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Soldados ucranianos: "Não temos alternativa senão lutar"

Alexandra Indyukhova
26 de janeiro de 2023

A DW foi em reportagem até à frente da guerra na Ucrânia. Soldados de uma brigada blindada envolvida nos combates perto de Bakhmut explicam porque precisam de equipamentos ocidentais modernos.

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Guerra na Ucrânia
Foto: Libkos/AP/dpa/picture alliance

Um vento gelado varre a estepe nos arredores de Donetsk. O termómetro acusa 17 graus negativos. A frente de batalha, onde se combate pela supremacia sobre as cidades de Bakhmut e Soledar, fica a poucos quilómetros de distância. Soldados de uma brigada de tanques ucraniana treinam num descampado, poucos dias depois de terem sido revezados para uma breve pausa. Para chegar até aqui, foi preciso caminhar vários quilómetros a corta-mato.

"Então, é difícil andar com um colete à prova de bala? Os seus braços e pernas já estão congelados?" pergunta Ihor, um oficial da brigada blindada que acompanhou a repórter da DW. "Agora imagine os soldados deitados nas trincheiras geladas, sem poder acender fogareiros para não revelarem as suas posições", acrescenta.

Nem todos os soldados que falaram com a DW quiseram dar os seus nomes ou posar para uma foto. Alguns têm parentes nos territórios ocupados; muitas famílias desconhecem que eles estão a combater na frente.

'Não querem saber dos mortos deles na Rússia?'

De acordo com os oficiais da brigada blindada, nesta frente há dez soldados russos para cada soldado ucraniano. Do lado russo combatem, sobretudo, elementos do exército privado do "Grupo Wagner", que recruta para as suas fileiras prisioneiros nos calabouços russos.

Militares ucranianos
Os soldados uranianos dizem que precisam de material bélico moderno para vencerFoto: O. Indyukhova/DW

Um dos comandantes da brigada ucraniana, que diz chamar-se Oleh, conta que em Bakhmut e Soledar as posições são muito próximas. O combate, muitas vezes, é corpo a corpo: "Até conseguimos ouvir as ordens dadas pelos comandantes do inimigo".

Tal como todos os seus companheiros, Ihor, de cerca de 40 anos, aparenta estar exausto. "Os soldados ucranianos lutam no limite da força humana", diz, acrescentando que eles nem possibilidade têm para dormir, pois estão debaixo de fogo dia e noite, atacados constantemente pela infantaria russa.

Pequenos grupos de dez a 15 soldados russos movem-se "em ondas" rumo às posições ucranianas, diretamente para o fogo cruzado das trincheiras ucranianas, conta um oficial, também chamado Ihor. "Atiramos, eles morrem - há pilhas de corpos no campo. Aí vem o grupo seguinte. Não se ocupam nem sequer dos feridos. Avançam simplesmente na nossa direção", conta Ihor.

"Nós também temos baixas", acrescenta. "Mas eu não entendo: Eles têm perdas tão elevadas". Será que isso na Rússia não interessa a ninguém, pergunta Ilhor abismado.

"É difícil suportar isto, mas não há alternativa", diz o soldado Dmytro. "Eu quero e preciso defender o meu país, a minha família, para que tenhamos um futuro".

O 'legado' do tanque soviético

As forças ucranianas precisam de mais equipamentos e armas, de preferência não de fabrico soviético, para continuar a contraofensiva e libertar mais território ocupado, dizem os comandantes de brigada.

Troca de motor de um tanque do tipo T-72
Troca de motor de um tanque do tipo T-72 Foto: O. Indyukhova/DW

Os engenheiros mostram-nos alguns tanques soviéticos do tipo T-72 que precisam de ser concertados depois de terem entrado nos combates. Pelo chão estão espalhados caixas de ferramentas e geradores. Um camião com guindaste extraiu o bloco do motor de um tanque T-72.

O motor deixou de funcionar durante a batalha, mas "milagrosamente, o mecânico conseguiu ligá-lo e a tripulação salvou-se", diz um engenheiro chamado Andriy. "Vê este buraco no motor? É um tiro", acrescenta. O mecânico substitui o bloco antigo por um novo motor. "Novo", no entanto, é relativo. Todas as peças de reposição para o T-72 são feitas na Rússia, e a Ucrânia deixou de comprá-las há muito tempo. "Ainda temos peças sobresselentes em stock. Mas faltam algumas coisas. Então canibalizamos os nossos tanques russos danificados ou os que capturamos", explica Andriy.

O Exército ucraniano devia livrar-se do seu legado de tanques soviéticos, ou mesmo de todo o equipamento soviético, que, a ser ver, não tem comparação com o equipamento moderno e não serve para proteger as tropas. O vice-comandante Konstantin concorda que o Exército russo só pode ser derrotado com tecnologia moderna. Por isso, diz, o Exército ucraniano precisa de armas e equipamentos ocidentais.

À espera dos Leopard 2

O comandante diz que os ucranianos precisam com urgência de novos carros de combate para "completar a libertação do território ucraniano o mais rápido possível". Acrescenta que os soldados discutem sobre o que poderiam conseguir com os Leopard 2 alemães e sobre o debate que o fornecimento desencadeou na Alemanha. Discutem também os veículos blindados, o Marder alemão e o Bradley americano, prometidos pelos parceiros ocidentais.

Camiões do Exército ucraniano perto da linha de frente de Bakhmut
Camiões do Exército ucraniano perto da linha de frente de BakhmutFoto: O. Indyukhova/DW

"Do que precisamos neste momento é do Leopard – os visores de alta precisão e a visão noturna funcionam em qualquer clima", esclarece Konstantin. Mas, acima de tudo, "os russos têm medo do Leopard", afirma.

Enquanto isso, Serhiy solda um radiador velho de 50 anos. O mecânico, com mãos feridas do trabalho, está no Exército desde 2014.

"As Forças Armadas ucranianas precisam de equipamento ocidental, de preferência com peças sobresselentes e logística para a reparação", diz. Acrescenta estar convencido de que saberá consertar equipamento ocidental. As diferenças nos motores não são grandes, diz Serhijy. "O principal é que eu sei garantir que voltem sempre a funcionar".

Serhiy e sua equipa consertaram vários tanques, veículos de combate à infantaria e camiões debaixo de muita pressão. Os combates em Bakhmut e Soledar são cada vez mais ferozes, de modo que até os engenheiros do batalhão de tanques mal conseguem dormir. Dizem "permanecerão firmes".

"Esta guerra é terrível", confirma o oficial Ihor, mas não vê outra opção: "Temos que ganhar, para que possamos continuar a viver em liberdade".

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