1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Ambivalente e genial, Richard Strauss nascia há 150 anos

Adelheid Feilcke (ca)11 de junho de 2014

Compositor, maestro e mestre da autopromoção nasceu há 150 anos em Munique. Sua atitude dúbia frente ao nazismo continua sendo uma mancha em sua biografia.

https://p.dw.com/p/1CGiO
Richard Strauss
Foto: picture-alliance/dpa

Quem não conhece a melodia acompanhada de batidas de tímpanos, em volume crescente, com que o diretor Stanley Kubrick inicia o clássico 2001: Uma odisseia no espaço? Richard Strauss escreveu essa introdução, chamada O nascer do sol, para o seu poema sinfônico Assim falou Zaratustra. É com ela que Strauss inicia a sua interpretação sonora do texto do filósofo Friedrich Nietzsche. Kubrich aproveitou a força sensorial e metafísica dessa obra-prima da composição musical para iniciar o seu filme, ilustrando a imagem do sol nascente vista do espaço.

O nascer do sol é considerada uma das aberturas mais geniais e também uma das mais conhecidas da história da música. Para o especialista Walter Werbeck, que por ocasião do sesquicentenário publicou um Manual sobre Richard Strauss, em sua música, o compositor combinou efeitos sensoriais e brilho orquestral com muita energia e vigor: "Uma música que parece anunciar uma nova era musical e que, em termos de técnica orquestral e sonora, superou tudo – mesmo Wagner – que se podia imaginar até então."

Richard Strauss nasceu em Munique, em 11 de junho de 1864, vindo a falecer em 1949. No ano de seu sesquicentenário, as suas óperas, obras para orquestra e canções podem ser ouvidas em toda parte. Seus poemas sinfônicos ricamente orquestrados, suas canções, sua música de câmara e, principalmente, suas óperas mais conhecidas, como Arabella, Salomé, Electra e A mulher sem sombra, mas também os trabalhos menos populares, de um total de 16 obras para o palco, são indispensáveis nos palcos do mundo.

Precursor da autopromoção

Strauss tinha um senso infalível para aquilo que poderia ajudar a sua música a fazer sucesso, empreendendo uma forma de marketing muito moderna. Em entrevista à DW, Daniel Ender, especialista que neste ano de jubileu publicou o livro Richard Strauss: mestre da encenação, chamou o compositor de "protótipo de homem de relações públicas".

Richard Strauss
Richard Strauss como jovem compositorFoto: gemeinfrei

"Ele cuidou para que sua imagem se tornasse pública. Ele conseguiu isso através da criação de uma rede de jornalistas amigos, que transmitiam a imagem de alguém positivo e modesto e que também debatiam obras vindouras – e apresentavam detalhes de tal forma que a opinião pública ficava curiosa."

O uso de instrumentos musicais exóticos, como a máquina de vento em A sinfonia alpina, já havia sido divulgado com antecedência pela imprensa, "porque ele [Strauss] sempre teve um talento especial para isso."

Entre os maiores – e calculados – escândalos e sucessos de Strauss está sem dúvida a ópera Salomé. Com o erotismo sedutor-pertubador na música e na narrativa, ela foi o grande sucesso dos palcos em 1905 e 1906. Com seu poder mortal de sedução, a ópera e a mundialmente famosa Dança dos sete véus foram temporariamente proibidas – mesmo assim, fizeram sucesso nos palcos de toda a Europa. Para Werbeck, é uma característica de Strauss a forma como, nessa ópera, "ele combina o brilho orquestral e esta tecnologia sonora sofisticada (…) com uma trama que se serve de certo material sensacionalista".

Theaterzettel zur Premiere der Richard-Strauss-Oper Salome 1905
Panfleto teatral da estreia de 'Salomé' em 1905Foto: gemeinfrei

A figura bíblica de Salomé como uma mulher fatal e ninfeta infame levada para o palco: isso foi "muito moderno e, por isso, muito atraente". Por outro lado, em outras óperas, como O cavaleiro da rosa, Strauss trouxe ao palco um mundo passado, "que na estreia da peça, no ano de 1911, já não existia mais, mas que ainda passava uma visão um tanto nostálgica de um mundo aparentemente intacto."

Em prol de outros

Strauss também foi, durante muitos anos, um maestro atuante e promotor de outros compositores, foi ativo na política cultural e defendeu os direitos dos artistas. A fim de melhorar a posição social dos compositores, ele prestou uma contribuição para a mudança da legislação do direito autoral.

Esse compromisso também o levou a saudar alegremente o regime nazista, conta Werbeck, quando Hitler se tornou chefe do governo alemão em 1933. Com alguém que "se dizia fã de Wagner e se considerava um artista" à frente do poder, Strauss tinha esperanças de que "as necessidades da arte e principalmente da música obtivessem uma importância muito elevada."

Kalenderblatt Richard Strauss
O velho mestre em sua casa de campo em Garmisch-PatenkirchenFoto: AP

Strauss tornou-se presidente da Câmara de Música do Reich, uma autoridade central no sistema nazista e que reunia todos os criadores da área de música. Mas logo veio um racha. Segundo Ender, a razão foi "que, depois dos primeiros sucessos com o direito autoral, ele não pôde impor novos planos de reforma. Goebbels falava depreciativamente de Strauss, Hitler também. E a recíproca também era verdadeira". Além disso, Strauss discordava do regime em matéria de gosto e em questões culturais.

"Strauss valorizava muito a forma de tratamento civilizada e ficou decepcionado com os nazistas", afirma Ender. Não mais presidente da Câmara de Música do Reich, nos anos seguintes ele se arranjou com o regime, também para proteger a sua nora e netos judeus.

"Pelo que sabemos, ele não foi um nazista convicto, é preciso dizer isso claramente", sustenta Ender. Para ele, também durante o nazismo era particularmente importante "que suas peças estivessem suficientemente presentes nas programações e, por esse motivo, a sua atitude oportunista funcionou bem para o nacional-socialismo."

Deutschland Literatur Büchertisch zum 150. Geburtstag von Richard Strauss
No ano do sesquicentenário, não faltam biografias sobre StraussFoto: DW/A. Feilcke

O legado

Apesar de toda ambivalência de comportamento, Strauss sempre foi levado pela convicção de que era o último grande compositor da tradição musical ocidental. O seu forte ego carregava traços de empáfia, e a sua recusa rigorosa da música atonal e dodecafônica fez com que ele fosse rejeitado e desprezado pelos musicólogos e compositores do século 20.

De forma implacável, ele deu continuidade à tradição musical tardorromântica, décadas depois de ela ter sido declarada morta. No entanto, suas óperas e obras instrumentais sobreviveram a todas as hostilidades. Mesmo neste século, elas tocam e seduzem muitos amantes da música.