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Zambézia: População ameaça plantações de empresa de celulose

6 de julho de 2022

Populares no distrito de Ile, na Zambézia, ameaçam incendiar maquinaria e plantações de eucaliptos da Portucel Moçambique. Os moradores acusam a empresa de falsas promessas aquando do início do plantio há cinco anos.

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Mosambik Streit um Eukalyptus-Plantagen
Foto: Marcelino Mueia, DW

A Portucel Moçambique, empresa de capitais estrangeiros e de direito moçambicano, criada em 2009 pelo grupo português Navigator, é, nomeadamente, acusadada de ter mentido ao povo de Ile, quando chegou ao distrito há mais de cinco anos, prometendo, na altura, bons empregos aos residentes locais. Na realidade a empresa terá usurpado terras de camponeses locais para desenvolver um projeto de plantio de eucaliptos, dizem agora as vozes mais críticas.

De facto, a Portucel está há mais de cinco anos a desenvolver no distrito de Ile, na Zambézia, projetos de plantio de eucaliptos, matéria-prima para produção de pasta de papel, madeira e postes de energia elétrica, entre outros fins.

Mas alguns membros da população - que preferem não ser identificados por temerem represálias - insistem: a empresa terá usurpado as suas terras, prometendo-lhes emprego e melhoria das condições de vida, sendo que essas promessas que nunca terão sido cumpridas.

"Promessas nunca foram cumpridas"

"Desde que começaram a plantar eucaliptos em 2016, diziam que esta machamba é de Governo, deixa! As pessoas deixavam porque ameaçavam levá-las para a cadeia. As pessoas por medo deixavam a machamba e colocavam eucaliptos. Diziam que iam construir escolas, hospitais, estradas e pontes. Diziam que haveria trabalho para a comunidade. Mas nada disso está a acontecer", afirma um cidadão, pedindo anonimato.

Mosambik Streit um Eukalyptus-Plantagen
População das aldeias nos distrito de Ile, província da Zambézia, sente-se enganada pela empresa Portucel MoçambiqueFoto: Marcelino Mueia, DW

Muitos residentes estão enfurecidos. Dizem que já contactaram as autoridades governamentais do distrito para denunciar a situação, mas nunca foram ouvidos. Agora ameaçam fazer justiça própria: "Temos machados, temos fogo, vamos incendiar as máquinas quando estiverem a passar nas nossas machambas. Não saímos daqui para ir a Portugal buscar eucaliptos. O Governo quer atrapalhar-nos, sabotar a nossa terra para o bem deles, e não para o bem da população, vamos cortar os eucaliptos porque não vemos o que o Governo está fazer", afirma um dos contestatários aos microfones da DW África.

Portucel tem vários projetos na Zambézia 

Além do distrito de Ile, a Portucel também desenvolve um projeto semelhante nos distritos de Namarroi e Mulevala, norte da província da Zambézia. E nessas regiões a situação está também envolta em polémica, afirmam os populares no disrito de Ile.

Mosambik Streit um Eukalyptus-Plantagen
Augusto Correia: "A empresa ajuda as populações"Foto: Marcelino Mueia, DW

O diretor dos Serviços Distritais de Atividades Económicas de Ile, Augusto Correia, contactado pela DW, mostra-se menos crítico e defende mesmo a Portucel Moçambique, afirmando que a empresa tem apoiado a população. "A empresa o que está fazer é de forma progressiva. Em 2019, fez 13 fontes de água, agora a Portucel vai fazer a entrega de bolas de futebol em quase todas as escolas nas localidades onde tem as suas plantações. No distrito de Ile 90% das sementes distribuidas aos agricultores vêm da Portucel".

A população, por sua vez, desmente as autoridades: "No distrito de Mulevala, não há furos de água da Portucel. Passamos a fazer pesquisas e a falar com a comunidade e só encontramos dois furos que estão avariados. A semente que eles estão a dizer que dão e beneficia a comunidade, a comunidade não está a beneficiar de nada, eles arrancaram-nos a nossa terra e não temos como [trabalhar], levaram as nossas machambas".

Problemas ambientais

Mosambik Streit um Eukalyptus-Plantagen
Timóteo José: "O eucalipto é uma árvore que consome muita água e prejudica outras culturas"Foto: Marcelino Mueia, DW

O coordenador da União dos Camponeses da Zambézia, Timóteo José, aponta também problemas ambientais neste conflito entre a população e a Portucel.

"Temos algumas fontes de água que nunca secaram, mas agora já perderam o seu caudal. Há que dizer que a água mexe com tudo, mexe por exemplo com a produção. É a água que a comunidade usa também para a higiene pessoal, para beber, etc. O eucalipto é uma planta que pode consumir 600 litros por dia, imagine milhões de plantas! O que é que isso representa para o distrito e para a comunidade, que está a perder grande parte da sua área para a produção!"

A DW África na Zambézia tentou contactar a Portucel Moçambique, para recolher a reação da empresa, mas não obteve sucesso.

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