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Pintura

DPA (ca)17 de novembro de 2008

No auge de sua glória artística, o artista espanhol Miquel Barceló, hoje comparado a Pablo Picasso e Joan Miró, vai inaugurar um dos mais importantes trabalhos de sua carreira na sede da ONU em Genebra.

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O artista espanhol Miquel Barceló e sua obra, que consumiu 35 toneladas de tintaFoto: picture-alliance/ dpa

Somente a confusão política em torno dos custos tem sido capaz de ofuscar a importância da obra, cuja cerimônia de inauguração, nesta terça-feira (18/11), contará com a presença do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, do rei da Espanha, Juan Carlos, e do primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero.

Barceló, que tem sido comparado a Pablo Picasso (1881-1973) e Joan Miró (1893-1983), trabalhou 13 meses na reforma de uma sala que a partir de agora será conhecida como Câmara dos Direitos Humanos e Aliança das Civilizações.

O projeto da Aliança das Civilizações foi lançado, em 2006, por Zapatero e pelo primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, para fomentar o diálogo entre o Ocidente e o mundo muçulmano.

Uma nova obra de arte

Die Sixtinische Kapelle
Obra de Barceló é comparada à Capela SistinaFoto: AP

O teto criado por Barceló tem sido comparado com o trabalho de Michelangelo na Capela Sistina. Barceló transformou o espaço numa gruta com milhares de estalactites multicoloridas e invadida pelo mar violento.

"A gruta é uma metáfora da ágora, o primeiro lugar de reunião dos humanos, a grande árvore africana sob a qual as pessoas sentam para conversar, e o único futuro possível: diálogo, direitos humanos", Barceló explicou.

"O mar é o passado, a origem das espécies e a promessa de um novo futuro: emigração, viagem", acresceu. O artista de 51 anos descreveu seu novo trabalho como "partindo para o infinito, trazendo uma multiplicidade de pontos de vista", a exemplo de O Livro de Areia (1975), obra do falecido escritor argentino Jorge Luis Borges, cuja tumba Barceló visitou durante sua estada em Genebra.

A arte realmente não tem preço?

Poucos questionam o valor artístico da obra de Barceló, mas seu custo tem causado controvérsia. A reforma da sala custou quase 20 milhões de euros. Patrocinadores espanhóis financiaram 60% desta quantia. O resto foi pago pelo governo, incluindo 500 mil euros provenientes de um fundo de ajuda ao desenvolvimento.

Spanien Außenminister Miguel Angel Moratinos hält Pressekonferenz in Damaskus
Moratinos acha que arte não tem preçoFoto: AP

"A arte não tem preço", disse o ministro espanhol do Exterior, Miguel Ángel Moratinos, em alusão à crítica da oposição conservadora que falou que o dinheiro deveria ter sido usado para a vacinação infantil ou para abrir poços artesianos em países em desenvolvimento. Mas o governo espanhol rebateu as críticas, insistindo que o dinheiro não veio de fundos que teriam sido usados para tais projetos. Falar que o dinheiro foi "roubado dos pobres" não reflete a realidade, afirmou Barceló.

"Lama que misturo com uma vareta".

A equipe de Barceló englobava 20 especialistas, que variavam desde um espeleologista (pesquisador de cavernas) e um cozinheiro até engenheiros e arquitetos. Equipamentos especiais foram construídos para criar as estalactites artificiais que chegam a pesar mais de 50 quilos. Na obra de 1.400 metros quadrados de superfície foram usadas 35 toneladas de tinta.

A carreira de Barceló, que já trabalhou com quase todos os tipos de técnicas artísticas – variando da pintura e escultura até a perfomance artística –, alcançou a fama muito cedo. Ele é hoje considerado um dos principais artistas contemporâneos mundiais.

Dividindo seu tempo entre sua terra natal Maiorca, Paris e o Mali, na África Ocidental, Barceló absorveu um grande leque de influências, como o barroco europeu e estilos africanos.

Kunst in den Hallen der UN in Genf Miquel Barcelo
Miquel Barceló trabalhando em sua obra na sede da ONU em GenebraFoto: picture-alliance/dpa

"Achar que a arte fez muito progresso entre [as pinturas de caverna de] Altamira e Cézanne é uma especulação vã e ocidental", afirmou o artista, que também descreve a pintura como "lama que misturo com uma vareta".

Arte de Barceló é "ato de resistência"

Fascinado pelos processos de transformação na terra e no mar, Barceló vê sua arte como um "caos organizado" e como um "ato de resistência".

Entre outros projetos seus está uma coleção de murais modernos de terracota criados para uma capela gótica na catedral de Palma de Maiorca, que foi inaugurada em 2007.

Com tantos projetos veneráveis, o artista premiado não quer ser reconhecido, no entanto, como um "dinossauro oficial". "Eu não quero passar minha vida fazendo megaprojetos ou imensos trabalhos faraônicos", afirmou.