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Última parte estável de gelo na Groenlândia está derretendo rapidamente

Clarissa Neher17 de março de 2014

Manto de gelo na região nordeste, considerado inabalável, encolheu 20 km na última década. Entre 2003 e 2013 a Groenlândia perdeu anualmente cerca de 10 bilhões de toneladas de gelo.

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Foto: Ian Joughin/University of Washington

A última porção de gelo considerada estável da Groenlândia deixou de ser firme. A descoberta foi feita por uma equipe internacional de pesquisadores e publicada na revista especializada Nature Climate Change neste domingo (16/03).

A pesquisa analisou a perda causada pelo recuo de uma geleira de descarga conectada a uma corrente de gelo que, por sua vez, drena o gelo do interior do manto. Essa corrente de gelo, batizada de Zachariae, encolheu 20 quilômetros na última década. Em termos de comparação, a corrente de gelo Jakobshavn, localizada no sudeste da Groenlândia e considerada uma das mais dinâmicas, recuou 35 quilômetros nos últimos 150 anos.

"O nordeste da Groenlândia é muito frio e era considerado a última parte estável do manto de gelo dessa região. Esse estudo mostra que a perda de gelo no nordeste está aumentando. Assim, parece que todas as margens do manto da Groenlândia são instáveis", afirma Michael Bevis, um dos autores da pesquisa e coordenador da Rede GPS da Groenlândia (GNET).

O manto de gelo da Groenlândia tem 1,7 milhão de quilômetros quadrados – aproximadamente o tamanho do estado do Amazonas. Segundo a nomenclatura dos glaciologistas, manto de gelo é uma massa de neve e gelo com grande espessura e área maior que 50 mil km2. Além da Groenlândia, a Antártida é o único outro lugar na Terra a abrigar um manto de gelo atualmente, com área de 13,9 milhões km2.

Assim como rios, as correntes de gelo retiram o gelo dos mantos. A velocidades de deslocamento do gelo pode atingir centenas de metros por ano, e geralmente, a corrente se estende por centenas de quilômetros e tem milhares de metros de largura. As margens podem ser fraturadas com fendas expostas. A maior delas é a Zachariae, que abrange 16% do manto da Groenlândia – uma área duas vezes maior do que a da Jakobshavn.

Grönland Eisberg
Derretimento na Groenlândia contribui anualmente para a elevação do nível do mar em 0,5 milímetrosFoto: AP

A Zachariae costumava drenar o gelo lentamente, pois tinha que passar por detritos de gelos flutuantes. Mas agora, com o recuo da camada, essa barreira está menor, fazendo com que a velocidade da corrente aumente e retire o gelo das profundezas do manto.

"Isso sugere um possível mecanismo de feedback positivo, no qual o recuo da geleira de descarga é causado, por um lado, pelo aquecimento do ar e, por outro, por dinâmicas glaciais, conduzindo ao aumento da dinâmica de perda do gelo superior. Isso sugere que a contribuição da Groenlândia para a elevação do nível do mar pode ser bem maior no futuro", afirma Bevis.

Nível do mar

Para o diretor da pesquisa, Shfaqat Abbas Khan, a descoberta é preocupante. "Já sabíamos sobre o aumento da perda de volume do manto de gelo da Groenlândia ao longo da última década, mas a crescente contribuição da região nordeste é nova e muito surpreendente", reforça o pesquisador.

A GNET usa a elasticidade natural da Terra para medir a massa do manto de gelo. Mais de 50 estações da rede estão instaladas na Groenlândia. Com as medições, os pesquisadores descobriram que o manto de gelo dessa região perdeu cerca de 10 bilhões de toneladas por ano entre abril de 2003 e abril de 2012.

O gelo derretido do manto da Groenlândia é um dos maiores responsáveis pelo aumento do nível do mar nos últimos 20 anos, sendo a fonte de 0,5 milímetros dos 3,2 milímetros de elevação por ano.