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A informática e o crochê

Rafael Heiling / av4 de janeiro de 2003

Computador é coisa de homem. Mesmo? Veronika Oechtering, da Universidade de Bremen, resgatou mais de um século de desempenho feminino neste campo cada vez mais vital.

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40 títulos de doutor, mas quem a conhece? Grace Hopper, inventora dos compiladoresFoto: U. S. Government Archives

Os computadores compreendem as linguagens de programação graças a Grace Murray Hopper, inventora dos compiladores. Eles conseguem traduzir textos, em parte pelo trabalho pioneiro de Ida Rhodes, ainda na década de 50. Hoje em dia ninguém mais se lembra desses fatos. Um pouco mais conhecida é Ada King, condessa de Lovelace, que descreveu a programação de uma máquina de calcular, no século 19, uma época em que seria totalmente impossível construir tal artefato.

Estes e outros dados foram reunidos por Veronika Oechtering, com o apoio de numerosas colaboradoras e com verbas do Ministério alemão da Família, Idosos, Mulheres e Jovens. Agora os resultados encontram-se à disposição na internet, porém a pesquisa foi penosa e levou dois anos. "Compilamos tudo a partir de notas de pé de página", comentou a especialista em informática à DW-WORLD. Pois praticamente ninguém se ocupou do papel das mulheres na área e, nas poucas exceções, deixou-se de considerar as circunstâncias sociais.

Os homens roubam o saber

E justamente estas explicam aspectos essenciais, como demonstra o site. Oechtering não apenas resgata do ostracismo as figuras de destaque, como ajuda a compreender a relação entre história social e informática. O século 19 não desejava ver as mulheres como cientistas: suas descobertas ou foram varridas para debaixo do tapete, ou foram apresentadas por homens, como sendo deles próprios. As mulheres buscavam asilo em outros setores, como a produção têxtil. E, no entanto, ao lidar com padrões e moldes de costura, elas adquiriam qualidades que até as punham em certa vantagem em relação aos homens: "Elas aprenderam a pensar de forma estruturada e abstrata".

Contudo, a possibilidade de explorar este potencial foi desigual, nas diferentes partes do mundo. "Nós nos concentramos na história dos Estados Unidos", explica Oechtering. "No mundo anglo-saxão as mulheres eram menos reconhecidas, porém ao menos participavam. Na Alemanha, elas nem chegam a aparecer".

Igualdade compulsória

Isto não se aplica a toda a história da Informática. Nas décadas de 20 e 30, também na Alemanha se valorizava profissionalmente as mulheres com conhecimentos de computação e científicos. "Contudo, após a Segunda Guerra Mundial, as estruturas patriarcais voltaram a imperar." Com conseqüências até hoje, afirma Oechtering. Não apenas são os homens a gerar a técnica, "por outro lado, a técnica também produz masculinidade, tal como a possibilidade de possuir sempre um computador de última geração".

Veronika Oechtering deseja que haja cada vez mais professoras universitárias: "As ciências naturais são muito dominadas pelos homens, e a Alemanha é bem retrógrada neste aspecto". Este foi um dos motivos para iniciar o projeto Mulheres na História da Informática. "A intenção é mostrar que assim não é possível. Na Suécia, se a participação feminina não alcançar os 40% até o final de 2004, serão instituídas quotas obrigatórias", informa a pesquisadora. Ela gostaria de ver algo semelhante nas universidades alemãs, sobretudo nas áreas do estudo técnico: "Se nada se modifica, o jeito é impor quotas".