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DesastresMadagáscar

Sul de Madagáscar enfrenta a pior seca dos últimos 40 anos

Jana Genth
13 de maio de 2021

Organizações humanitárias estimam que um milhão de pessoas estejam ameaçadas pela fome numa região já considerada uma das mais pobres do mundo. "Nunca tinha visto crianças tão subnutridas", diz responsável do PAM.

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Madagaskar I  Hunger
Foto: Laetitia Bezain/AP/picture alliance

É difícil imaginar o que está a acontecer no sul de Madagáscar - os observadores descrevem a situação das pessoas em terras devastadas como quase apocalípticas.

"Já trabalhei antes em algumas situações difíceis, na República Centro-Africana, no Sudão e no Congo, mas nunca tinha visto crianças tão subnutridas. O que me impressionou em particular foi o número de crianças que são apenas pele e ossos", afirma Arduino Mangoni, do Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas (ONU).

É uma questão de pura sobrevivência, dizem as organizações de ajuda humanitária. Kenneth Bowen dirige o escritório da Ação Agrária Alemã na capital, Antananarivo: "Entramos nas comunidades situadas no extremo sul, que cobrem uma área enorme, e não podemos estar em todo o lado. Mas o nosso pessoal que já visitou algumas aldeias diz que agora seria tempo de colheita para os agricultores de lá. Mas como não está a chover, muitos campos transformaram-se em pó, há tempestades de areia, pó por todo o lado. Assim, há pouco para colher, definitivamente muito menos do que nos anos anteriores".

As regiões no extremo sul do país não entraram subitamente em crise; a área já era considerada uma das mais pobres do mundo. Numa das aldeias afetadas pela seca, uma mãe teve de enterrar os seus filhos já em janeiro por causa da fome.

"Os meus filhos não comeram durante três dias e depois morreram porque não consegui alimentá-los. Tenho a certeza de que foi a fome que os matou. Não é outra coisa, não é a COVID-19, é a fome. Saí de manhã cedo e voltei à noite, e encontrei a minha filha morta", conta.

Madagaskar NGO Action Contre la Faim
Trabalhador da ONG Ação Contra a Fome dá água a uma criança na aldeia de Ifotaka.Foto: Rijasolo/AFP

Refugiados do clima

Para tentar sobreviver à fome, muitos residentes buscam alimentos nas poucas florestas que ainda resistem em pé. Depois de chover algumas semanas, além de folhas comestíveis, também encontram insetos.

"Veem-se crianças muito, muito magras. É tão triste vê-los, tão famintos. Por vezes, quando as plantas crescem após uma chuva, os gafanhotos também aparecem. As pessoas recolhem-nos e comem-nos, cozinham os insetos em vez de arroz", explica Rose de Lima, que dirige a Associação Internacional de Caridade em Manakara, uma cidade da costa.

Devido à situação alarmante, já há milhares de refugiados climáticos a caminho de cidades mais a norte. A necessidade de uma ação urgente já não é apenas para o Governo da capital, mas também para as organizações, diz Kenneth Bowen, da Ação Agrária Alemã: "É uma crise esquecida, quase um país esquecido. É a pior seca do extremo sul em mais de 40 anos".

Para piorar a situação, a pandemia de Covid-19 não está controlada em Madagáscar. A viagem dentro do país é ainda mais difícil, complicando a vida daqueles que querem deixar as suas aldeias.

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