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​​​​​​A conflituosa política externa da Rússia

16 de março de 2018

Com Putin no poder, a diplomacia russa adotou uma linha mais dura. Se por um lado o país procura cooperação, por outro não teme o confronto. Isso gerou algumas relações complicadas.

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Putin durante seu discurso anual sobre o estado da nação em março de 2018
Putin durante seu discurso anual sobre o estado da nação em março de 2018Foto: Reuters/M. Shemetov

Estados Unidos

A relação da Rússia com os Estados Unidos é ambivalente. Tudo indica que Moscou tentou influenciar sutilmente a opinião pública durante as eleições presidenciais americanas em 2016 a favor do atual presidente Donald Trump. Pelo menos é o que aponta a investigação do promotor especial Robert Mueller até o momento.

Desde a posse de Trump, porém, o relacionamento entre os dois chefes de Estado é tenso. Num discurso sobre o estado da nação, pronunciado no início de março, Putin revelou a intenção de direcionar novos e indestrutíveis mísseis atômicos contra o Ocidente. O que deveria ser visto também como uma reação à saída dos EUA do Tratado de Redução dos Arsenais Nucleares Estratégicos, firmado em 2002 entre Washington e Moscou.

Os EUA, por sua vez, não se mostraram surpresos com esse passo. O presidente Trump respondeu anunciando a construção de novos mísseis nucleares com potência explosiva "limitada". Falando à DW, a cientista política Susanne Spahn disse supor que o objetivo de Putin seja fortalecer a posição de poder de seu país, também na relação direta com Washington. "Os Estados Unidos são o principal inimigo. Putin utiliza uma retórica extremamente ameaçadora contra o Ocidente, do tipo: vocês não quiseram nos escutar antes, então nos escutem pelo menos agora."

Oriente Médio

Em nenhuma outra região a intenção da Rússia de voltar a ser um peso-pesado na política internacional é mais evidente do que no Oriente Médio. Moscou apoia o presidente sírio, Bashar al-Assad, que está em guerra contra partes da própria população.

Para proteger Assad e defender a ordem política por ele estabelecida, a Rússia enviou um considerável contingente militar. Esse empenho russo tem diversas razões: trata-se de obter uma base militar no Mediterrâneo, mas sobretudo de ser uma força na região, um interlocutor que ninguém mais consegue evitar.

Junto com o Irã, a segunda potência protetora de Assad, a Rússia exerce atualmente uma enorme influência na região entre Irã e Israel. No Iraque, na Síria e também em partes do Líbano — através do Hisbolá, subordinado ao Irã — a palavra da Rússia pesa hoje muito mais do que no início da guerra síria. Mesmo na Turquia, que em janeiro invadiu o norte da Síria, a opinião da Rússia conta.

Os EUA se retiraram em grande parte do Oriente Médio, sob a administração de Barack Obama, deixando uma lacuna que está sendo cada vez mais preenchida pela Rússia.

Leste da Europa

A Rússia tem relações bem difíceis com os antigos Estados-satélites do império soviético. A Lituânia, por exemplo, quase não tem contato político com Moscou desde a crise da Ucrânia. Cerca de 65% da população consideram a Rússia um vizinho "hostil", e aproximadamente 18% não descartam a possibilidade de a Rússia invadir o território nacional.

Por isso os lituanos estão felizes com os cerca de mil soldados da Otan estacionados no país. A Lituânia também se distancia da Rússia economicamente: durante muito tempo o país báltico dependia em grande escala da energia exportada pelos russos. Essa dependência foi reduzida sistematicamente.

O relacionamento russo com a Polônia tampouco é dos melhores. Jarosław Kaczynski, presidente do partido conservador de direita Lei e Justiça (PiS) e antiga eminência da política polonesa, é um convicto anticomunista. Ele também se distancia da Rússia de Putin, sendo claramente a favor das sanções decretadas pela União Europeia contra o país vizinho. Ambos os Estados mostram pouco interesse visível numa aproximação.

A relação russa com a Sérvia, por sua vez, é boa. Isso se deve muito à amizade entre Putin e o presidente sérvio, Aleksandar Vucic. A Sérvia recebe da Rússia uma parte significante de suas importações de armas e energia.

Alemanha

Desde o início da crise da Ucrânia, as relações entre Moscou e Berlim são difíceis. A Alemanha aplica as sanções contra a Rússia decididas pela UE, mesmo sendo, ela mesma, especialmente prejudicada, já que arca com quase 40% das perdas comerciais.

No entanto, Berlim manterá sua posição crítica em relação à anexação da Crimeia e ao conflito na Ucrânia, explica Rolf Mützenich, especialista em política externa do Partido Social Democrata (SPD). A violação do direito internacional na Crimeia não pode ser aceita, porém o relacionamento com a Ucrânia e a Rússia, no geral, continua sendo um foco importante da política externa alemã. "Não podemos ficar à mercê de protagonistas da política interna de ambos os países", adverte Mützenich.

A relação do presidente Putin com a Alemanha não é clara. Por um lado, Moscou mantém contatos estreitos com Berlim, por outro, em junho de 2017 Putin colocou em questão a soberania da Alemanha:

"São poucos os países no mundo que gozam do privilégio da soberania. Não quero ofender ninguém, mas o que a Sra. Merkel disse [num discurso anterior] é expressão do descontentamento com uma soberania limitada, acumulado durante muito tempo." A relação é tensa também devido aos supostos ataques de hackers russos aos computadores do governo alemão.

Ásia

Desde que as relações com a União Europeia esfriaram, devido à crise na Ucrânia, a Rússia se volta com maior ênfase para a China. Os dois países dividem a intenção de expandir suas relações comerciais. A Rússia também quer participar do desenvolvimento da "nova Rota da Seda". O dinamismo dessa rota, em primeira linha sino-europeia, deve trazer também benefícios para a economia russa.

Ambos os Estados têm um estilo político semelhante, ou seja: conduta autoritária com críticos e opositores internos e defesa robusta dos próprios interesses no exterior. Os dois países se pronunciaram repetidamente contra uma condenação da Síria no Conselho de Segurança da ONU, argumentando que uma interferência nos problemas internos do país seria inadmissível.

China e Rússia também aproximaram-se militarmente, organizando diversas manobras conjuntas, não apenas na Ásia Central, mas também no Mar da China. Com isso, a Rússia abriu parcialmente mão da neutralidade que mantinha até então na disputa entre Pequim e Tóquio por ilhas no Mar da China Meridional — um fator que pesa sobre as relações russo-japonesas, mas que fortalece ainda mais a ligação com a China.

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Kersten Knipp
Kersten Knipp Jornalista especializado em assuntos políticos, com foco em Oriente Médio.