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Alemães reaprendem a cantar seu hino

(jp / av)29 de junho de 2006

O fato de a Copa acontecer na Alemanha está fazendo a população revalorizar o hino nacional. O passado nazista tabuizou os símbolos de patriotismo. Porém há outros hinos bem mais politicamente incorretos.

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Livres para cantar?Foto: AP

"Você canta ou só murmura o Hino?", perguntou o jornal berlinense BZ por ocasião do início da Copa do Mundo. E, por via das dúvidas, publicou o texto, para quem não o soubesse de cor. Na Alemanha, a suspeita se aplica a muita gente, pois, ao contrário de outros povos menos oprimidos pelo passado, ninguém no país aprende o cântico nacional no colo materno.

Contudo, mesmo que não servisse para mais nada, o fato de a Copa acontecer na Alemanha está ajudando a população a finalmente decorar seu hino nacional. Gerhard Mayer-Vorfelder, presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB), comenta: "Fico comovido agora, quando as pessoas se levantam no estádio e cantam o hino. Costumávamos pôr a letra no placar eletrônico; não precisamos mais fazê-lo".

Marselhesa sanguinária

Deutsche Nationalhymne
Hino nacional da RFA, impresso em anexo da Lei FundamentalFoto: DHM

O Deutschlandlied (Canção da Alemanha), é um dos poucos hinos nacionais com melodia foi composta por um músico de renome, no caso, Joseph Haydn (uma outra exceção é o britânico, da autoria de Georg Friedrich Händel).

Na realidade, saneado das adições e associações nazistas, o texto de August von Fallersleben é relativamente inofensivo. Trata-se de pouco mais do que uma celebração de "unidade, lei e liberdade".

Basta dar uma olhada na Marselhesa, o cântico nacional francês ("Marchemos, marchemos,/ que o sangue impuro regue nossos campos"), em versos como "O sangue apagou seus rastros imundos" (do norte-americano Star Spangled Banner), ou mesmo no brasileiro "Nem teme quem te adora a própria morte", e é preciso admitir que o Deutschlandlied é bastante civilizado.

Porém, por razões óbvias, os alemães ainda se encolhem diante da mínima alusão à pátria, enquanto os outros não têm tais melindres.

Emoção bloqueada

Sessenta anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, expressões apaixonadas de zelo patriótico ainda são, em princípio, tabu na Alemanha. Aqueles momentos altamente emocionais antecedendo as partidas do campeonato mostram os outros times visivelmente inchando de orgulho, enquanto os torcedores bradam o Inno di Mameli ou God save the Queen.

Para os alemães, tal experiência é inevitavelmente maculada pela consciência de que uma vez seu país já perdeu seu direito ao orgulho nacional. Contudo, as primeiras semanas da Copa trouxeram um sentimento crescente de que talvez seja OK ser alemão e, afinal de contas, orgulhoso do fato.

A exemplo do presidente da DFB, para muitos espectadores alemães foi emoicionante ver sua seleção abraçada, em formação no Estádio da Copa de Munique, enquanto soava o Deutschlandlied.

Justiça retroativa?

Diante desse pano de fundo de "patriotismo positivo", o sindicato dos setores de educação e ciência (GEW) causou indignação neste final de junho, ao propor que se substitua o texto de Von Fallersleben por aquele que o dramaturgo Bertolt Brecht compôs nos anos do pós-guerra.

Por que os alemães não podem entoar seu cântico tradicional com o mesmo entusiasmo que os holandeses cantam o Wilhelmus ou os suecos Du gamla, Du fria? O argumento de muitos é que, para desmistificar o texto do hino nacional, basta considerá-lo no contexto em que foi originalmente escrito.

Afinal, trata-se do desabafo de um poeta exilado numa ilha sob domínio inglês, cheio de nostalgia da terra natal, numa época em que a Alemanha ainda não fora unificada. Von Fallersleben jamais poderia imaginar quão macabros seus primeiros versos – "Alemanha, Alemanha acima de tudo, / acima de tudo no mundo" – se tornariam quase 100 anos mais tarde, no contexto do Terceiro Reich.