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9 de setembro de 1971

Michael Kleff (am)

Em 9 de setembro de 1971, os detentos da penitenciária de Attica, em Nova York, tomaram carcereiros como reféns para exigir, entre outros, o fim da censura, melhor atendimento médico e carcereiros negros e latinos .

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Dos 43 mortos ao fim da revolta, 32 eram detentos
Dos 43 mortos ao fim da revolta, 32 eram detentosFoto: AP

Os detentos da penitenciária de Attica, no norte do estado de Nova York, tomaram diversos carcereiros como reféns, tentando impor suas reivindicações.

Cinco dias depois do início da revolta, a polícia estadual provocou um banho de sangue, acabando com a rebelião de forma brutal. Em nome de cerca dos 1.200 companheiros, o preso Elliot Barkley quis denunciar a situação catastrófica na penitenciária.

"Somos gente. Não somos animais. Todos os presos se juntaram para acabar com a terrível brutalidade e o desrespeito aos direitos vitais dos encarcerados aqui e em toda parte dos Estados Unidos", disse Barkley.

Tensão dentro e fora da prisão

Inicialmente, tudo indicava que se chegaria a um fim pacífico para a revolta por meio de de negociações. Mas no terceiro dia, quando a polícia estadual cercou todo o complexo da penitenciária e foi divulgada a morte de um dos carcereiros feridos, a tensão aumentou dentro e fora da prisão. Os presos – negros, porto-riquenhos e brancos – deixaram claro que estavam dispostos a morrer por suas reivindicações.

Apesar disso, todos ainda tinham esperança de que a rebelião terminaria de maneira pacífica. Em nome dos reféns, Michael Smith pediu para que a prisão não fosse invadida pela polícia, pois as reivindicações dos presos eram justas: "Eu só espero que os representantes do governo encontrem uma forma de resolver os problemas – dos presos aqui e também os nossos".

Os apelos foram ignorados. Na manhã do quinto dia da rebelião, a polícia invadiu a penitenciária, empregando bombas de gás lacrimogêneo e atirando a esmo. Do lado de fora da penitenciária, o repórter John Johnson, de uma emissora de televisão, transmitia os acontecimentos ao vivo, com voz trêmula: "Os helicópteros sobrevoam as nossas cabeças. Os presos acabam de receber o ultimato para que saiam de mãos erguidas. Eu não sei se alguém morreu lá dentro. O que está acontecendo aqui é lastimável."

Depois que a rebelião foi reprimida de forma extremamente violenta, os policiais e os carcereiros tangeram os presos como um bando de animais. Muitos foram maltratados. Foi recusada assistência médica.

Um dos presos de Attica na época, Frank Smith, relembra o tratamento humilhante. "Foi um ato de barbarismo. Eles nos arrancaram as roupas do corpo. Tivemos de nos arrastar pelo chão, nus como animais. Queimaram meu corpo com cigarros. Depois puseram uma bola de futebol sobre os dedos do meu pé e disseram que me matariam, se ela caísse. Eu havia visto como eles mataram muita gente sem nenhuma razão e estava convencido de que cumpririam a ameaça".

Saldo da brutalidade

No balanço final, foram registrados 43 mortos – 11 carcereiros e 32 presos – e mais de 80 feridos. Todas as vítimas foram mortas por balas disparadas pela polícia. Sem se deixar impressionar, o diretor da penitenciária, Russell Oswald, considerou os presos rebelados os únicos responsáveis pelos acontecimentos. Sua ação teria sido uma intolerável ameaça à sociedade livre.

Mas, ao contrário disso, a comissão de investigação chegou à conclusão, em 1972, de que houve uma "orgia de violência" em Attica. Tardaria, no entanto, quase 30 anos até que os familiares dos presos mortos, assim como os feridos da ação policial, recebessem pelo menos uma indenização financeira.

Décadas depois, o estado de Nova York concordou com o pagamento de um total de oito milhões de dólares. O pagamento da indenização não foi vinculado, porém, ao reconhecimento formal de culpa.