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24 anos depois

9 de maio de 2011

Censos demográficos evocam dois traumas nacionais, nos anos 1930 e 80. Mas resistência ao Zensus 2011 é bastante moderada, apesar de reservas quanto à proteção de dados pessoais. Para a geração Facebook, nenhum problema.

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Cartaz do Zensus 2011Foto: picture alliance/dpa

Nesta segunda-feira (09/05) o governo alemão começa a contar os habitantes do país pela primeira vez desde a reunificação nacional. A partir de agora, a população terá que se acostumar aos recenseamentos, os quais, de acordo com a diretriz da União Europeia, se repetirão a cada dez anos. O mesmo ritmo, aliás, também é adotado pelas Nações Unidas.

Dados para o futuro

O último censo demográfico da República Federal da Alemanha foi realizado em 1987; o da extinta República Democrática Alemã ocorreu há ainda mais tempo, em 1981. Para compensar, o Departamento de Estatísticas de Berlim iniciou recentemente uma grande campanha informativa sobre o "Zensus 2011" – nome oficial da atual contagem demográfica.

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Egeler: dados atuais para poder planejar o futuroFoto: picture alliance/dpa

Com spots de TV, cartazes e um portal na internet, a intenção é esclarecer a população e ao mesmo tempo esvaziar a argumentação dos céticos. A mensagem central da campanha é: o país necessita de um recenseamento moderno para estar apto a responder questões importantes do futuro. Uma delas é: que tipo de infraestrutura trará mais vantagens ao país amanhã?

Assim, o censo 2011 não cuida apenas de contar cabeças, mas também de coletar informações básicas sobre vida e moradia no país. Segundo o presidente do Departamento Federal de Estatísticas, Roderich Egeler: "A Alemanha precisa de dados atuais para poder planejar o futuro de nossa sociedade".

Os primeiros resultados do levantamento só deverão ser divulgados no final de 2012. Calcula-se que ele custará 710 milhões de euros aos cofres públicos. O Estado alemão está disposto a gastar toda essa verba, também para saber qual a melhor forma de distribuir o restante do dinheiro do contribuinte.

Amostras demográficas

Ao contrário da contagem de 1987, na qual, em princípio, todos os habitantes foram entrevistados, o Zensus 2011 é um "levantamento baseado em registros".

Nesse procedimento, os especialistas em estatística trabalharão com uma amostra de 8 milhões – de uma população avaliada em 80 milhões – de cidadãos selecionados ao acaso. Estes preencherão um formulário, na internet ou junto a um dos 80 mil entrevistadores contratados.

São coletados não apenas dados demográficos, como idade, sexo e nacionalidade, mas também nível educacional, empregos paralelos, eventual ascendência estrangeira ou religião (quesito facultativo). Quem se recusar a participar fica sujeito a multa.

Os dados referentes aos outros 90% da população – que não serão entrevistados – virão dos registros municipais e da Agência Federal do Trabalho. Na Alemanha, todos os cidadãos são obrigados a se registrar na prefeitura da cidade em que moram.

Proprietários e "setores especiais"

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Contra o recenseamento: 'Invasão da privacidade do contribuinte é rigorosamente proibida'Foto: picture alliance/dpa

Composto por cerca de 17,5 milhões de cidadãos, o grupo dos proprietários de imóveis é o segundo solicitado a cooperar com as autoridades estatísticas. Segundo estas, há carência de informações abrangentes sobre a situação residencial no país. No entanto, elas são importantes para as administrações comunitárias. Por exemplo, para definir quantos jardins-de-infância ou canalizações de água se necessita.

O terceiro grupo participante do censo será submetido a uma sondagem completa, contendo dados detalhados: trata-se dos residentes em assim chamadas "setores especiais", como casas de estudantes, conventos, lares para idosos, clínicas psiquiátricas e prisões.

Annette Pfeiffer, diretora de comunicação do Zensus 2011, justifica a medida: "Sabemos que os dados provenientes desses setores não são confiáveis". Também o número de pessoas sem teto e imigrantes ilegais deverá ser computado desse modo.

Décadas de 1930 e 80: dois traumas

Após a coleta, um gigantesco volume de dados estará disponível para ser avaliado. Isso provoca mal-estar e medo em algumas pessoas, pois traz à tona lembranças do último recenseamento da Alemanha Ocidental, em 1987, que foi antecedido por longas controvérsias.

Em 1983, data original do censo, formaram-se no espaço de poucas semanas centenas de iniciativas populares conclamando ao boicote. Os participantes não queriam ser "cidadãos de vidro", temiam a "gana colecionadora" do Estado, e que seus dados não fossem tratados anonimamente, como prometido, ou fossem parar em mãos de terceiros.

Os críticos alcançaram amplos segmentos da população e conseguiram o apoio do então jovem Partido Verde, que levou o tema a debate no parlamento. Por fim, o conflito chegou às barras do Tribunal Federal Constitucional.

Num veredicto histórico sobre o direito básico à autodeterminação informativa, a corte deu razão aos críticos do governo. Consequentemente, no censo demográfico que acabou se realizando em 1987, vigorou o "princípio de separação". Segundo este, as informações compiladas não podem ser repassadas a outras repartições públicas.

A atitude ambivalente de muitos alemães em relação a recenseamentos está seguramente também relacionada a um trauma histórico. Só por poderem recorrer a material estatístico de duas sondagens da década de 1930, é que foi possível aos nazistas perpetrar de forma tão sistemática a perseguição e o extermínio dos judeus.

Sem problema para a geração Facebook

Também em 2011 o princípio da separação será mantido, assegura Gert Wagner, chefe da comissão do censo designada por Berlim. "O sistema estatístico é separado da administração. Para empregar uma imagem do mundo da computação: o firewall é extremamente alto."

Não suficientemente alto, replicam os críticos reunidos no Grupo de Trabalho Zensus. Um de seus integrantes, Michael Ebeling, analisa: "Segundo a lei, os dados não serão anônimos durante até quatro anos. E, mesmo que não fossem inteiramente anonimizados durante apenas algumas semanas, sou da opinião que é arriscado demais".

No geral, contudo, a crítica pública na Alemanha contra o atual censo se mantém moderada. Uma queixa constitucional do Grupo de Trabalho Zensus foi rejeitada pelo tribunal. Além disso, ao que tudo indica, os opositores ficaram mais velhos.

Uma enquete representativa do instituto Ears and Eyes, de Hamburgo, demonstrou que, enquanto 57% dos entrevistados maiores de 50 anos são a favor da contagem, entre os de 18 a 29 anos de idade a proporção é de 74%. A geração mais jovem, socializada pelo Facebook, parece ter menos problemas em colocar seus dados pessoais à disposição.

Autor: Kay-Alexander Scholz / Augusto Valente
Revisão: Alexandre Schossler