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"A lama da Fifa é ainda mais profunda", afirma jornalista

Herbert Schalling (mp)25 de fevereiro de 2016

Guido Tognoni, um dos maiores críticos da federação, afirma que a era Blatter chegou ao fim, que a "família" não pode resolver tudo na entidade e que a pressão de fora por mudanças é enorme.

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Foto: picture alliance/Eventpress Stauffenberg

A Fifa passará nesta sexta-feira (26/2) por um momento decisivo, que pode significar tanto uma ruptura com o passado quanto a continuidade do atual "modelo" de gestão, envolto em denúncias de corrupção.

Representantes de 207 associações nacionais vão eleger o novo presidente da entidade máxima do futebol mundial. O escolhido substituirá o suíço Joseph Blatter, que esteve no poder por 17 anos e foi afastado do futebol pela própria Fifa por causa de acusações de corrupção que abalaram a credibilidade da organização.

Os favoritos para assumir o comando do futebol mundial pelos próximos quatro anos são o secretário-geral da Uefa, o suíço-italiano Gianni Infantino, e o xeique do Bahrein, Salman bin Ibrahim al-Khalifa.

O príncipe da Jordânia, Ali bin al-Hussein, o diplomata francês Jérôme Champagne (ele próprio um ex-funcionário da Fifa) e o sul-africano Tokyo Sexwale são considerados os "azarões" na disputa pelo cargo.

Leia também: Quem são os candidatos à presidência da Fifa?

A DW entrevistou o jornalista esportivo Guido Tognoni para saber o que ele espera da eleição desta sexta-feira. Tognoni tem 65 anos, é jurista e trabalhou por 11 anos como diretor de Mídia da Fifa. Ele foi demitido por Blatter e hoje é um dos maiores críticos da Federação Internacional de Futebol.

DW: A Fifa enfrentou nove meses bem turbulentos desde o último congresso eleitoral. Qual é a situação neste momento?

Guido Tognoni: A Fifa se encontra numa situação muito difícil e ainda vai precisar de alguns meses, se não anos, para atingir a estabilidade necessária, que se espera dela.

Blatter ainda tem influência?

Ele perdeu muita influência. Pode se também perceber entre as pessoas da Fifa que o clima mudou. A era Sepp Blatter está no fim.

Já se reconhece que são necessárias reformas. Há uma comissão, sob a direção de François Carrard, que identificou três pontos básicos: a Fifa precisa de outra estrutura, de uma nova cultura e de mais transparência. Isso vai solucionar o problema?

É a pressão do momento que faz ela agir. Uma limitação do mandato é mais do que urgente. A separação da área comercial da área política já foi discutida há 15 anos e, na época, rejeitada por Sepp Blatter. São coisas banais. A solução não pode ser alcançada pelo documento, mas pelas pessoas envolvidas.

Um nome sempre se destaca quando se fala em candidatos à presidência: o xeique Ahmad al-Sabah, do Kuwait, um dos homens mais influentes no esporte mundial. Ele disse que a Fifa não precisa de ajuda externa. A "família" resolve seus problemas sozinha. Isto não soa muito otimista quanto a reformas.

Isto é o que Sepp Blatter sempre dizia e nada foi resolvido. Nós não podemos supor que toda a sujeira já veio à tona. A Fifa está numa lama ainda mais profunda. Situações ainda piores serão descobertas. Prisões podem acontecer. Os investigadores ainda estão no início do trabalho. Essa máxima de que a "família" pode regular tudo é completamente descabida.

O xeique Ahmad al-Sabah apontou o xeique do Bahrein, Salman bin Ibrahim al-Khalifa – que é acusado de envolvimento em violações dos direitos humanos – como favorito. Ele é o candidato ideal?

Salman al-Khalifa representa a ascensão dos países do Golfo Pérsico. É possível que ele ganhe a eleição. Mas a pressão de fora é enorme. Essa é a diferença da Fifa de antes. Os governos, as ONGs, a Justiça suíça – todos estão pressionando. E qualquer presidente vai ter de ceder a essa pressão. Ele não poderá mais continuar fazendo as coisas como antes.

Os europeus estão unidos na candidatura do secretário-geral da Uefa, Gianni Infantino. Inicialmente, ele estava apenas guardando lugar para Michel Platini. Ele é o homem certo para reformar a Fifa? O seu grande projeto é a uma Copa do Mundo com 40 países.

O fato de um candidato europeu sugerir 40 países na Copa do Mundo é sem sentido. Isso é ruim para o futebol. Isso é pura promessa eleitoreira.

Os outros três candidatos apenas cumprem tabela? Ou podemos esperar algum tipo de surpresa neste congresso?

Eu acho que não haverá supresas. Tokyo Sexwale fez uma campanha totalmente sem força. Não se sabe o que ele realmente quer. O príncipe Ali não vai mais conseguir os 73 votos que ele conseguiu em maio passado. Grande parte daqueles votos eram de protesto contra Sepp Blatter. Eu trabalhei alguns anos com Jérôme Champagne. Ele é com certeza um homem muito bom. Ele conhece a Fifa por dentro e por fora. A sua grande desvantagem: ele não tem qualquer base de poder. Ele não reúne nenhum bloco de eleitores.

No dia 26 de fevereiro nós veremos um congresso que vai abrir as portas para o futuro ou será como o último, que se perdeu por influências externas?

Eu o descreveria como um congresso de transição. É a tentativa é conduzir a Fifa do estado de emergência para um estado normal. Um novo presidente será eleito. É necessário um novo secretário-geral. Acho que essas duas pessoas merecem um certo crédito nos meses após a eleição.