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Sociedade civil apela ao cancelamento do CAN no Gabão e Guiné-Equatorial

20 de janeiro de 2012

Sábado (21.01) inicia-se o CAN 2012, que conta com 16 seleções. Os anfitriões, Gabão e Guiné-Equatorial, investiram enormes somas no evento. Mas, há quem questione a situação dos direitos humanos nos dois países.

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O presidente da Guiné-Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, num cartaz alusivo ao CAN 2012
O presidente da Guiné-Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, num cartaz alusivo ao CAN 2012Foto: REUTERS

O Gabão e a Guiné-Equatorial são dois países no coração de África infames pelos seus regimes autocráticos e a violação dos direitos do homem. A Guiné-Equatorial, por exemplo, um pequeno Estado com cerca de 700 000 habitantes, é governada com mão de ferro desde 1979 pelo Presidente Teodoro Obiang Nguema. Em 2009, após eleições presidenciais muito contestadas, Obiang voltou a ser proclamado Chefe do Estado, alegando ter ganho 95 por cento dos votos.

Marise Castro, especialista da Guiné-Equatorial na sede da organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional, em Londres, pinta um retrato sombrio da regência de Obiang.“A situação dos direitos humanos na Guiné-Equatorial foi sempre muito grave e difícil", salienta. Marise Castro elenca os problemas: " a opressão, a perseguição de opositores, a tortura, a prisão sem processo de opositores e alegados opositores e suas famílias, as sentenças de morte, a repressão da liberdade de opinião e imprensa, são constantes naquele país”.

As benesses do petróleo são apenas para alguns

A qualidade de vida da maioria da população é baixa, apesar da Guiné-Equatorial ser o terceiro maior produtor de petróleo a sul do Saará. O Presidente e a sua clique preferem gastar as receitas geradas pelo petróleo em moradias de luxo e carros de topo da gama, a investir em direitos humanos como a educação e a saúde.

Adeptos do Gabão
Adeptos do GabãoFoto: AP

Numa iniciativa considerada por muitos críticos uma tentativa de aumentar a sua legitimidade aos olhos do mundo, o Presidente tenta agora que o seu país seja aceite como membro de pleno direito pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

"Apesar das enormes riquezas, a população vive na maior pobreza. As condições dos setores de educação e saúde são praticamente surrealistas tendo em conta as possibilidades financeiras deste pequeno emirado africano”, comenta Florent Geel, diretor para a África da organização dos direitos do homem FIHD em Paris.

Indignação face aos gastos com o CAN 2012

Florent Geel avalia a situação no país vizinho, o Gabão, de forma um pouco mais positiva. Com 1,5 milhões de habitantes, também este é um país pequeno, governado, desde 2009, por Ali Bongo, filho e príncipe herdeiro do falecido Omar Bongo. Este último governou Gabão de forma autoritária durante 42 anos. Quem não partilhava as suas opiniões era corrompido ou perseguido. Para os observadores este é um motivo do subdesenvolvimento da sociedade civil naquele país.

Uma vista geral do estádio de Bata onde terá lugar a cerimónia inaugural do CAN 2012
Uma vista geral do estádio de Bata onde terá lugar a cerimónia inaugural do CAN 2012Foto: REUTERS

Contudo, pessoas como Marc Ona lutam para inverter a situação. Há anos que Ona se empenha por uma maior transparência nas receitas do petróleo. E não esconde a sua indignação perante os milhões gastos na construção de novos estádios para o Campeonato Africano de Futebol (CAN 2012), onde participam 16 equipas, entre elas de Angola. Este ativista considera que estas obras se fizeram às custas da população que sofre. Marc Ona é peremptório ao afirmar que dada violação repetida dos direitos humanos, o CAN 2012 não devia ser realizado no Gabão.

"Enquanto se prepara o campeonato, há estudantes na rua que protestam em manifestações violentamente reprimidas pela polícia. A universidade foi encerrada porque os estudantes exigem melhores condições de estudo e o pagamento das suas bolsas estatais, suspenso há seis meses", acusa Ona. Em vez disso, o Governo gastou mais de 600 milhões de euros na organização do CAN 2012. Ao mesmo tempo há falta de água potável em muitos bairros. " No Gabão as pessoas são mortas ou presas por se manifestarem. Será que a boa governação não devia ser um critério para a adjudicação de um campeonato internacional de futebol?”

Apelo ao cancelamento ficou sem resposta

Em Maio de 2011, Ona e ouros ativistas da sociedade civil escreveram aos organizadores do CAN 2012, a Federação Internacional do Futebol, FIFA, e a confederação africana, CAF. Apontando a situação dos direitos humanos, pediram às duas instituições que reconsiderassem a realização dos jogos no Gabão e na Guiné-Equatorial. Até hoje não receberam qualquer resposta.

Autor: Dirke Koepp/Cristina Krippahl
Edição: Helena Ferro de Gouveia/António Rocha