para protestar, junto com a organização ambiental Bund, contra a canalização, retificação e poluição dos rios.

Can't Be Silentnão é documentário sobre Ratz, mas sobre a causa dos refugiados. O músico aparece apenas três ou quatro vezes no filme para explicar o projeto e falar sobre a turnê. O foco do documentário são os medos, esperança e a música dos artistas refugiados.

Como um paraíso

Um desses músicos é Sam. O refugiado da Gâmbia se sente um prisioneiro no abrigo em Reutlingen. Suas músicas falam da guerra que destruiu seu país. Jacques, da Costa do Marfim, diz que nunca teria saído do abrigo de refugiados se não fosse o projeto de Ratz. Já Nuri, do Daguestão, conta como seus colegas de escola falam sobre as viagens que fazem, enquanto ele não pode sair de Gifhorn, vila onde fica seu abrigo.

Film can't be silent Flüchtlinge Projekt
Para os músicos, o palco era como uma janela para a liberdadeFoto: Neue Visionen Filmverleih

O que eles têm em comum é a música que os mantêm vivos. Para esses músicos, a turnê é uma espécie de paraíso, no qual a deportação é uma possibilidade real e constante. No palco eles são cantores, músicos e rappers. Fora dele, em sua vida cotidiana, apenas excluídos.

Com sua música, eles atraem milhares de pessoas para as casas de espetáculos, mas eles próprios não poderiam estar no palco sem uma autorização especial. Strom & Wasser featuring The Refugees encantou o grande público com suas batidas, ritmos de reggae e o vocal falado do rap, que descreve a vida nos refúgios.

Para o filme, a diretora Julia Oelkers utilizou material feito pelos próprios refugiados, já que ela não conseguiu autorização para filmar dentro das instituições. Can´t be silent conta a história de pessoas presas entre a euforia do palco e a esperança de uma perspectiva de vida.

A cena mais peculiar do filme se passa na sede da Chancelaria Federal Alemã, onde Maria Böhmer, comissária para imigração, refugiados e integração, entrega para Heinz Ratz a Medalha Federal de Integração.

Obviamente não preparada, ela utiliza um discurso repleto de floreios quando chama Ratz para receber a medalha, a qual ele teve dificuldade em aceitar.

"Quando vemos o desespero dessas pessoas que vêm para cá e frequentemente esperam 10 ou 20 anos em um estado de tolerância, sem a possibilidade de trabalhar, se educar ou viajar, e frequentemente apenas vegetando, passamos a ver as políticas do governo federal de forma bastante crítica", disse Ratz no palco.

Böhmer foi fotografada com dois dos músicos refugiados. Desde então, um deles foi deportado.