1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Grupos extremistas podem radicalizar estrutura da oposição síria

Andreas Gorzewski (rc)17 de setembro de 2013

Islamistas ganham espaço em relação à oposição moderada na Síria, enquanto grupos ligados à rede Al Qaeda se fortalecem com apoio de países do Golfo Pérsico. Mudança pode ser nova frente de combate, dizem especialistas.

https://p.dw.com/p/19iji
Foto: picture-alliance/AP

A composição da resistência contra o presidente Bashar Al-Assad na Síria está mudando. Em diversas regiões, grupos fundamentalistas islâmicos acabaram se sobrepondo aos rebeldes moderados e laicos.

Segundo um estudo da organização americana de análise de defesa, inteligência e segurança Jane's, quase a metade dos rebeldes sírios – que já são em torno de 100 mil – seriam militantes que seguem diferentes orientações islâmicas radicais. Destes, em torno de 10 mil seriam jihadistas (defensores da guerra santa muçulmana para defender o Islã contra infiéis e inimigos). Estes estariam dispostos a continuar lutando em outras frentes mesmo após o término do atual conflito na Síria.

Para analistas, a situação da oposição no país é difícil de ser avaliada. O especialista em Síria da consultoria independente britânica Royal United Services Institute (RUSI), Michael Stephens, afirma que os dados sobre as dimensões dos grupos rebeldes devem ser observados com cuidado. É difícil determinar exatamente a que corrente religiosa os militantes ou suas organizações pertencem.

Apesar dos islamistas e jihadistas seguirem ideologias com bases religiosas, eles podem ter objetivos e estruturas bem diferentes, explicou Stephens. "Provavelmente, apenas 2 ou 3 mil deles são de fato extremistas que representam algum motivo de preocupação séria", afirmou o especialista à DW.

Jihadistas almejam um novo califado

Os jihadistas, defensores de uma guerra santa e que têm alcance mundial, são considerados um dos grupos mais radicais entre os islamistas. Seu objetivo não é somente derrubar o regime de Bashar al-Assad, mas – ao contrário de muitos grupos islamistas – atingir alvos além da Síria. Eles querem que o país seja parte de um amplo regime teocrático que se estenderia por todo o Oriente Médio. O grupo já recebeu a adesão de muitos voluntários vindos de outras nações árabes e até da Europa e da Ásia.

Combatente do Exército Livre da Síria observa casa destruída na cidade de Aleppo
Combatente do Exército Livre da Síria observa casa destruída na cidade de AleppoFoto: Reuters/Malek Alshemali

"Sabemos que algumas centenas deles vêm do norte da Europa", explicou Stephens, adicionando que há células islamistas no norte da Alemanha, na Holanda e na Escandinávia, que ajudam os voluntários a entrar nas zonas de guerra através da Turquia.

A organização islamista mais conhecida é a Frente al-Nusra, suspeita de ter ligações estreitas com a rede terrorista internacional Al Qaeda. Estimativas afirmam que a organização teria 5 mil combatentes armados.

Stephens, no entanto, acha o número exagerado. O especialista explica que nem todos os combatentes da al-Nusra são extremistas; alguns deles teriam aderido ao grupo por ele ser mais bem organizado e menos corrupto do que algumas organizações laicas. A al-Nusra é suspeita de estar por trás de atentados suicidas a bomba e de ataques terroristas.

Uma organização que também ganha maior influência na Síria é o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que abriga diversos grupos islamistas menores e, assim com a al-Nusra, é considerada um braço da Al Qaeda.

Os diversos grupos jihadistas podem contar com o mesmo apoio de muitos dos Estados árabes mais ricos do Golfo Pérsico, afirma Paul Salem, diretor do Centro para o Oriente Médio do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, com sede em Genebra, na Suíça.

Ao mesmo tempo em que têm suas estruturas próprias, esses grupos compartilham o desejo de poder substituir o atual Estado laico sírio por uma teocracia. Nas regiões que controlam, os moradores já sentem o que isso significa. Os comandantes das milícias se autoproclamam juízes e ordenam execuções e mutilações, explica Salem.

Treinamento de combatentes da Frente al-Nusra, suspeita de vinculação com a Al Qaeda
Treinamento de combatentes da Frente al-Nusra, suspeita de vinculação com a Al QaedaFoto: picture-alliance/AP

As mulheres são vítimas de opressão, ainda que não tão fortemente quanto sob o movimento radical islâmico Talibã, no Afeganistão. Já os não-muçulmanos são alvos de violência. "Esse certamente não é o tipo de Islã que os muçulmanos nas cidades e em outras localidades irão aceitar", explica o especialista.

Críticas à hesitação do Ocidente

Porém, explica Salem, sem o apoio maciço do exterior, os sírios não conseguirão se livrar dos grupos jihadistas. Por essa razão, ele apoia o armamento e o treinamento de grupos laicos de resistência, como o Exército Livre da Síria.

O especialista defende que a hesitação do Ocidente em armar os rebeldes moderados é muito perigosa e irá apenas fortalecer os jihadistas, uma vez que "eles irão dizer aos membros do Exército Livre da Síria: 'veja, seus amigos não te ajudam'".

Os extremistas, enquanto isso, possuem muitos recursos financeiros e armamentos fornecidos por fontes privadas ou mesmo estatais dentro dos países do Golfo Pérsico. Se esse quadro não mudar, a influência desses grupos deverá aumentar, alerta Salem.

A mudança de poder dentro da oposição síria poderá acabar transformando também a atitude do Ocidente em relação ao conflito. Até agora, os Estados Unidos apenas ameaçaram bombardear o regime de Assad. Porém, se os jihadistas se fortalecerem e se tornarem uma ameaça aos interesses ocidentais, Salem acredita que esses grupos poderiam acabar sendo os alvos dos ataques dos EUA.

O especialista acrescenta que Washington e o governo do Iraque já negociam a permanência de aviões não tripulados americanos em solo iraquiano, o que significaria um apoio americano a Bagdá em sua luta contra combatentes da Al Qaeda dentro de seu próprio país. "Acredito que é possível que os EUA façam acordos com poderes regionais e também com a oposição síria, para fazer o mesmo em regiões do país onde há atuação da Frente al-Nusra e da Al Qaeda", afirmou.