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"Alemanha terá ainda melhores jogadores no futuro", prevê técnico

Sonia Phalnikar (mm)11 de julho de 2006

Com a Copa do Mundo terminada, DW-WORLD conversou com Christian Streich, um treinador de futebol de jovens jogadores, sobre as lições aprendidas e os desafios de produzir os Ballacks e Kloses de amanhã.

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Christian Streich acredita que Alemanha voltou a produzir jovens talentosFoto: DW

DW-WORLD: A Alemanha foi uma das maiores surpresas positivas desta Copa do Mundo. Antes do torneio, havia o temor de uma saída precoce humilhante. Alguns até pediram que o treinador Jürgen Klinsmann desistisse do cargo. Hoje ele é celebrado como um herói nacional. Como você explica esta súbida mudança?

Christian Streich: Klinsmann teve várias semanas antes da Copa do Mundo para preparação, e os jogadores, que estavam sob imensa pressão, para perceber que não eram individualmente talentosos como as estrelas de Inglaterra, Argentina, Itália ou Brasil. Então, o que se viu foi a construção de um espírito de equipe. Os jogadores se deram conta de que não conquistariam nada se não lutassem juntos.

O trabalho de base também foi muito bom – os jogadores tiveram que treinar muito e foi tudo bom, conceitualmente, até mesmo as folgas foram dadas no momento certo. Além disso, Michael Ballack, que é absolutamente um jogador dominador, se colocou totalmente à disposição do time. Uma vez que ele interpretou seu papel mais como de um defensor, ele deu aos outros jogadores da defesa uma grande dose de segurança.

Até alguns anos atrás, havia muita preocupação quanto aos jovens talentos na Alemanha. Nesta Copa do Mundo, a seleção tinha um dos times mais jovens, que agora é visto como de brilhante futuro. Você acha que a Alemanha está de volta ao rumo enquanto força futebolística?

A razão pela qual o time alemão é tão jovem é porque está faltando uma inteira geração de jogadores, particularmente do Oeste alemão. Não é coincidência que Ballack e Bernd Schneider (entre os mais velhos do time) tenham crescido na ex-Alemanha comunista. Nós não investimos em produzir novos talentos por uma década inteira na Alemanha Ocidental e por isso não temos uma equipe experiente.

Mas, graças aos centros para jovens que todos os clubes profissionais possuem agora e à intensificada tentativa de promover os jovens talentos, a seleção alemã sub-21 está repleta de jogadores de clubes da Bundesliga. Há cerca de seis, sete anos, a equipe consistia de jogadores que jogavam apenas três vezes em toda a temporada do campeonato nacional por seus clubes. Hoje há 30 jogadores regulares na Bundesliga com menos de 21 anos.

Sim, a Alemanha está de volta – mas isto pode ser um freio para o futuro brilhante atribuído aos atuais integrantes deste time. Eu tenho dúvidas sobre se veremos todos estes jogadores na próxima Copa do Mundo. Eu acho que a seleção será fundamentalmente diferente. A Alemanha terá ainda melhores jogadores no futuro – aqueles que hoje estão com 18 anos estarão individualmente melhores até os 22, 23 anos. O leque de opções está significativamente maior – e se o trabalho de base for certo – então, poderemos tirar bons atletas. Isso nos colocaria, assim, no mesmo nível da França, Inglaterra e Itália, não há dúvidas.

O que levou aos esforços de melhorar o treinamento de jovens?

Houve um problema com a Alemanha vencendo a Copa do Mundo de 1990. As pessoas começaram a acreditar no conto de fadas de que a Alemanha sempre venceria no final e que o time era fisicamente superior – o que, claro, não era verdadeiro de forma alguma na época. Mas, gradualmente, os métodos de treinamento da Federação Alemã de Futebol passaram por uma reforma maciça. Há agora mais de 300 centros de treinamentos, já que cada clube profissional precisa ter um e até mesmo uma Bundesliga juvenil foi estabelecida. Para isso, nos espelhamos em países como França, Itália e Argentina para ver como eles trabalham jovens talentos.

A Alemanha saiu de seu pedestal e teve que se adaptar às necessidades do futebol moderno – mas nós precisamos de dez anos para isso, para aprender com nossos próprios erros.

As escolas esportivas da antiga Alemanha comunista serviram de modelo?

Algumas estruturas foram mantidas no lado oriental da Alemanha. Por exemplo, em cidades do Leste como Dresden e Jena, os garotos treinam de oito a dez vez por semana. Mas, como a educação permanece prioridade dos Estados federados, nós, treinadores de jovens do lado ocidental, enfrentamos um problema. Por exemplo, no Estado de Baden-Württemberg, é muito difícil fazer aulas intensas de esporte nas escolas e, por conseguinte, oferecer aos jovens mais tempo de treinamento.

Um jogador brasileiro ou argentino passou, mais ou menos, de 20 mil a 30 mil horas com uma bola nos pés até chegar aos 17 anos – um europeu jamais conseguiria isso. A quantidade de horas que se treina é o que conta, especialmente no futebol.

Os sul-americanos estão definitivamente na frente do jogo, mas eles têm outros problemas para lidar. Eu sei que em São Paulo, em centros de treinamento de jovens, os meninos jogam futebol o dia inteiro e vão para escola às 21h – horário em que já estão cansados e pegam no sono. Eles têm uma estrutura social completamente diferente.

Mas o que temos que administrar aqui na Alemanha é que os meninos tenham tempo suficiente para treinar, como o caso da Aston Vila, na Inglaterra. Lá, os garotos praticam por nove vezes por semana e têm apenas 12 horas de escola a cada semana, comparadas com as nossas 33 na Alemanha. Por outro lado, os treinadores de jovens de lá não se preocupam muito com o fato de se os meninos irão se tornar profissionais. Isto é impensável na Alemanha.

A performance da Alemanha nesta Copa do Mundo recebeu muitos elogios pelo mundo. Você, como treinador, apreciou o que foi apresentado?

Eu fiquei muito feliz em ver que eles tentaram jogar sempre no ataque. A Alemanha foi um time que jogou um futebol honesto e claro e sempre buscou marcar gols. Isto conquistou corações pelo mundo, ainda mais porque times que eram muito mais badalados nesta Copa jogaram defensivamente.

A última Eurocopa de 2004 foi marcada por jogadas de ataque, mas desta vez mal se viram sinais disso. Nunca antes se registrou tão poucos gols durante uma Copa do Mundo. Por que isso?

É difícil de se explicar. Futebol não segue necessariamente um ciclo. Claro que é mais fácil jogar melhor defensivamente do que avançado, atacando. Naturalmente, hoje os jogadores se conhecem muito melhor do que há tempos atrás. Quase todos os sul-americanos jogam na Europa – praticamente não há mais segredos entre os jogadores. Você pode estudar as qualidades especiais de atacantes com muita antecedência e, então, trabalhar para neutralizar. Você pode anular um Ronaldinho se dois jogadores de defesa ficarem constantemente grudados nele.

Mas pode-se ver a enorme pressão nos 16 times finalistas nesta Copa do Mundo. Seria muito humilhante para times tradicionais como Inglaterra, Portugal, etc, serem eliminados na primeira fase. Por isso, jogaram extremamente defensivos por medo.

Que lições os alemães podem tirar desta Copa do Mundo?

Em nenhuma hipótese a Alemanha deve fazer muita onda por esta conquista e subir novamente no pedestal. Atributos antigos da Alemanha de superioridade física e vontade de vencer são bobagem – cada time, do Togo à Itália, tem isso.

A Alemanha tem que fazer um esforço de ver o que os outros países estão fazendo e aprender com isso. Mas também deve confiar na sua própria força com uma boa dose de autoconfiança porque nós, novamente, temos muitos talentos aqui.

Ex-jogador da Bundesliga e técnico do time de jovens (17–18 anos) do clube do sul da Alemanha SC Freiburg, que venceu a Copa Juvenil Alemã este ano, Christian Streich é considerado um dos técnicos líderes de jovens na Alemanha. Muitos dos jogadores que ele ajudou a treinar no passado jogam na Bundesliga hoje.