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Alemães entre 700 reféns na Rússia

ef25 de outubro de 2002

Alemanha criou comissão de emergência para acompanhar drama dos reféns em poder de 40 rebeldes tchechenos num teatro de Moscou. Berlim corrigiu de sete para dois o número de alemães no prédio ameaçado de detonação.

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Médicos retiram o corpo de uma mulherFoto: AP

Os membros da comissão de emergência em Berlim estão em permanente contato com a embaixada alemã em Moscou, autoridades russas e familiares dos reféns alemães. O drama agravou-se com a execução de uma jovem pelos seqüestradores, segundo o serviço secreto russo.

Por causa do seqüestro durante o musical Norte-Leste, no teatro com capacidade para mais de 1100 pessoas, na noite de quarta-feira (23), foi cancelado o encontro que o presidente russo, Vladimir Putin, teria com o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, numa escala em Berlim a caminho de sua visita ao México. O chefe de governo alemão manifestou sua solidariedade e ofereceu ajuda ao Kremlin, numa carta a Putin.

Russland Geiselnahme
Tropa russa cerca o teatroFoto: AP

O comando de 40 terroristas suicidas, com explosivos atados ao corpo, ameaça detonar o teatro com todos os reféns e eles próprios dentro, se a Rússia não começar a retirar suas tropas da Tchechênia dentro de uma semana. O presidente Putin exclui a hipótese de tal concessão. O presidente da câmara baixa do Legislativo (Duma), Liubov Sliska, viu o seqüestro coletivo como demonstração de ligações dos separatistas tchechenos com a Al Qaeda de Osama Bin Laden.

Seqüestros sangrentos

Este não é o primeiro seqüestro em massa feito por rebeldes tchechenos na tentativa de forçar concessões da Rússia no conflito que remonta ao tempo dos czares. A maioria terminou com banhos de sangue. Em 1995, um comando de separatistas comandado pelo líder Shamil Bassayev ocupou um hospital da cidade russa Budjonnovski e fez mais de mil reféns. Tropas russas tentaram duas vezes, em vão, tomar o prédio de assalto. Morreram mais de cem pessoas. No final, as forças de segurança e Bassayev chegaram a um acordo. O líder rebelde fugiu e continua foragido até hoje.

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Putin, em reunião de emergência no KremlinFoto: AP

Um ano depois, combatentes tchechenos ocuparam outro hospital em Kisliar, no sul da Rússia, fazendo centenas de reféns. 78 pessoas morreram na troca com as forças de segurança.

Seqüestros em massa também houve no exterior, principalmente na Turquia. Em 1991, quatro piratas tchechenos desviaram um avião russo de passageiros para Ancara com o propósito anunciado de protestar contra a destruição de sua pátria pela Rússia. Em 1996, tchechenos armados tomaram um barco com 424 pessoas a bordo, no porto turco de Trabzon, e renderam-se quatro dias depois.

Em abril do ano passado, 20 homens armados invadiram um hotel de luxo em Istambul, tomaram mais de 20 pessoas como reféns e renderam-se depois de um conversa com o ministro turco do Interior. A segunda guerra na Tchechênia começou após a explosão de prédios residenciais em Moscou, em 1999.

Guerra esquecida

Comandos tchechenos sempre recorrem a essas ações para chamar a atenção da opinião pública para o seu país. Oficialmente, já acabou a segunda guerra na Tchechenia, iniciada em 7 de agosto de 1999. No início de 2000, o governo russo declarou o conflito encerrado. Desde então, Moscou qualifica a sua presença militar na república do Cáucaso como medida de combate ao terrorismo.

Os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos ofereceram uma boa oportunidade para o Kremlin justificar sua guerra na Tchechênia como "uma causa justa". Washington fecha os olhos por gratidão à solidariedade russa na luta antiterror.

Como jornalistas são proibidos de entrar na Tchechênia, as informações sobre a guerra são contraditórias. Observadores independentes calculam que continuam estacionados lá 200 mil soldados russos e forças de segurança. Moscou diz que são 95 mil. Segundo o Comitê das Mães Russas já tombaram dez mil soldados e cerca de 25 mil ficaram feridos. Moscou, ao contrário, fala de 4200 soldados e 13.500 tchechenos mortos nos últimos três anos.

Herança dos czares

Tudo começou no tempos dos czares, quando as grandes potências asseguraram as esferas de sua influência e Moscou conseguiu conquistar o Cáucaso e dominar a sua população de muitos e pequenos povos. Os inimigos na época ainda eram a Grã-Bretanha, que dominava a Pérsia, e o Império Otomano, o predecessor da Turquia. Mais tarde, o poder dos czares passou para os comunistas, que continuaram a agir no Cáucaso com mão de ferro.

Máfia substitui comunistas

Após o fim da União Soviética, diversos clãs financeiros entraram no programa dos ex-comunistas e enriqueceram no tempo da privatização. A Tchechênia foi usada como máquina de lavagem de dinheiro, porque lá não existia aduana nem controle econômico e, com ajuda de funcionários corruptos, se podia fazer grandes negócios.

O novo conflito começou quando o líder tchecheno Djohar Dudayev não quis mais dividir os lucros com os clãs financeiros russos. Este foi o real motivo da primeira guerra contra a Tchechênia, entre 1994 e 1996.