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Após cinco dias no cargo, presidente do Peru renuncia

15 de novembro de 2020

Manuel Merino assumiu a presidência peruana após impeachment de Martín Vizcarra, mas onda de protestos populares denunciou golpe parlamentar. Violência policial contra manifestantes elevou pressão por renúncia.

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Manuel Merino
Foto: Luka Gonazles/AFP

Apenas cinco dias após assumir o cargo, o presidente do Peru, Manuel Merino, anunciou sua renúncia neste domingo (15/11), pressionado pelos maiores protestos em décadas no país.

"Quero que todo o país saiba que eu apresento minha renúncia", afirmou Merino em um pronunciamento na televisão, que foi bastante celebrado em Lima, capital peruana.

O breve presidente disse, contudo, que agiu dentro da lei quando foi empossado como chefe de Estado na última terça-feira, apesar de manifestantes sugerirem que o Congresso encenou um golpe parlamentar ao retirar do poder o então presidente Martín Vizcarra.

"Eu, como todo mundo, quero o melhor para o nosso país", declarou Merino. O pronunciamento ocorreu minutos depois que o Congresso do país pediu ao presidente que deixasse o cargo, ou poderia sofrer uma moção de censura.

Os parlamentares devem agora nomear um novo chefe de Estado – que será o terceiro do país sul-americano em uma semana – em uma sessão marcada para as 18h (hora local).

Merino afirmou que, para evitar um "vácuo de poder" nesse ínterim, os 18 ministros que ele empossou na quinta-feira permanecerão no cargo temporariamente, embora praticamente todos eles tenham renunciado ao cargo após uma repressão policial violenta aos protestos no sábado.

Logo após o anúncio de Merino neste domingo, as ruas de Lima voltaram a se encher de manifestantes, batendo panelas e gritando slogans em comemoração à renúncia.

O Peru vive manifestações diárias, com dezenas de milhares de pessoas nas ruas, desde que, na última segunda-feira, o então presidente Vizcarra foi retirado do poder pelo Congresso, em processo de impeachment, sob alegações de corrupção. Ele nega as acusações.

Os manifestantes dizem que foram às ruas não porque defendem o presidente destituído, mas porque consideram que os grupos políticos que promoveram seu impeachment procuraram assumir a chefia de Estado para defender interesses pessoais e se blindar do combate à corrupção.

No sábado, os manifestantes lotaram praças no centro de Lima. As manifestações começaram pacificamente, mas se intensificaram ao cair da noite. Dois jovens foram mortos em confrontos com a polícia, ambos baleados com vários tiros.

Uma rede de grupos de direitos humanos denunciou ainda que 112 pessoas ficaram feridas nos confrontos, e o paradeiro de outros 41 manifestantes era desconhecido.

Após a violência, cresceu a pressão para que Merino – ex-presidente do Congresso que liderou o impulso para impugnar Vizcarra – deixasse o cargo.

"O presidente Merino deveria apresentar sua demissão neste momento", disse o novo chefe do Congresso, o legislador de centro-direita Luis Valdez, neste domingo. "Não se pode ignorar a vontade da população", disse o parlamentar, que também anunciou que deixará o cargo de presidente do Parlamento.

As críticas de Valdez, que votou a favor da destituição de Vizcarra na origem da crise política, somaram-se às de vários políticos peruanos, diante da contestação nas ruas de milhares de pessoas desde terça-feira e da violenta repressão policial, já denunciada pela Anistia Internacional (AI).

"Os vídeos verificados digitalmente pela Anistia Internacional são provas contundentes da violência perpetrada pela polícia contra a população que ela devia proteger", disse a ONG em comunicado, na tarde de sábado. Segundo a organização, houve pelo menos 15 feridos por armas de fogo.

A AI denunciou que "vários agentes da polícia dispararam diretamente contra pessoas durante uma manifestação" na noite de 12 de novembro, perto do Tribunal Superior de Justiça de Lima.

O Parlamento destituiu na última segunda-feira Vizcarra por "incapacidade moral", na segunda moção de censura apresentada contra ele em meses. A moção contra o então presidente, popular por sua intransigência contra a corrupção, teve como motivo supostos subornos recebidos por ele em 2014, na época governador.

Então presidente do Parlamento, Merino assumiu um dia depois o comando do governo, e deveria permanecer no posto até o final do mandato de Vizcarra, 28 de julho de 2021.

EK/ap/afp/efe