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Suspensão de exportações de carvão pode ter consequências para economia moçambicana

De Almeida Barroso, Marta Cristina27 de junho de 2013

A empresa mineira anglo-australiana Rio Tinto suspendeu as exportações de carvão de Moçambique. A suspensão poderá ter um impacto negativo não só para o gigante mineiro, como também para a economia moçambicana.

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A suspensão das exportações de carvão de Moçambique pela empresa mineira Rio Tinto veio depois de ameaças feitas por ex-guerrilheiros contra a linha ferroviária de Sena, da qual depende o transporte do carvão. A Linha de Sena liga a localidade de Moatize, na província de Tete - onde se encontram grandes reservas de carvão e onde a Rio Tinto, entre outros gigantes mineiros, opera - e a cidade portuária da Beira, de onde é exportado o carvão de Tete.

Já esta segunda-feira (24.06.), um dos comboios da Rio Tinto descarrilou na fronteira com o Malawi, sem que haja ainda certezas sobre as causas do incidente. O governador da província de Tete, Ratxide Gogo, adiantou apenas que estava em curso uma investigação.

Para a empresa, a decisão da suspensão das exportações, anunciada esta quarta-feira (26.06.), também pelo governador de Tete, trará certamente prejuízos, diz Paula Carvalho, economista-chefe do Banco Português de Investimentos, BPI, especializada em Moçambique, visto que o investimento da empresa mineira terá sido feito, tendo em conta determinada previsão de produção e escoamento da produção para o mercado externo.

Perde a Rio Tinto e perde a economia nacional

Atualmente, uma parte crescente da atividade económica de Moçambique está a ter origem no setor da indústria extrativa, diz Paula Carvalho. "Em 2012, a indústria extrativa, sobretudo o aumento da produção do carvão, contribuiu com cerca de 0,8 pontos percentuais para o crescimento [económico de Moçambique]".

Na base de todas as previsões de organismos internacionais, que, segundo a analista, "antecipam o crescimento da economia moçambicana acima de 8% ao ano, está a expectativa de aumento da capacidade de produção do setor mineiro e consequente exportação". Daí que as consequências possam vir a ser, de facto, negativas e possam implicar "eventualmente um abrandamento de canalização de investimento direto estrangeiro para o país".

De acordo com Paula Carvalho, o investimento direto estrangeiro para Moçambique duplicou em 2012, tendo sido canalizado sobretudo para estes megaprojetos de investimento, como a exploração de carvão, cujo objetivo é direcionado para a exportação. Tal significa que o investimento direto estrangeiro poderá ver cortes se a situação de tensão a nível político continuar no país. Porque, afinal, a estabilidade política é uma das condições fundamentais para a atração de investimento.

Tensão pode ter repercussões na ajuda e no investimento direto estrangeiro

"As exportações", afirma a economista portuguesa, "nao têm ainda um peso muito expressivo na economia de Moçambique: pesam cerca de 25% do Produto Interno Bruto". No entanto, há muitos setores de atividade a nível interno que estão relacionados com este setor exportador, nomeadamente o setor financeiro, o setor dos transportes, a construção "e, portanto, a interrupção das exportações acabaria por ter reflexos mesmo nos setores não transacionáveis".

Além disso, a situação tensa também poderia ter reflexo na canalização da ajuda ao desenvolvimento, da qual Moçambique também depende. Isto porque, para a economia moçambicana, o investimento direto estrangeiro, os megaprojetos e a ajuda ao desenvolvimento são, precisamente, fatores fundamentais.

Na semana passada, a Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO, ex-movimento guerrilheiro e maior partido da oposição, ameaçou ainda bloquear o tráfego no centro do país para travar um alegado reforço do exército e da polícia na Gorongosa, antiga base central do movimento, onde se encontra o Presidente da força política, Afonso Dhlakama.

Bloqueio da zona centro traria impactos muitos negativos

Ora, um dos piores cenários para a economia moçambicana seria o encerramento de todas as ligações na zona Centro - tanto as rodoviárias como as ferroviárias, ou seja, o Corredor da Beira, a Estrada Nacional 1 e a Linha de Sena, já que a grande maioria dos recursos naturais se encontra na região mais a Norte.

A Renamo exige, entre outros, uma melhor representação nas forças armadas nacionais e um quinhão mais importante das receitas de gás e carvão, mas nem na sétima ronda de negociações com o Governo, realizada esta segunda-feira (24.06.), as duas partes alcançaram um consenso de forma a travar a crise político-militar.