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Falhas de eletricidade: analista defende "políticas sérias"

22 de março de 2017

Defendendo que no mesmo rio não se deviam construir duas grandes barragens, o especialista angolano David Kisadila afirma que enquanto a distribuição “não obedecer a uma gestão responsável”, os problemas manter-se-ão.

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David Kisadia Angola
David KisadilaFoto: Privat

As falhas na eletricidade são um problema antigo em Angola. A situação agravou-se quando a Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade (ENDE) começou a fazer restrições na distribuição, aquando do enchimento da albufeira de Laúca. Uma das cidades mais afetadas pelos cortes da distribuição é a capital, Luanda.

A DW África entrevistou o especialista em Políticas Públicas, David Kisadila. Segundo o responsável, todo o país sofre com os cortes de energia.

DW África: As restrições na distribuição de eletricidade só estão a acontecer na capital ou em todo o país?

David Kisadila (DK): A situação é generalizada em todo o país, portanto, não é nova. E já acontece há várias décadas. A primeira explicação era o fator de guerra. A guerra terminou há mais de quinze anos. A razão agora é Laúca. Vamos esperar, uma vez que estamos em ano de eleições - porque tudo agora se está a fazer à pressa com objetivos eleitorais, para obter eleitorado. Mas enquanto (a distribuição) não obedecer a uma gestão descentralizada, responsável e bem planificada, nós estaremos a viver os mesmos problemas.

DW África: O que está a causar essa falta ainda mais constante de eletricidade em Angola?

Angola Luanda Rio Kwanza
Rio Kwanza, AngolaFoto: DW/C.V. Teixeira

DK: A barragem de Laúca está a ser construída no rio Kwanza. No rio Kwanza, temos umas outra barragem que é a de Capanda. Imagine, no mesmo rio termos, duas grandes barragens. Isto faz com que automaticamente a mesma água seja absorvida para duas barragens. Quando fecha a barragem de Laúca para a albufeira, automaticamente este período de compensação vai reduzir o nível do caudal que possa de facto garantir uma produção efetiva daquilo que é a capacidade instalada.

DW África: Esta é uma boa forma de resolver o problema?

DK: Não deixa de ser uma solução do problema, mas Laúca foi um investimento de muito dinheiro. Se pudéssemos potenciar outros grandes rios para poder abastecer de forma mais global o país seria o ideal. Eu sou daqueles que defendem que no mesmo rio não se deveria construir duas grandes barragens, devido aos imprevistos de ordem climatérica que poderão ocorrer e que podem criar falhas ao mesmo tempo em duas grandes barragens e cujos prejuízos poderão ser maiores.

DW África: Qual seria, na sua opinião, a solução mais recomendada?

DK: Melhorar o sistema de distribuição de energia a domicílio de maneira a que a capacidade instalada, no que concerne à distribuição, melhore de acordo com a densidade (populacional) e a necessidade e o consumo de cada cidadão. Por outro lado, nós temos só uma empresa que é a Empresa Nacional de Distribuição de Energia. Devia-se privatizar ou criar outras empresas para poder fazer uma gestão, se calhar até municipalizada, da energia.

DW África: Como interpreta a declaração do porta-voz da ENDE, Pedro Bila, à Angop, de que não podem cobrar 100% quando o abastecimento não foi feito nesta percentagem, ou seja, de que irá baixar os preços das faturas devido às falhas de até 12 horas no abastecimento energético?

DK: Isto é uma forma de falar, mas o que tem ocorrido é que há casas onde não existem contadores de energia no bairro. Ou seja, havendo ou não energia, o consumo não é controlado. Eles procedem à cobrança a partir de um estudo estimativo do consumo médio.

22.03.2017 Angola/cortes no abastecimento de energia - MP3-Mono

DW África: O que falta, afinal, para que o abastecimento de energia elétrica em Angola seja constante e estável?

DK: Políticas sérias. É preciso fazer um estudo apurado e um investimento que de facto vá diretamente para o objetivo a alcançar, porque nós infelizmente quando vamos ver os nossos orçamentos, são valores avultados. Mas em termos de implementação as pessoas não são sérias na aplicação dos fundos. Há desvios das verbas, fazendo com que muitas vezes não se faça o trabalho de acordo com o que foi orçamentado.