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Um ano depois de Kadhafi

19 de outubro de 2012

Durante mais de quarenta anos, o antigo líder líbio marcou a economia e a política no continente africano. Como está África, um ano após a morte de Kadhafi, a 20 de Outubro de 2011?

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Líbio senta-se junto a graffiti de Kadhafi, em Bengazi, no dia da morte do líder líbio, a 20 de Outubro
Foto: AP

Mouammar Kadhafi levou investimentos e intrigas políticas ao continente. Mas o antigo líder líbio também teve a ideia de uma nova União Africana de países que teriam mais competências que a antiga Organização da Unidade Africana (OUA). O antigo dirigente da Líbia sonhava comandar os Estados Unidos da África.

Mouammar Kadhafi tinha muitos rostos. Nos países ocidentais, era visto como o déspota do deserto, inescrupuloso e excêntrico. Mas que imagem Kadhafi tem na África, um ano após a sua morte pelas mãos de rebeldes que durante meses combateram seu governo em 2011?

O fim dos investimentos líbios

O ex-líder líbio era um financiador procurado da economia africana. Existem investimentos líbios em todo o continente: hoteis de luxo do Quênia até o Gana, fábricas de borracha na Libéria, produção de sucos de fruto na Guiné Conacri, companhias telefônicas e postos de combustível em toda a África Ocidental.

Porém, durante a guerra entre contestatários do regime de Kadhafi e forças que o apoiavam, entre fevereiro e outubro de 2011, os países africanos acabaram por seguir as diretrizes de uma resolução das Nações Unidas, congelando o patrimônio estrangeiro e as participações em negócios do clã Kadhafi. Hoje, as sanções não valem mais. E ainda existe a Agência de Investimentos da Líbia, de sigla inglesa LIA. Mas o capital da LIA é dos tempos anteriores à crise líbia. E nem o novo governo sabe onde está alocado o dinheiro, e quanto dele.

Por isso, os investimentos líbios agora acabaram, diz Sebastian Spio-Garbrah. Segundo o fundador da consultoria DaMina, com sede em Nova York, que faz análises de risco para a África, "a Líbia não tem dinheiro. A indústria petrolífera parece estar quebrando e a situação da segurança é péssima. Não existem novos investimentos da Líbia em países africanos".

"União Africana sentia-se coagida por Kadhafi", diz especialista
"União Africana sentia-se coagida por Kadhafi", diz especialistaFoto: picture alliance/dpa
Em 40 anos, Kadhaffi nacionalizou grande parte das actividades económicas líbias e investiu em massa no continente africano
Em 40 anos, Kadhafi nacionalizou grande parte das actividades económicas líbias e investiu em massa no continente africanoFoto: AFP/Getty Images

Queda da economia e desconfiança política

De acordo com Sebastian Spio-Garbrah, para muitos países africanos, a morte de Mouammar Kadhafi representa uma perda econômica. Muitos presidentes africanos desconfiam, também, do novo governo líbio.

E alguns até se aproveitam do caos no país. O controle dos negócios líbios estava sob a égide dos países africanos quando valiam as sanções da ONU. Muitos desses países não querem abdicar desse controle, dizem especialistas ouvidos pela DW.

Mas o que aconteceu com os investimentos políticos? E a visão panafricana, já que a atual União Africana foi originada por uma iniciativa de Kadhafi?

Ulf Engel, professor de africanística da universidade alemã de Leipzig, acha que uma ideia como os Estados Unidos da África não faz mais parte da pauta atual. Segundo Engel, as ambições de poder de Kadhafi, que queria liderar os Estados Unidos da África, eram consideradas exageradas há bastante tempo.

"A maioria dos Estados membros da União Africana e a própria UA estavam se sentindo coagidos por Kadhafi. No passado, tentaram evitar agendas concretas, apesar de já existir um documento de um comitê de direção que previa a implementação desses Estados Unidos africanos até 2017", explica o especialista.

União Africana perde financiamento

O fato de Kadhafi ter voz importante no continente africano também tinha a ver com dinheiro. A Líbia contribuiu com 15% do orçamento dos Estados Unidos da África. Kadhafi também pagava as contribuições de países com problemas financeiros, o que críticos definem como compra de votos para conseguir alianças políticas. Segundo Ulf Engel, porém, esta prática não é incomum na União Africana.

Sem a Líbia, portanto, a União Africana agora tem um problema de financiamento. Apesar disso, sem as exigências de poder de Kadhafi, a União Africana seria mais efetiva, na opinião de Ulf Engel. "Das minhas conversas na UA, tenho a impressão de que o ambiente está menos carregado", afirma, justificando: "porque os países não se preocupam com ideias que tenham impacto midiático e que não podem ser concretizadas, mas sim como integrar melhor as instituições que já existem."

Um ano depois de Kadhafi, novos atores estão também sob os holofotes: politicamente, a África do Sul poderá ganhar mais força com Nkosazana Dlamini-Zuma à frente da Comissão da União Africana. E também já existem outros investidores econômicos: a nova sede da União Africana em Adis Abeba, capital da Etiópia, um edifício de 200 milhões de dólares, é um presente dos chineses.

Autora: Vera Kern/Renate Krieger
Edição: Maria João Pinto/António Rocha

Apesar de ter perdido apoio financeiro da Líbia, UA tem novos investidores
Apesar de ter perdido apoio financeiro da Líbia, UA tem novos investidoresFoto: DW

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