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As contradições da morte de Sandra Bland

23 de julho de 2015

Jovem negra foi encontrada morta três dias depois de ser presa no Texas, por não dar sinal ao mudar de faixa e se recusar a apagar um cigarro. Há divergência nos documentos sobre estado de saúde, e família nega suicídio.

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Foto: picture-alliance/AP Photo/P. Sullivan

A recente morte da jovem negra Sandra Bland, de 28 anos, dentro de um presídio no Texas, gerou uma onda de revolta nos Estados Unidos. Ela foi detida no dia 10 de julho por um policial rodoviário após não dar sinal ao mudar de faixa e se negar a apagar um cigarro. Três dias depois, a jovem foi encontrada morta dentro da cela. Autoridades alegam que ela se enforcou com uma sacola plástica, mas familiares e amigos discordam da versão oficial.

Documentos divulgados nesta quarta-feira (22/07) pelo presídio Waller County, a cerca de 100 quilômetros de Houston, apresentam contradições. Num depoimento, Bland conta a funcionários que sofre de epilepsia e toma um medicamento contra a doença. Já num questionário preenchido por ela, foi marcada a opção "não" para a pergunta sobre a ingestão de medicamentos.

Os papéis afirmam que Bland já havia tentado o suicídio, após perder um bebê, mas divergem sobre a data do episódio. Um dos questionários indica que a jovem tomou medicamentos após o incidente, ocorrido em 2015, enquanto um formulário preenchido por outro funcionário do presídio diz que a tentativa de suicídio ocorreu em 2014.

Um dos papéis indica que Bland teve pensamentos suicidas no ano passado; outro diz que este não é o caso. No entanto, de acordo com os documentos, Bland não tinha pensamentos suicidas quando foi presa.

Nesta quarta-feira, a rede ABC News disse ter tido acesso a uma mensagem de voz deixada por Bland a uma amiga quando estava na cadeia. Na gravação, ela diz ainda estar "sem palavras" diante do ocorrido. "Como mudar de faixa sem dar sinal levou a tudo isso?", questiona.

Vídeo gera indignação

Um vídeo divulgado nesta semana pelo Departamento de Segurança Pública do Texas mostra como Bland foi detida pelo oficial de patrulha rodoviário Brian Encinia.

O policial parou Bland por ela não ter dado a sinalização correta e, depois de checar seus documentos, exige que ela jogue o cigarro fora. A jovem se recusa sob o argumento de que tem o direito de fumar dentro do próprio carro. O guarda a força a deixar o veículo, aponta uma arma de choque elétrico e grita: "Vou te acender."

Em depoimento divulgado nesta terça-feira, Encinia disse que usou a força para render Bland, já que ela não parava de resistir. Ele efetuou a prisão por agressão contra funcionário público.

Imagens das câmeras de segurança do presídio Waller County mostram que houve um intervalo de uma hora e meia entre a última checagem de rotina na cela de Bland e o momento em que ela foi encontrada morta, por volta das 9h (horário local) do dia 13 de julho.

O senador do estado do Texas Royce West afirmou que Bland não deveria ter sido detida. "Depois que se vê o vídeo [da detenção], acho que se concorda que Sandra Bland não merecia ser presa", afirmou, depois de se encontrar com a família da jovem. Encinia foi colocado em licença administrativa.

Protestos

Familiares e amigos de Bland protestaram depois da divulgação das imagens. Eles não acreditam na versão de suicídio e argumentam que a jovem estava ansiosa para começar um novo trabalho na universidade onde havia se formado em 2009.

Milhares de pessoas demonstraram indignação nas redes sociais com as hashtags #WhatHappenedtoSandyBland ("O que aconteceu com Sandy Bland") e #JusticeforSandy ("Justiça para Sandy"). O corpo deve ser enterrado no próximo sábado nos arredores de Chicago.

A morte de Bland ocorre em meio a uma série de casos de brutalidade policial contra negros nos Estados Unidos. Em abril, um policial da Carolina do Sul foi preso sob a acusação de assassinar um motorista negro de 50 anos, Walter Scott. Em agosto do ano passado, o assassinato do adolescente Michael Brown, em Ferguson, havia motivado uma série de protestos violentos. O presidente Barack Obama classificou a morte de jovens negros pela polícia como um "problema nacional."

KG/ap/rtr/dpa