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Amor: mera questão de química?

(ns)30 de janeiro de 2003

Uma série de substâncias químicas estão diretamente relacionadas com o amor e os sentimentos. O tema é abordado numa exposição sui generis na capital alemã: "O Beijo – Magia e Química".

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O beijo não só é mágico, como faz bem à saúdeFoto: AP

Um beijo pode ser tímido, provocante, puro, passional ou simplesmente inesquecível, como o primeiro de todos. Quintessência do amor, quem é que em pleno deleite da emoção vai lá pensar em serotonina, feniletilamina ou, pior ainda, em adenosina trifosfato? E quantos apaixonados imaginam que o beijo, além de deixar feliz, é bom para a saúde? A exposição "O Beijo – Magia e Química", inaugurada em Berlim nesta quinta-feira (30/01) ajuda a esclarecer como os processos químicos no nosso organismo provocam e influenciam os sentimentos.

A exposição, que depois será exibida em Leipzig e Stuttgart, faz parte de uma trilogia que convida a descobrir os mistérios do corpo humano. Ao mesmo tempo, inaugura o "Ano da Química", uma iniciativa do Ministério da Educação, por ocasião do segundo centenário do nascimento do químico alemão de maior renome internacional, Justus von Liebig.

Dos cânticos de Salomão aos beijos de Hollywood

Quase todas as línguas encontraram sua própria palavra para designar o beijo. O alemão Kuss aproxima-se mais do inglês kiss, o baiser francês, do nosso beijo e do bacio italiano. Em albanês é bem diferente: puthje e os vietnamitas também beijam, mas chamam o que então acontece de danh to. Universal, o beijo está presente na Bíblia e a exaltação do amor, nos Cânticos de Salomão, começa logo com o verso "Ah! Beija-me com os beijos de tua boca".

O grande escritor romano Ovídio descreve a forma correta de se beijar na sua Ars Amatoria (A arte do amor), provando que o beijo interessou os poetas desde que literatura existe. Os artistas também se deixaram inspirar pelo gesto de amor, escultores como Auguste Rodin, pintores como Gustav Klimmt, cujo quadro "O beijo" é uma das representações mais belas e transcendentes e, desde que o cinema existe, diretores sem conta encenaram os mais emocionantes beijos de amor.

Química começa a desvendar alquimia do amor

Plakat Der Kuss - Jahr der Chemie
Cartaz da exposição

No entanto, foi só a partir dos últimos 30 anos que a química começou a desvendar os mistérios do beijo e dos sentimentos. Hoje sabe-se que os hormônios têm tudo a ver com isso e que não haveria paixonite sem serotonina, também chamada de hormônio da felicidade ou a dopamina, que provoca a euforia amorosa. Os hormônios sexuais, a testosterona principalmente, também fazem a sua parte, provocando o desejo sexual.

"Agora sabemos muita coisa sobre os hormônios e seus efeitos, no entanto ainda não conhecemos como são os circuitos e conexões no cérebro", admite Klaus Hartmann, que concebeu a exposição de parte do Ministério da Educação e Pesquisa. A pesquisa científica sobre o beijo e os sentimentos fascina o médico de Frankfurt há um bom tempo. "Poucas áreas limítrofes entre a alma e o corpo são tão instigantes como essa", comenta, entusiasmado.

Cupido embebe suas flechas em hormônios

Responsável pelo desejo e a paixão não é o tão citado e tão desgastado coração dos versos de amor. Quem entra necessariamente nessa jogada são as células nervosas – cerca de 100 bilhões – e uns mil neurotransmissores. Funcionando como sinal, um beijo sedutor leva a um derramamento de serotonina no cérebro que, por sua vez, deixa a pessoa feliz, mais relaxada e equilibrada. Já o hormônio dos que estão apaixonados – a feniletilamina – atua como a flecha de Cupido: provoca o interesse sexual pelo objeto do desejo e euforia, com direito a coração disparando e sensação de estar pisando nas nuvens. A produção do combustível celular ATP (adenosina trifosfato) acelera-se e, com isso, há mais energia para o coração bater disparado e os lábios formarem o biquinho para o próximo beijo.

Junges Paar küsst sich
Foto: BilderBox

Os visitantes da exposição em Berlim, porém, não precisam temer serem confrontados com fórmulas mil e explicações maçantes como nas aulas de química que omitem suas aplicações e implicações. Um túnel multimídia permite que os visitantes entrem no laboratório do corpo humano. Ali pode-se ver e ouvir que reações um beijo provoca em frações de segundo: a respiração torna-se mais ofegante, o pulso fica mais forte, os vasos sanguíneos se dilatam, melhorando a circulação.

Beijo melhor que chocolate

Os cientistas comparam o beijo a uma injeção de energia, capaz de fortalecer o sistema imunológico e diminuir o estresse. Isso torna-o extremamente saudável. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos, por exemplo, comprovaram que as pessoas que de manhã se despedem do seu amor com um beijo têm mais êxito em sua carreira, provocam menos acidentes e raramente vão ao médico. Um beijo apaixonado, de um ponto de vista meramente científico, provoca a mesma sensação de felicidade do que ingerir 25 gramas de chocolate, com uma vantagem decisiva frente à iguaria: não engorda. Por isso, cartazes distribuídos no recinto da exposição permitem expressamente o beijo, que qualquer médico de sã consciência também poderia receitar.

Os alemães, segundo uma pesquisa, dão entre 2 e 3 beijos por dia. Quem chegar aos 70 anos, terá passado uns 76 dias dedicado à atividade. Outras pesquisas desfazem ainda qualquer temor de que os beijoqueiros ganhem rugas mais cedo que os demais. Ao contrário dos que economizam seus lábios e sentimentos, eles movimentam os 34 músculos do rosto nesse único gesto, esticando assim a pele.

A exposição estará em Berlim (Unter den Linden, 74) até 9 de fevereiro, sendo exibida então em Leipzig, em 22/23 de março e depois em Stuttgart, de 27 a 30 de março.