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2023 será o ano da ressaca

Alexander Busch | Kolumnist
Alexander Busch
18 de julho de 2022

Governo lançou pacote de gastos para deter a tendência de queda de Bolsonaro nas pesquisas. Pode até funcionar – mas a tática pressionará tanto o orçamento, que o Brasil deve voltar a estagnar no ano seguinte.

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Jair Bolsonaro e Rodrigo Pacheco
Bolsonaro se congratula com Rodrigo Pacheco após Congresso promulgar emenda constitucional que institui estado de emergência no país, a poucos meses das eleiçõesFoto: Sergio Lima/AFP

O que o governo brasileiro acabou de conseguir através do Congresso pode ser obviamente explicado como estratégia eleitoral: as parcelas do Auxílio Brasil passarão de R$ 400 para R$ 600. O valor do Auxílio Gás será dobrado. Os caminhoneiros receberão R$ 1 mil por mês para compensar o aumento do preço dos combustíveis. Os taxistas, R$ 200 por mês. Isso tudo valerá de agosto até o fim do ano. E custará R$ 41 bilhões.

Com isso, o aparentemente se espera reverter a tendência de queda nos índices de popularidade de Jair Bolsonaro. Assim como fez após o início da pandemia, quando o Congresso e o governo aumentaram o auxílio para R$ 600. À época, a popularidade do presidente cresceu especialmente no Nordeste, onde tradicionalmente ele tem poucos apoiadores.

O mesmo pode acontecer de novo agora. A maioria dos economistas acaba de atualizar as previsões de crescimento para 2022: em vez de pouco menos de 1%, o Brasil poderá agora crescer mais de 2%. Especialmente no terceiro trimestre, que é importante para as eleições.

A PEC dos benefícios sociais, que segundo a Constituição não deveria ser aprovada, já está surtindo efeitos: o real está se desvalorizando novamente. Isso aumenta a inflação através do aumento dos preços dos bens importados. O Banco Central elevou a taxa básica de juros para 13,25% ao ano para conter a depreciação – mas isso também desacelera ainda mais a economia.

Os investidores estão inseguros: temem que o governo possa usar o argumento de um estado de emergência (também instituído pela PEC) para promover novos aumentos nos gastos até o fim do ano.

De volta a 2007

Em 2023, portanto, a maioria dos economistas espera que a economia fique estagnada. O banco de investimentos J.P. Morgan espera inclusive outra recessão. Ao mesmo tempo, a inflação no fim do ano ainda será de cerca de 9%, na melhor das hipóteses.

O próximo governo terá, dessa forma, uma margem de manobra limitada no orçamento: será preciso reduzir as despesas governamentais a fim de não aumentar a inflação.

Na corrida pela Presidência, nenhum dos possíveis candidatos mencionou o objetivo de um orçamento equilibrado – muito pelo contrário. Diante da pobreza crescente e da fome desenfreada, todos querem atuar como doadores sociais. Contudo isso só é possível com aumento de impostos, ou – a exemplo da Argentina – com a impressão de mais dinheiro.

Nada disso é novo: os governos Lula e Dilma também abriram as comportas para os gastos governamentais durante a campanha eleitoral – e mesmo assim não conseguiram colocar ,o Brasil numa trajetória de crescimento sustentável. Tudo indica que o país continuará em seu curso de uma década de estagnação econômica, sob o governo que assume em 2023.

Para a maioria dos brasileiros, isso significa uma renda cada vez menor: a renda per capita já encolheu para o nível de 2007 (!). Isso é mais de 40% abaixo de 2011, quando a média ainda era superior a 13 mil dólares por ano.

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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

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Tropiconomia

Há mais de 25 anos, Alexander Busch é correspondente de América do Sul para jornais de língua alemã. Ele estudou economia e política e escreve, de Salvador, sobre o papel no Brasil na economia mundial.