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Um milionário ao lado de Zuma na liderança do ANC

Correia da Silva, Guilherme18 de dezembro de 2012

Jacob Zuma foi reeleito para a presidência do Congresso Nacional Africano, o ANC. Ao seu lado estará Cyril Ramaphosa, eleito vice-presidente. Mas o regresso do empresário à política tem gerado controvérsia.

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"Vamos reduzir a fosso entre os membros do partido e a sua liderança". Foi esta a tarefa a que se comprometeu o presidente sul-africano, Jacob Zuma, na conferência nacional do ANC, perante 4 mil delegados do partido. Zuma foi reeleito esta terça-feira (18.12) como líder do ANC por mais cinco anos. Os delegados deram ao presidente 2.978 votos contra 991 do vice-presidente do partido e único rival de Zuma à liderança do ANC, Kgalema Motlanthe.

Apesar das disputas internas no seio do partido, a nomeação de Zuma para um novo mandato não surpreendeu. As filiais locais do partido e as influentes organizações de jovens e de mulheres já se tinham pronunciado, em grande maioria, a favor de Jacob Zuma.

"Problemas do partido não estão resolvidos"

O director do Centro para o Estudo da Democracia da Universidade de Joanesburgo, Steven Friedman, comenta os resultados sublinhando que agora, existe "uma liderança eleita com uma grande maioria". O que não quer dizer que os problemas fundamentais do partido estão resolvidos, na opinião do analista: "O presidente Zuma identificou-os durante o discurso no congresso. Mas, infelizmente, o ANC é melhor a identificar os problemas do que a encontrar formas de os resolver."

Com a eleição de Cyril Ramaphosa para vice-presidente do partido, regressa aos palcos políticos um peso-pesado da luta anti-apartheid.

Analistas consideram que Ramaphosa poderá trazer ar fresco à política sul-africana. O ex-secretário-geral do ANC é um dirigente histórico do partido. Quando Ramaphosa foi eleito no congresso, com 75% dos votos, os delegados irromperam em aplausos. Mas há também ressalvas: Ramaphosa acumulou nos últimos anos uma fortuna como empresário. Além disso, o seu nome foi associado à morte violenta de 34 mineiros em greve na mina de Marikana, em meados de Agosto.

Ramaphosa desculpou-se, entretanto, pelo seu papel no sucedido. Os defensores da sua candidatura sublinharam os seus feitos na transição para a democracia plena no país e na elaboração de uma das mais modernas Constituições do mundo. Mas, para os críticos, Ramaphosa é a prova viva dos conflitos de interesses de políticos proeminentes com o "big business", o grande negócio - afinal, o dirigente está em vários conselhos de administração de grandes empresas.

"Vice" polémico deverá encontrar obstáculos

O analista Steven Friedman considera que Ramaphosa vai encontrar no futuro uma forte oposição dos sindicatos. Ainda assim, afirma "Ramaphosa tem uma grande credibilidade no mundo dos negócios, é muito popular na classe média e nos meios de comunicação". Por isso, o especialista supõe que "ele será em breve vice-presidente e vai, assim, desempenhar um papel mais proeminente no governo. Fica por esclarecer se o conteúdo da política vai melhorar."

Hein Möllers acompanha há décadas os acontecimentos na África do Sul para o Observatório da África Austral (o ISSA), próximo dos sindicatos. De acordo com o analista, a maioria dos sul-africanos ainda não beneficiou da democracia. E a paz social está seriamente ameaçada. Por esta razão, explica, "a nova liderança vai ter sobretudo a tarefa de conseguir um maior equilíbrio entre os diferentes grupos populacionais, e os grupos com maiores e menores rendimentos na África do Sul."

Autores: Ludger Schadomsky / Guilherme Correia da Silva
Edição: Maria João Pinto / António Rocha