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Tribunal em Angola prossegue processo contra jovens revolucionários

Cascais,António23 de setembro de 2013

Oito jovens, acusados de distúrbios, atos de vandalismo e desobediência, ficaram em liberdade condicional, mas sete deles terão que pagar, até terça-feira, 2.000 dólares de caução.

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Em Angola, oito jovens do "movimento revolucionário" foram apresentados na segunda-feira (23.09.) em tribunal, acusados de distúrbios, atos de vandalismo e desobediência, alegadamente cometidos nos passados dias 19 e 20 de setembro, dias em que teriam participado em manifestações proibidas contra o regime do presidente José Eduardo dos Santos.

Sete dos jovens saíram, provisoriamente em liberdade, sob caução, devendo cada um pagar Kz 200.000 (2.000 USD). Um dos jovens saiu sem caução, pois foi absolvido. Os que saem sob caução voltarão a julgamento após o fim de novas investigações.

Adolfo Campos é um dos jovens que estiveram no tribunal de Polícia de Luanda. A DW África conseguiu contactá-lo telefonicamente, poucos minutos depois de ter saído do tribunal em liberdade.

"Fomos interpelados e torturados pela polícia"

Segundo Campos, o Tribunal fez duas acusações "uma que é acerca da manifestação do dia 19 e a outra do dia 20, alegando que fizemos distúrbios à saída do tribunal... a gente era para ir para casa para e voltar na segunda-feira. Então fomos interpelados pela polícia de intervenção rápida. E alegadamente não só fomos interpelados como também fomos torturados pelos mesmos".

Esta segunda feira (23.09), o tribunal informou os jovens que tinham "outro caso, em que eram acusados de distúrbios, o que é uma pura mentira." Segundo Adolfo, "eles nem queriam ouvir a nossa versão. Infelizmente só ouviram o que policia disse e não queriam ouvir o que a gente tinha para dizer. Então os dois advogados defenderam-nos até ao fim. Quando tudo acabou fomos informados que cada um de nós tem que pagar 200 mil kwanzas, o que equivale a dois mil dólares ".

Belenguete Kauelele Weza é outro dos jovens interrogados pelo tribunal e confiou à DW África que os advogados vão pagar os dois mil dólares porque "não temos noção onde vamos retirar essa quantia, não temos esse dinheiro".

"Estamos dispostos a doar a nossa vida no altar da pátria"

Os jovens deixaram bem claro que apesar dessas decisões do tribunal ou das ameaças não temem pelas suas vidas, nem tão pouco pensam parar com as manifestações: "Nem pensar", disse Kauelele Weza, para acrescentar que "o nosso lema é liberdade até à morte. Estamos dispostos a doar a nossa vida no altar da pátria e pensamos que há muitas injustiças neste pais, temos que consolidar a democracia no pais, temos que destituir José Eduardo dos Santos, porque ele é o mentor número um dos sofrimento do povo Angolano", concluiu.

Entretanto, os dois jornalistas detidos na sexta-feira passada (20.09.) quando tentavam entrevistar os jovens manifestantes, Rafael Marques e Alexandre Neto Solombe, estiveram presentes também no tribunal de Polícia de Luanda, oferecendo-se como testemunhas em defesa dos jovens. A DW África pediu o depoimento de Rafael Marques:

"No caso dos oito jovens manifestantes, dois foram detidos no bairro de São Paulo, que se localiza a vários quilómetros da zona da manifestação, quando regressavam à casa e foram acusados de terem feito uma manifestação, os dois sozinhos". Marques afirma ainda que "tal era a confusão, por falta de provas materiais sobre o que realmente os réus tinham cometido, que a juíza decidiu devolver o processo à direção de investigação criminal, para que então possa apresentar uma queixa e especificar, de que crime são acusados", vincou o ativista e jornalista Rafael Marques.

O que está por trás da repressão?

Observadores interrogam-se sobre o que poderá estar por trás desta onda de repressão contra jovens manifestantes e até a jornalistas. Será que as autoridades angolanas estão com medo de perder o controlo da situação, questionam. Ou será apenas excesso de zelo por parte das forças de segurança?

Para José Patrocínio, diretor da organização da sociedade civil, OMUNGA, "há em Angola muita falta de hábito de ter vozes contestatárias. O MPLA (o partido no poder) quer sempre unanimidade. O grupo dos jovens revolucionários já tem um espaço enorme e isso preocupa o regime: tem espaço nas redes sociais e até na Comissão da União Africana, onde até já entregou cartas de protesto contra o presidente angolano. Os jovens são pessoas com argumentos."

O regime quer dar uma imagem de Angola que não existe

Por seu turno, Filomeno Vieira Lopes, Secretário Geral do Bloco Democrático de Angola, partido que tem acompanhado o percurso do movimento jovem revolucionário em Angola, destaca que o regime quer passar uma imagem que na verdade não existe.

"O regime quer dar a ideia que existe uma paz social tumular. Portanto: qualquer pequena perturbação que haja e que seja contra a imagem que o regime está efectivamente a criar, provoca uma reação extremamente violenta".

Segundo Vieira Lopes, as prisões são incompreensíveis, "inclusive as prisões dos jornalistas e a forma como elas são efectuadas. Não se percebe os critérios da própria polícia, nem do poder judicial".