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Após reforma milionária, Admiralspalast reabre com "Ópera dos Três Vinténs"

Carlos Albuquerque10 de agosto de 2006

Que outro gênio poderia ressuscitar um patrimônio cultural berlinense além de Brecht? Abrigando salas de teatro, clube, café e até piscina, o Admiralspalast reabre após dez anos com a "Ópera dos Três Vinténs".

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Admiralpalast deverá ressuscitar o glamour da antiga BerlimFoto: Admiralspalast
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Cartaz da primeira apresentação da 'Ópera dos Três Vinténs'

Com a estréia da nova montagem da Ópera dos Três Vinténs de Bertolt Brecht, será reaberto nesta sexta-feira (11/08), o Admiralspalast, teatro localizado ao lado da estação ferroviária Friedrichstrasse em Berlim, na rua do mesmo nome.

A inauguração dá continuidade a 133 anos de história de um patrimônio cultural e de lazer berlinense, já que o espaço também abriga uma piscina e um clube, que serão reabertos em breve.

Poucos edifícios acompanharam de forma tão marcante a evolução e a transformação de uma cidade e de uma sociedade como o Admiralspalast. Construído como balneário público na segunda metade do século 19, em suas muitas reformas, o prédio do Admiralspalast acompanhou guerras, governos, tendências e foi palco para apresentação de grandes nomes.

A atual montagem da peça de Brecht tem ninguém menos do que Klaus Maria Brandauer na direção. Encenada pela primeira vez em 1928, a Ópera foi a escolha ideal para ressuscitar o espírito de teatro de variedades, mantido pelo Admiralspalast durante os gloriosos e turbulentos anos 20 de Berlim.

Um passado de sal e gelo

Berlin, Admiralspalast / Foto 1940
Fachada resiste até hojeFoto: picture alliance /dpa

Tudo começou em 1873 quando, num canteiro de obras na Friedrichstrasse, no centro de Berlim, foi encontrado um poço artesiano. Como uma das primeiras piscinas públicas de Berlim, foi aberto então o Admirals-Gartenbad (Balneário Admiral). Entre 1889 e 1890 o balneário foi ampliado com a construção de um prédio de três andares e dezenas de piscinas.

Mas o sucesso durou somente 20 anos. Além da crescente concorrência, o aumento do número de moradias com suas próprias banheiras provocou a diminuição dos visitantes do Balneário Admiral, condenando o antigo prédio à demolição.

Em seu lugar surgia em 1911 o Palácio do Gelo de Berlim, um luxuoso prédio em estilo pompeiano, cujas cinco colunas dóricas da fachada chamam a atenção dos transeuntes da Friedrichstrasse até hoje. Termas luxuosas, um café romano, cinema e pistas de boliche completavam o requintado complexo que chegou a se tornar, durante a Primeira Grande Guerra (1914-1918), o único ginásio para esportes de gelo no mundo, segundo informação do próprio Admiralspalast.

Após a Primeira Guerra, menos corpo, mais diversão e camarote de Hitler

Blick auf die restaurierte Fassade des Admiralpalast Theaters am Montag, 7. August 2006 in Berlin.
Fachada do pátio do teatroFoto: AP

Como conseqüência da inflação e desemprego pós-guerra, as pessoas começaram a procurar mais as formas de diversão como escapismo, no lugar das atividades corporais. Em 1922, a pista de gelo tornou-se o Welt-Varieté, um teatro de variedades para mais de mil espectadores em estilo art déco, transformado um ano mais tarde por seu novo diretor em teatro de revistas, o Teatro no Admiralspalast.

O prédio sofre uma nova reforma em 1930, sendo sua capacidade ampliada para 2,2 mil lugares. Os anos de 30 não foram fáceis para o teatro na Friedrichsstrasse. Depois de duas falências e três reaberturas, ele é fusionado ao Teatro Metropol da Behrensstrasse, onde hoje se encontra a Komische Oper.

No mesmo ano, Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, ordena sua reforma para um "espaço de lazer belo e festivo". As termas são fechadas e um camarote, que até hoje existe, é construído especialmente para Hitler. A ornamentação art déco é substituída por uma decoração classicista mais sóbria, em tons de dourado e vermelho.

Brecht, operetas e musicais

Por ter sido pouco danificado durante a Segunda Guerra, o Admiralspalast abrigou interinamente até 1955 a Deutsche Staatsoper, localizada na avenida Unten den Linden. Em 1946 foi palco da apresentação do primeiro filme alemão pós-guerra e, no ano seguinte o violinista de origem judaica Yehudi Menuhin lá se apresentava.

Em 1948, Bertolt Brecht e Helene Weigel participavam de uma manifestação de paz da Liga da Cultura no Admiralspalast. Em 1951, a peça O interrogatório de Lúculo de Brecht e Paul Dessau foi censurada pelos comunistas. Com seu texto atenuado e o título modificado para A condenação de Lúculo passou a fazer parte do repertório da Staatsoper.

Em 1955, o Teatro Metropol no Admiralspalast foi inaugurado como casa de espetáculos musicais e operetas da antiga Berlim Oriental. Com a reunificação em 1990, perdeu grande parte de seu público, entrando na lista de "liquidação" da cidade de Berlim. O teatro tombado pelo patrimônio histórico fechou suas portas em 1997.

O gênio do lugar

Genius loci eram como os romanos chamavam o espírito que habitava em cada lugar. Um ensinamento perdido ao longo dos séculos, principalmente através do Iluminismo e do domínio da razão. O gênio do lugar caracterizava e, de uma certa forma, protegia o espaço que habitava, afirmavam os romanos.

Admiralspalast Brecht Denkmal
Monumento a Brecht: o gênio do AdmiralspalastFoto: Michael Bienert

Para se ter uma idéia, até hoje em países como a Islândia, aonde o Iluminismo chegou muito tarde, há um encarregado do governo para detectar se um duende habita um lugar ou não, o que já ocasionou o desvio de muitas estradas. Ao observar a história do Admiralspalast, que por muitos anos permaneceu um prédio solitário na Friedrichsstrasse, tantas vezes reformado, sobrevivente de guerras e depressões, podemos concluir que seu genius loci deve ser bastante especial.

Entretanto, na sua reabertura como espaço cultural e de lazer, em 11 de agosto de 2006, este gênio se chamará Bertolt Brecht.