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Alemanha procura prefeitos voluntários desesperadamente

17 de dezembro de 2019

Muito trabalho, pouco reconhecimento, nenhuma recompensa financeira, e até ameaças. Embora ainda haja quem esteja dispostos a aceitar a chefia voluntária de uma prefeitura alemã, seu número é cada vez menor.

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Josef Rüddel, ex-prefeito de Windhagen
Após 56 anos como prefeito de Windhagen, Josef Rüddel decidiu não mais se candidatar Foto: picture-alliance/dpa/T. Frey

Em julho de 2019, Jürgen Bohl tornou-se prefeito de Gerhardsbrunn, um pequeno vilarejo de 170 habitantes no oeste da Alemanha, um cargo não remunerado. Segundo Bohl, que trabalha como agricultor, outros moradores teriam mais tempo livre para realizar a tarefa, mas "eles simplesmente não queriam".

Na Alemanha, vilarejos e municipalidades com poucos habitantes podem escolher se querem um prefeito em tempo integral, ou seja, um cargo de servidor público remunerado, ou se preferem fazer disso uma tarefa voluntária. Assim, antes de Bohl assumir o cargo em Gerhardsbrunn, o vilarejo ficou sem prefeito por três anos.

Muitos vilarejos e cidades alemães estão sem prefeito voluntário, pois cada vez menos cidadãos estão dispostos a assumir tais posições não remuneradas. Em março de 2020, o estado da Baviera realizará eleições municipais, e metade dos mais de mil prefeitos atualmente no cargo não voltará a concorrer.

Richard Köth (esq.), ex-prefeito de Schwanfeld
Richard Köth (esq.) foi prefeito de Schwanfeld durante 11 anosFoto: picture-alliance/dpa/D. Ebener

Bohl diz saber por que tão poucos prefeitos da Baviera se dispõem a um novo mandato: "No começo, você acha que não vai dar muito trabalho, especialmente numa cidade pequena, mas é uma tarefa maior do que se imagina." Ele próprio dedica dez horas semanais para cuidar de questões locais.

Por exemplo, uniu forças com responsáveis locais para reconstruir o muro do cemitério do vilarejo, e cuidou para que se retirassem os arbustos das vias de acesso às fazendas. Agora está planejando uma reforma da estrada principal que atravessa o vilarejo.

Mas a escassez de prefeitos da Alemanha não é apenas uma questão da morte de candidatos. Embora a Associação Alemã de Cidades e Municípios (DStGB) não possua números exatos a esse respeito, pois os sistemas de governança local podem variar entre os estados da Alemanha, a impressão geral é que os voluntários ao cargo não remunerado querem dedicar cada vez menos tempo à tarefa.

Insultados e ameaçados

De qualquer forma, está ficando cada vez mais difícil encontrar prefeitos como Josef Rüddel, que serviu 56 anos como encarregado de assuntos locais do município de Windhage, de 4 mil habitantes, perto da cidade de Bonn.

Alexander Handschuh, da DStGB, diz que isso não se deve apenas à crescente carga de trabalho, mas também por os prefeitos estarem frequentemente sujeitos a ataques verbais. "Insultos e ameaças contra quem se ocupa de assuntos locais estão se tornando cada vez mais comuns", confirma, e desejaria que mais cidadãos dissessem a seus prefeitos que "estimam que eles estejam fazendo algo pela comunidade local".

Num encontro a portas fechadas com o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier, em meados de 2019, prefeitos se queixaram de frequentes insultos, ameaças e mensagens de ódio, dizendo também que não se sentiam suficientemente protegidos pela polícia.

Tatjana Cyrulnikov, que serve como prefeita da pequena municipalidade de Waldsiedlung, perto de Frankfurt, vivenciou isso na própria pele. A ainda estudante universitária foi eleita prefeita em outubro, substituindo Stefan Jagsch, do partido extremista de direita NPD, retirado após pouco tempo no cargo, em seguida a protestos por todo o país.

Em entrevista à emissora pública Deutschlandfunk, Cyrulnikov revelou que, após assumir, recebeu um e-mail alegando que "logo russos e outros estrangeiros estariam controlando 'nossa Alemanha', e que era vergonhoso ver em que a pátria se transformara". Além disso, teria recebido uma ameaça de morte no Facebook.

Tatjana Cyrulnikov (esq.) prefeita de Waldsiedlung
Tatjana Cyrulnikov (esq.) sofreu ameaças desde que assumiu a administração de WaldsiedlungFoto: imago images/rheinmainfoto

Segundo Klaus Bube, que chefia a Secretaria da Casa Civil de Altenstadt, ameaças como essas explicam por que cada vez menos cidadãos se dispõem a se candidatar a prefeito. Ataques a ocupantes de cargos voluntários se tornaram comuns, e "muitos desistem por causa disso": "No passado, os voluntários costumavam servir por décadas na administração municipal; agora, muitos jogam a toalha depois de dois ou três anos."

O município bávaro de Schwanfeld, por exemplo, teve tanta dificuldade em encontrar alguém para concorrer às eleições locais de 2020, a fim de substituir o prefeito Richard Köth após 11 anos, que decidiu transformar a tarefa voluntária em cargo remunerado em tempo integral. E só depois que o jornal Mainpost deu destaque à situação, finalmente se apresentaram candidatos.

Apelo aos partidos

Marcus Franzen, prefeito voluntário de Gindorf, um vilarejo próximo a Trier, afirma que antes certamente havia mais interesse da população em servir assumir esse cargo. Ele se lembra do tempo quando três candidatos queriam disputar a prefeitura, mesmo de uma pequena municipalidade.

Até Franzen desistir do cargo de vice-chefe da brigada de incêndio local e assumir o governo de Gindorf, em maio, o vilarejo passou mais de três anos sem prefeito, sendo administrado durante esse período pelo município vizinho de Bitburg. Agora Franzen garante que o parquinho local e a iluminação de rua estão em boas condições: "Se você deseja que haja melhorias, é necessário agir." E assegura que "há muito reconhecimento", especialmente quando visita os mais idosos.

O prefeito de Gerhardsbrunn, Jürgen Bohl, diz tampouco se arrepender de sua decisão: "Fico contente em ver que as coisas estão se movendo por aqui." Frisando que os moradores locais estão satisfeitos por ele ter tomado o controle da situação, admite: "Gosto deste trabalho."

No início de dezembro, Michael Makurath, líder da associação de prefeitos do estado de Baden-Württemberg, no sudoeste da Alemanha, pediu mais subsídios financeiros para o serviço voluntário. Como prefeito de uma localidade, ele apela para que os partidos políticos tomem medidas para incentivar para que mais cargos sejam preenchidos. "Se as coisas continuarem como estão, ninguém mais vai colocar a cabeça para fora, com medo de ela ser cortada", adverte Makurath.

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