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Último ato em Berlim

2 de julho de 2018

Disputa entre Merkel e ministro do Interior chega a momento derradeiro. Rebelião conservadora em sua coalizão, com questão migratória como pano de fundo, pode derrubar governo e abrir crise histórica na política alemã.

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Deutschland | Merkel trifft Seehofer im Kanzleramt
Seehofer e Merkel na chancelaria em BerlimFoto: picture-alliance/dpa/P. Zinken

A maior crise dos quase 13 anos da era Angela Merkel mantém nesta segunda-feira (02/07) a classe política em Berlim em suspense, enquanto a chanceler federal tenta conter uma rebelião no bloco conservador de sua coalizão que pode fazer o atual governo desmoronar.

Por trás da rebelião está o veterano político bávaro Horst Seehofer, atual ministro do Interior e líder do partido União Social Cristã (CSU), que dá sustentação ao governo. Ele defende uma abordagem mais dura e mais independente de Bruxelas na questão migratória, em confronto direto com Merkel.

No domingo, Seehofer ameaçou renunciar, algo que pôs em dúvida a sobrevivência do governo. Demovido por seus correligionários, ele mantém nesta segunda uma reunião com Merkel, tida como o último ato de uma queda de braço que se estende há duas semanas. Uma decisão é esperada em até três dias, mas pode já sair nas próximas horas.

No momento, há basicamente dois cenários: um é Seehofer renunciar como líder do partido e ministro, mas a CSU continuar no governo. Merkel se salvaria; o outro é Seehofer tirar sua legenda da coalizão, pondo fim a uma coligação que vigora desde a Segunda Guerra.

O segundo cenário seria um terremoto político sem precedentes na Alemanha. Merkel não teria mais maioria no Parlamento para governar – sua União Democrata-Cristã (CDU) depende da CSU para manter o poder numa coalizão que também inclui o Partido Social-Democrata (SPD). A possibilidade de novas eleições não está descartada.

"Não me deixarei dispensar por uma chanceler que só é chanceler por minha causa", disse Seehofer nesta segunda-feira ao jornal Die Süddeutsche Zeitung

Mas, independentemente do resultado, as últimas duas semanas confirmaram o desgaste de Merkel, desde 2015 assombrada pela questão migratória. A crise em Berlim é o mais recente sinal de divisão na União Europeia sobre como lidar com a chegada de refugiados. Ainda que tenha caído drasticamente nos último anos, o fluxo migratório continua a dar combustível a populistas de direita na Europa, que ganham terreno do establishment político.

Há duas semanas, Seehofer deu um ultimato a Merkel para que oferecesse uma fórmula para impedir a chegada à Baviera de solicitantes de refúgio já registrados em outros países europeus. Caso contrário, ameaçou rejeitá-los diretamente, algo que iria de encontro ao que se propõe a UE.

Por trás da demanda de Seehofer há uma questão de política interna: seu partido, a CSU, perdeu espaço na Baviera para o populista Alternativa para a Alemanha (AfD) e teme encolher ainda mais. Por isso a recente guinada mais à direita no discurso.

Merkel defendeu uma solução europeia para a questão colocada por Seehofer e alertou que qualquer ação unilateral poderia colocar em perigo um dos princípios da UE – o da livre-circulação. 

A chanceler se viu então forçada a recorrer a vizinhos da União Europeiapara ajudar a resolver o conflito interno. Em Bruxelas, obteve o seguinte compromisso: os 28 países da UE acertaram que os refugiados resgatados no mar serão alojados em centros de recepção (ou "plataformas de embarque") na Europa. Além disso, avalia-se a possibilidade de abrir centros desse tipo no norte da África.

À margem das deliberações, Merkel acertou com a Espanha e a Grécia agilizar as devoluções de requerentes de refúgio que tenham sido registrados nesses dois países e afirmou ter assegurado o compromisso de outros 14 Estados para acelerar as devoluções.

Ao mesmo tempo, o plano de "plataformas de embarque" fora da UE é rejeitado pelo terceiro parceiro de coalizão em Berlim, o Partido Social-Democrata (SPD), assim como por diversos potenciais candidatos a abrigar os centros de recepção, entre os quais Albânia, Marrocos, Tunísia, Argélia e Egito.

Merkel disse que os acordos teriam o efeito de controle migratório desejado pela CSU, mas com uma dimensão mais europeia. "É a soma de tudo com o que nós concordamos é equivalente ao que a CSU quer", afirmou. 

Segundo Seehofer, porém, as propostas no nível da UE são menos eficazes do que o que ele defende: controle de fronteiras e a rejeição de requerentes de refúgio já cadastrados em outros países europeus. 

RPR/ots

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