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Violência eleitoral passada ensombra Quénia que prepara novas eleições

4 de fevereiro de 2013

No próximo dia 4 de março os quenianos vão às urnas e para muitos deles, essas eleições gerais trazem más recordações. Há cinco anos, o escrutínio naquele país africano ficou manchado por graves incidentes.

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Protesto da oposição em Kisumu, Quénia, em janeiro de 2008
Protesto da oposição em Kisumu, Quénia, em janeiro de 2008Foto: AP

Confrontos entre comunidades causaram a morte de mais de 1100 pessoas. Cerca de 650 mil pessoas perderam os seus haveres, incluindo casas. No vale do Rift, a cerca de 200 kms a noroeste de Nairobi, esses números reenviam as pessoas para um passado doloroso.

Como a loja de Peter Njechia, várias outras casas foram incendiadas: "Foi a minha loja.Todas as mercadorias desapareceram queimadas ou roubadas. Não conseguimos salvar nada."

Este drama ocorreu durante os confrontos étnicos de 2008. A única estrada asfaltada em Ndefo divide a aldeia ao meio. De um lado, vivem os Kikuyu, o maior grupo étnico do país, e do outro lado, os Kalenjin.

Há convivio étnico?

Este tipo de gás teria sido usado contra a polícia, nos confrontos pós-eleitorais de 2008
Este tipo de gás teria sido usado contra a polícia, nos confrontos pós-eleitorais de 2008Foto: AP

Cinco anos depois desses incidentes graves, Grace Wanjiru fala das relações entre as duas comunidades: "No início, nós praticamente não conversávamos com eles, mas atualmente a situação melhorou. Já tivemos vários encontros e trocamos algumas ideias.Tudo regressou novamente ao normal."

Mesmo que Grave Wanjitu afirme que agora as coisas vão melhor, Peter Njechia pensa de outra forma: "Reconciliação? Onde e quando? Será que se pode reconciliar enquanto não houver um pedido de perdão?"

Em 2007, recorde-se, os Kalenjin votaram a favor do opositor Raila Odinga. Os Kikuyu, votaram para Mwai Kibaki, o vencedor das eleições. E para se vingarem, os apoiantes de Odinga teriam atacado os de Mwai Kibaki.

Para Martin Brown, um jovem queniano que trabalha num projeto para a paz e à juventude, ou espécie da Comissão Verdade e Reconciliação que o governo lançou após o massacre, esta comissão ainda não conseguiu reconciliar as populações desavindas.

As querelas entre comunidades persistem, como afirma Brown:"Enquanto pensarmos desta maneira, nunca iremos conseguir resolver o problema."

De acordo com o jovem no Quénia as coisas não estão sendo definidas a partir das próprias competências, mas com base em critérios étnicos, com conotações negativas. "Aqui, a origem étnica simplestemente está enraizada
na forma como nos educaram."

Jovens são preponderantes no convívio

Mwai Kibaki, foi reeleito presidente do Quénia em dezembro de 2007, facto que desencadeou a violência no país
Mwai Kibaki, foi reeleito presidente do Quénia em dezembro de 2007, facto que desencadeou a violência no paísFoto: AP Photo

Para lutar contra esses preconceitos, Martin Brown pensa que a formação dos jovens é uma das soluções. Segundo ele, é a melhor forma de dar uma nova visão do país real e assim permitir o interação pacífica das diferentes comunidades.

Entretanto, nessas primeiras eleições quenianas depois do escrutínio de 2007, dois candidatos continuam a dominar as sondagens: o primeiro-ministro Raila Odinga e o vice-primeiro-ministro, Uhuru Kenyata.

Mas quatro outras personalidades políticas têm peso suficiente para influenciar o resultado, principalmente no caso de uma segunda volta: Musalia Mudavadi, líder do Fórum Democrático Unido, também vice-ministro e apoiante de Raila Odinga, em 2007; Martha Karua, ex-ministra da justiça e durante muito tempo apoiante do presidente cessante, Mwai Kibaki, que não participa na corrida; Peter Kenneth, o mais jovem dos candidatos, com 47 anos, vice-ministro do Plano e membro do Congresso Nacional queniano que defende profundas reformas; e James Kiyapi, especialista em questões do meio ambiente e dirigente do partido da restauração e da construção do Quénia.

Origem da violência

Após um longo processo de negociações, Raila Odinga assumiu a cadeira do primeiro-ministro
Após um longo processo de negociações, Raila Odinga assumiu a cadeira do primeiro-ministroFoto: AP Photo

Depois das eleições de 2007, o candidato Raila Odinga não aceitou os resultados que davam vitória a Mwai Kibaki. Ele disse que o processo foi fraudulento, por exemplo na contagem de votos. Isso desencadeou uma onda violentos protestos que tomou proporções étnicas.

No início de 2013, cerca de 10 pessoas foram mortas e outras ficaram feridas em um ataque de retaliação na região do delta do rio Tana, no sudeste do país.

Nos últimos meses, confrontos entre grupos tribais, sobretudo no leste do Quénia, fizeram mais de uma centena de mortos, agravando o clima de tensão em relação às eleições previstas para março próximo.

Autora: Maya Braun / António Rocha
Edição: Nádia Issufo / Bettina Riffel

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