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Ataque de nervos

14 de junho de 2010

Controversa na África do Sul, a vuvuzela põe muitos alemães à beira de um ataque de nervos, sendo vetada em alguns eventos públicos. Uma petição na internet pede a proibição do instrumento em estádios alemães.

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A corneta plástica incomoda muita genteFoto: picture alliance/dpa

Mais do que controversa na África do Sul, a vuvuzela está deixando muitos alemães à beira de um ataque de nervos. A corneta é vetada em alguns dos cerca de 2 mil eventos de transmissão dos jogos da Copa organizados em diversas cidades da Alemanha. Uma petição promovida na internet pede a proibição do instrumento em estádios do país. A iniciativa já reúne cerca de 200 mil pedidos, segundo os organizadores.

Muitos alemães tiveram uma noite curta na madrugada desta segunda-feira (14/6), depois da vitória de 4 a 0 da seleção alemã sobre a Austrália. Mas não só os torcedores dormiram pouco. Alguns cidadãos pouco afeitos ao futebol também foram perturbados em seus sonos, não somente pelos gritos dos torcedores e buzinas de caravanas de carros, mas principalmente pelo barulho causado pelas vuvuzelas entoadas depois da partida. As controversas cornetas sul-africanas ameaçam tornar esta Copa do Mundo a mais barulhenta da história, e não só na África do Sul.

"Não entendo por que as pessoas que não têm nada a ver com os jogos têm que sofrer também", reclamou uma moradora de Berlim, entrevistada na noite de domingo por uma rádio local. "Afinal, as pessoas têm que acordar cedo para trabalhar no dia seguinte", acresceu a residente de Prenzlauer Berg, um bairro berlinense repleto de bares, dizendo também estar acostumada com o barulho noturno.

Eventos públicos proíbem a corneta

O subprefeito Matthias Köhne, cuja região administrativa envolve aquela área de Berlim, afirma que não cogita proibir a corneta e acredita no bom senso das pessoas. Ele pede aos cidadãos que tenham consideração com a vizinhança, mesmo durante a Copa do Mundo.

Mas em alguns eventos públicos organizados em cidades como Berlim, Nuremberg, Hamburgo, Hannover e Colônia, os tubos plásticos não entram. "De outra forma, não poderíamos cumprir as leis sobre poluição sonora", disse Uwe Bergmann, gerente da agência de eventos uba, que promoveu uma transmissão dos jogos no bairro de St. Pauli, em Hamburgo. Durante o jogo da Alemanha, a festa reuniu mais de 65 mil torcedores. "O bairro explode, caso 40 mil torcedores ficarem assoprando essas cornetas", acresceu.

Na festa que contou com cerca de 30 mil pessoas diante de um telão ao lado do Estádio Olímpico de Berlim, a sede da final da Copa de 2006, os torcedores tinham que entregar suas vuvuzelas para entrar. Os organizadores alegaram "motivos de segurança" para banir os cones plásticos da festa.

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Vuvuzelas vendidas na Alemanha têm as cores do paísFoto: M.i.S.-Sportpressefoto

"É claro que é importante ter um pouco de tolerância, mas esses instrumentos, do jeito que têm sido usados, de forma massiva e monótona, são irritantes e estão destruindo o clima dos jogos", afirma o publicitário Stefan Watzinger. Ele iniciou no ano passado, juntamente com seu amigo Bastian Fröhlig, uma petição online reivindicando a proibição das vuvuzelas em estádios alemães. Ele afirma já ter coletado 200 mil petições contra a corneta plástica.

Site alemão contra vuvuzela tem 25 mil acessos diários

Desde o início da Copa, na sexta-feira (11/6), o site teve tantos acessos que ficou sobrecarregado, sendo obrigado a sair do ar e mudar de servidor. Ao lançarem a campanha antivuvuzelas, na página vuvuzelas.org, Watzinger e Fröhlig não imaginavam o tamanho da repercussão durante o torneio.

"Não estávamos preparados para tanta demanda, foi tudo muito repentino", afirma Watzinger. "Na sexta-feira constatamos 10 mil acessos, no sábado, já 25 mil, e cada dia mais pessoas visitam nosso site", diz. Atualmente, a página contabiliza cerca de 4 mil cliques por hora. A maioria deles vem de pessoas irritadas com o barulho produzido pelo artigo de sopro. "Cerca de 95% das pessoas que acessam a página se dizem irritados pelas vuvuzelas", comenta o publicitário.

Reagindo às reclamações, uma empresa acaba de lançar uma versão menos barulhenta do berrante sul-africano, prometendo 20 decibéis a menos. A empresa Masincedane Sport, que tem direitos de comercialização das vuvuzelas na Copa do Mundo, pretende vender o novo modelo em estádios e eventos públicos na África do Sul.

Instrumento pode afetar audição e transmitir doenças

Médicos alertam sobre perigos do artigo. Segundo especialistas do Hospital Universitário de Münster, a corneta sul-africana pode produzir até 125 decibéis, som mais alto que uma serra elétrica. Por isso, em espaços públicos, os fãs de futebol devem se prevenir. "Quando alguém próximo tirar a vuvuzela da bolsa, é recomendável lançar mãos de tampões de ouvido", recomenda Hendrik Berssenbrügge, médico-chefe do hospital. Segundo ele, a corneta, quando tocada próxima ao ouvido, pode provocar danos no órgão auditivo.

Além disso, o instrumento também é uma ameaça aos pulmões, afirma estudo de infectologistas britânicos. De acordo com a edição desta segunda-feira do jornal Ärzte Zeitung, publicação alemã direcionada a médicos, vuvuzelas podem disseminar germes de infecções, como resfriados e gripes, muito mais rapidamente do que tosses ou gritos.

"Porque o instrumento deixa passar muito ar da respiração", explica a pesquisadora Ruth McNerney, da London School of Hygiene. A equipe chefiada por McNerney investigou o ar expelido por vuvuzelas assopradas por oito voluntários e constatou um alto nível de contaminação do ar por gotículas potencialmente transportadoras de micróbios transmissores de doenças. Essas gotículas seriam tão minúsculas que permaneceriam por horas suspensas no ar ambiente.

Autor: Marcio Damasceno
Revisão: Carlos Albuquerque