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Política deverá dominar Jornada Mundial da Juventude

Astrid Prange de Oliveira (ca)15 de julho de 2013

Cerca de dois milhões de pessoas estão sendo aguardadas no Rio para a Jornada da Mundial da Juventude no final de julho. Fiéis brasileiros esperam bênção do papa para reivindicações políticas e reformas na Igreja.

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Foto: picture alliance / GES-Sportfoto

Duas semanas após o fim da Copa das Confederações, o Brasil se prepara para sediar o próximo grande evento: a Jornada Mundial da Juventude. Cerca de dois milhões de pessoas – a maioria proveniente da América Latina – estão sendo esperadas para o megaevento católico de 23 a 28 de julho, no Rio de Janeiro.

O festival religioso promete ser um evento altamente político, já que muitos jovens que saíram às ruas de todo o Brasil para protestar contra a corrupção, gastos excessivos com a Copa do Mundo e para pedir reformas estruturais no país não vão apenas aclamar o papa Francisco, que deverá aterrissar no Rio de Janeiro no dia 22 de julho. Os jovens fiéis brasileiros esperam a bênção do líder da Igreja Católica para seus desejos de reformas na política.

Lista para o papa

Durante as manifestações, que começaram por causa do aumento de tarifas de transporte público e depois se espalharam por todo o país, o estudante carioca de biologia Walmyr Júnior postou na rede social Facebook apelos do braço brasileiro da associação católica internacional Pastoral da Juventude e do movimento estudantil brasileiro. Walmyr trabalha como voluntário na organização da Jornada Mundial da Juventude. Durante audiência política internacional no dia 25 de julho, ele entregará uma lista de exigências ao papa junto a jovens de outras partes do mundo.

Weltjugendtag in Rio de Janeiro 2013
Walmyr Júnior, voluntário da organização da Jornada da Juventude, na laje de sua casa no Complexo da MaréFoto: Jürgen Escher/Adveniat

"Queremos mostrar que a fé cristã pode mudar a sociedade", explicou Walmyr Júnior, em entrevista à DW. "Ela pode assegurar que haja menos violência", afirmou o estudante de 28 anos, que mora no Complexo de favelas da Maré. No início de julho, 5.500 pessoas (segundo cálculos da PM) participaram de um ato contra uma operação policial no complexo, realizada no final de junho e que resultou na morte de dez pessoas, entre elas um policial. O Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da polícia carioca havia invadido a favela em busca de alguns homens que aproveitaram uma manifestação nas proximidades para protagonizar roubos e assaltos.

Voz das ruas

As contestações à violência policial arbitrária e à corrupção têm a bênção da Igreja Católica. "A maioria dos jovens que foram às ruas quer um país novo, justo e solidário", explicou o arcebispo do Rio de Janeiro, Orani João Tempesta, recentemente na rede Globo de televisão. "Querem uma proposta mais representativa. Creio que o cristão é aquele que tem uma espiritualidade, mas também tem a sua consciência política."

Weltjugendtag in Rio de Janeiro 2013
O Arcebispo do Rio, Dom Orani João TempestaFoto: Bastian Henning/Adveniat Penha

O arcebispo do Rio acredita que os protestos no Brasil e o novo papa latino-americano irão aumentar o interesse pela Jornada Mundial da Juventude. Segundo o arcebispo, muitos fiéis europeus se perguntam como vivem os jovens na América Latina, como veem o alto nível de pobreza na sociedade e como conseguem obter uma educação.

Quando as manifestações se espalharam pelo Brasil, em junho, durante a Copa das Confederações de futebol, a Confederação Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) publicou nota oficial declarando "solidariedade e apoio" aos protestos. Para os bispos, o movimento de contestação "desperta para uma nova consciência" e mostrou que é "não é possível mais viver num país com tanta desigualdade."

Na Jornada Mundial da Juventude, a Igreja Católica deverá dar ênfase a atividades sociais. O papa Francisco deverá se encontrar com jovens presos e também com moradores de favelas. Na agenda, estão também a visita ao hospital Hospital São Francisco de Assis na Providência e a inauguração do um centro de tratamento para dependentes de drogas, financiado com a ajuda de doações da Alemanha.

Quem reforma a Igreja?

O bispo alemão Bernhard Bahlmann vive no Brasil desde 1983 e busca novas formas de comunicação a partir da Diocese de Óbidos, no Pará, onde trabalha desde 2009. Bahlmann disse estar convencido de que "é preciso ir até os jovens" e que os tempos em que os fiéis iam até a Igreja pertencem ao passado. "Temos que ir até as pessoas, independente do que fazem e de quem sejam".

Weltjugendtag in Rio de Janeiro 2013
Revolução silenciosa: Gabriele Pacheco e Miguel Calazans, da Pastoral da Juventude no Rio de JaneiroFoto: Jürgen Escher/Adveniat

O carioca Walmyr Júnior concorda. Já durante a Jornada Mundial da Juventude de 2011, em Madri, onde trabalhou como voluntário, o estudante de biologia passou a querer reformas também na Igreja Católica. "O celibato não é um dogma, mas uma recomendação, [uma regra que] pode mudar", exemplificou.

Porém, a Igreja Católica na América Latina parece estar muito longe de uma revolução. Mudanças teológicas profundas não aparentam estar no topo da lista de uma organização que, no cotidiano, luta com a falta de padres e com o afastamento de fiéis por causa de fatores como a moral sexual católica. Segundo o IBGE, entre 2000 e 2010, a porcentagem de católicos na população brasileira caiu de 74% para 64%. No mesmo período de tempo, a proporção de evangélicos subiu de 15% para 22% da população.

Para Walmyr, a falta de padres pode ser corrigida com mais direitos de participação para leigos na Igreja, por exemplo. Durante a Jornada da Juventude, ele anseia por um rejuvenescimento da Igreja e vê a questão de forma pragmática. "A Igreja não pode ser retrógrada, porque eu pertenço à Igreja, e eu falo por ela!", diz, confiante.