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Arábia Saudita dá resposta dura a crítica do Canadá

Wesley Dockery av
8 de agosto de 2018

Riad corta laços econômicos e expulsa embaixador canadense após exigências de Ottawa para libertação de ativistas de direitos humanos e das mulheres. Decisão tem caráter de exemplo, avalia especialista.

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Governo do príncipe Mohammed bin Salman está abalado no palco da política internacional
Governo do príncipe Mohammed bin Salman está abalado no palco da política internacionalFoto: picture-alliance/dpa/R. Jensen

Nesta segunda-feira (06/08), a Arábia Saudita deu ao embaixador do Canadá, Dennis Horak, 24 horas para deixar o país, declarando-o persona non grata. Além disso, anunciou que estariam suspensas todas as novas transações econômicas com a nação norte-americana.

O anúncio veio em reação a uma postagem da ministra canadense do Exterior, Chrystia Freeland, na semana anterior, no Twitter. Segundo ela, "o Canadá está seriamente preocupado com novas prisões da sociedade civil e de mulheres ativistas na Arábia Saudita, inclusive de Samar Badawi," e urge Riad a "libertá-las imediatamente".

A liderança saudita denunciou o tuíte como uma "interferência gritante nos assuntos domésticos do país", assim como "uma grave, inaceitável afronta às leis e ao processo judicial do reino". Além disso, anunciou o corte de milhares de bolsas de estudo no Canadá, enquanto a companhia aérea nacional Saudia pretende suspender os voos para Toronto a partir de 13 de agosto.

Apesar desse revés diplomático, Freeland manteve sua crítica da situação dos direitos humanos no reino árabe. "Mantemos o que havíamos dito. Vamos sempre nos manifestar em favor dos direitos humanos e das mulheres."

Apoio árabe

Diversos governos da região expressaram apoio ao reino na disputa com o Canadá. "Só o que podemos fazer é nos colocar do lado da Arábia Saudita em defender sua soberania e tomar as medidas necessárias para proteger suas leis", escreveu no Twitter Anwar Gargash, ministro do Exterior dos Emirados Árabes Unidos.

Samar Badawi é uma das ativistas sauditas cuja libertação imediata foi exigida pela ministra canadense do Exterior
Samar Badawi é uma das ativistas sauditas cuja libertação imediata foi exigida pela ministra canadense do ExteriorFoto: picture-alliance/dpa/A. Wiklund

Seu homólogo bareinita, Khalid bin Ahmed Al Khalifa, declarou, em comunicado: "O Bahrein lamenta a posição do Canadá, baseada em informação totalmente errônea, que nada tem a ver com a realidade in loco. Ele rejeita totalmente sua inaceitável intervenção nos assuntos internos sauditas."

O analista político saudita Mohammad bin Abdullah al-Zulfi, antigo membro do conselho Shura (equivalente ao parlamento do país), se disse "orgulhoso" da resposta do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman e seu governo a Ottawa: "A Arábia Saudita é um país forte e não precisa do Canadá, da Alemanha ou mesmo dos Estados Unidos."

"Fartos de críticas ocidentais"

Segundo Guido Steinberg, especialista em Oriente Médio do Instituto Alemão para Política Internacional e Segurança (SWP), seriam duas as razões para Riad reagir tão bruscamente às declarações da chefe da diplomacia canadense. Por um lado, a liderança saudita teria se tornado "insegura" e "paranoica"; mas também é possível que os sauditas estejam fartos das críticas ocidentais.

"Eles talvez queiram enviar a mensagem de que simplesmente não querem mais escutar esse tipo de coisa", observa Steinberg. Ele avalia que os sauditas pretendam usar o Canadá como exemplo para mostrar a outras nações ocidentais que é inaceitável criticar a política interna nacional. "Os sauditas são precipitados e um tanto inseguros, mas eles sabem que são um país importante."

Na opinião de Günter Meyer, diretor do Centro de Pesquisa do Mundo Árabe da Universidade de Mainz, o príncipe Bin Salman estaria tentando provar à população saudita que o governo ainda é eficaz na política externa.

A Arábia Saudita apoia rebeldes que estão perdendo a guerra contra o presidente Bashar al-Assad na Síria e suas Forças Armadas estão debilitadas pela guerra sangrenta e custosa que travam no vizinho Iêmen. "Mohammed bin Salman está se enfraquecendo em múltiplas áreas de sua política externa, então aceitar um crítica tão dura assim do Canadá enfraqueceria sua posição ainda mais."

A opinião das mulheres sauditas sobre poder dirigir

Meyer afirma que o Canadá tem muito a perder ao se aferrar à crítica feita: "Do ponto de vista canadense, é um revés muito sério." Os estudantes que tiveram revogadas as bolsas de estudo para o Canadá recorrerão aos EUA ou ao Reino Unido para perseguir seus estudos superiores, o que seria uma perda para as universidades canadenses.

O comércio anual entre os dois países perfaz aproximadamente 3 bilhões de dólares, em grande parte em compras de armamentos do Canadá pelos sauditas. Teoricamente, a Arábia Saudita poderia compensar essas perdas comprando mais material bélico dos EUA, por exemplo, com provável impacto sobre os lucros da indústria de defesa canadense.

Alemanha pode ser a próxima?

Em novembro de 2017, Riad convocou o embaixador de Berlim depois que o então ministro alemão do Exterior, Sigmar Gabriel, comentou que o primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, estaria sendo mantido contra a vontade na Arábia Saudita. Gabriel também fez comentários considerados críticos sobre a guerra saudita no Iêmen. Consta que, em decorrência do incidente, a liderança do país árabe teria colocado empresas alemãs numa lista negra.

Indagado se Riad poderia expulsar o embaixador alemão caso Berlim criticasse a política nacional, Steinberg foi categórico: "Com toda a certeza. Eles querem tentar sustar toda crítica ocidental a suas políticas."

No momento, a Arábia Saudita sequer tem um embaixador para a Alemanha e não está especialmente interessada em fortalecer as relações com os países europeus na mesma medida que fez com a administração do presidente americano, Donald Trump. "O príncipe herdeiro Mohammad bin Salman não está mais confiando nos europeus ou no Canadá", diz Steinberg.

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