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"Acreditamos em uma solução política", afirma líder da oposição síria

Najima El Moussaoui (rc) 26 de outubro de 2013

George Sabra, presidente do Conselho Nacional da Síria, fala à DW sobre as negociações de paz com Bashar al-Assad – que em sua opinião são uma perda de tempo. Ainda assim, ele diz que uma saída diplomática é possível.

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Foto: Getty Images/Afp

George Sabra foi eleito presidente do Conselho Nacional Sírio – o maior grupo de oposição do país – em novembro de 2012. Desde os anos 1970 ele compõe a oposição ao regime da família Assad. O Conselho Nacional Sírio é o maior dos grupos que compõem a Coalizão Nacional Síria, criada há um ano com o intuito de unificar a oposição e promover a transição de poder no país.

Sabra, 66 anos, afirma que sua organização acredita em uma solução diplomática para o conflito na Síria – mas ao mesmo tempo ressalta que "às vezes temos que lançar mão da força para chegarmos a uma solução política".

DW:É verdade que o Conselho Nacional Sírio só vai participar das negociações de paz em Genebra (no dia 23 de novembro) se o presidente Bashar al-Assad renunciar?

George Sabra:Sim. Enquanto Assad estiver no poder, ninguém acredita que poderá haver qualquer tipo de nova era na Síria. O secretário-geral das Nações Unidas declarou ao mundo que Assad cometeu crimes contra a humanidade. Então, como pode alguém imaginar que ele continue como presidente?

O senhor acredita que Assad realmente está querendo a paz na Síria ou ele estaria apenas agindo sob pressão?

Ninguém acredita que ele realmente queira a paz. Imagine a situação dentro da Síria agora. Em regiões próximas a Damasco, como por exemplo, em Daraa, pessoas estão morrendo de fome.O regime Assad está utilizando armas químicas na frente do mundo inteiro contra sua própria população, deixando milhares de mortos. Com tudo isso, você acredita que ele realmente busca uma solução pacífica?

epa03918488 A handout picture made available by the official Syrian Arab News Agency (SANA), shows Syrian President Bashar al-Assad speaking during a television interview with Tunisian Journalist Ghassan Bin Jeddo from "Al Mayadeen TV" in Damascus, Syria, 21 October 2013. EPA/SANA HANDOUT HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/NO SALES
Assad não está realmente interessado em uma solução pacífica, diz SabraFoto: picture-alliance/dpa

Nessa semana, o Conselho Nacional Sírio decidirá se vai ou não participar da conferência de paz em Genebra. Qual é a sua posição?

Nós do Conselho Nacional Sírio decidimos que não iremos a Genebra nessas circunstâncias. Exigimos que haja alguma novidade. Já a Coalizão Nacional Síria (principal grupo que reúne a oposição apoiada pelos países ocidentais), da qual fazemos parte, vai se reunir entre os dias 1 e 2 de novembro, para daí então tomar a decisão final sobre o comparecimento na conferência de Genebra.

O senhor afirma que as condições têm que mudar, mas o que isso significa exatamente?

Primeiramente, o regime tem que cessar o massacre de sua própria população. Há dois anos, as pessoas estão sendo assassinadas, não apenas diariamente, mas a cada hora, cada segundo. A milícia libanesa Hisbolá precisa se retirar da Síria. Queremos ainda a garantia do Conselho de Segurança da ONU de que Assad não terá nenhum cargo no governo de transição, e que não ocupe mais o poder.

O senhor acha que essas condições poderão de fato ser atingidas?

Acreditamos que não. Assad decidiu permanecer no poder à força. Ele quer vencer apenas através da guerra. Até onde sabemos, ele não está interessado em uma solução pacífica.

Ainda é possível uma solução diplomática?

Devemos continuar acreditando em uma solução política, e que no final iremos alcançá-la. Mas pedimos à comunidade internacional que ajude a Síria a se defender. Precisamos convencer Assad de que a guerra não é solução para o problema da Síria. O único caminho é apoiar o Exército Livre Sírio e ajudar a população síria a se defender.

Mas essa não seria uma solução diplomática, e sim, militar.

Sim, eu sei. Mas às vezes temos que lançar mão da força para chegarmos a uma solução política.

Krieg in Syrien Aleppo 20.10.2013
Conflitos na Síria já deixaram mais de 120 mil mortos em dois anos e meioFoto: Reuters

Em recente entrevista a uma rede de televisão libanesa, Assad afirmou que poderá se lançar candidato à presidência nas eleições de 2014. Como o senhor vê essa declaração, na perspectiva do processo de paz?

É incrível que alguém que matou mais de 120 mil pessoas em dois anos e meio, que destruiu seu país, que cometeu crimes contra a humanidade considere a possibilidade de concorrer à presidência. Isso faz com que as declarações do regime sírio sobre as conversações de paz sejam implausíveis.

Na mesma entrevista, Assad afirmou que não confia na oposição para governar a Síria, mesmo porque muitos líderes oposicionistas estão no exílio. Como o senhor avalia essa declaração?

É uma grande mentira. Eu, por exemplo, dediquei mais de 40 anos da minha vida lutando pela democracia na Síria. Desde 1970 faço parte da oposição aos Assad (primeiramente ao pai de Bashar, Hafiz, falecido em 2000). Fui preso várias vezes, numa delas por oito anos. Tive que deixar meu país apenas em 2012. Ninguém pode dizer que eu sou um político exilado.

Existe alguma possibilidade de que a oposição venha se reunir com Assad para tentar chegar a uma solução pacífica? Ou isso é possível apenas pela perspectiva do Ocidente?

Iríamos apenas perder tempo dando mais tempo para Assad tentar vencer o conflito submetendo a população síria à força. A comunidade internacional deve entender que os problemas apenas aumentarão no Oriente Médio enquanto Assad estiver no poder. Ele tenta estender o conflito na Síria para outros países como o Líbano, a Turquia e o Iraque, o que é muito perigoso para toda a região.