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Saber é poder

21 de junho de 2012

A educação é mais do que a simples aquisição de saber. O conhecimento possibilita o crescimento humano e a participação política. O que nem sempre é do interesse dos poderosos.

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educação
educaçãoFoto: Khawla Alatram, School Queen Rania Alabdllah

“O conhecimento em si mesmo é poder”. A célebre frase escrita pelo filósofo inglês Francis Bacon há quatro séculos serviu de fundamento filosófico à Idade Moderna. A sua tese é hoje mais atual do que nunca e explica porque a aquisição de conhecimento é a condição mais elementar para o crescimento económico e político, a democracia e a justiça social. Factos que podem ser comprovados diariamente em todo o mundo. Nesse sentido, os acontecimentos recentes no mundo árabe e no norte da África, a começar pela Revolução de Jasmim na Tunísia, são particularmente expressivos.

Perdedores passam a vitoriosos

Estudantes e intelectuais assumiram um papel crucial na Revolução de Jasmim na Tunísia
Estudantes e intelectuais assumiram um papel crucial na Revolução de Jasmim na TunísiaFoto: picture-alliance/dpa

Os movimentos de protesto da primavera Árabe foram sustidos pelos intelectuais e a classe média. Os mais jovens tiveram um papel particularmente ativo. Os estudantes e docentes com 20 a 35 anos sentiam que os regimes lhes tinham roubado todas as perspetivas de um futuro digno. De Rabat a Riade, foram sobretudo os médicos, engenheiros e jornalistas que lutaram por mais liberdade, mais participação, oportunidades justas de emprego e perspetivas reais. O combate ainda não está ganho, porque as conquistas devem agora ser alicerçadas em instituições democráticas.

Mais do que não ocupar espaço, como se diz no mundo que fala português, o saber reforça a participação, fator talvez subestimado pelos governantes árabes. Sem a aposta muito forte no ensino básico, secundário e superior nestes países nos últimos 20 anos, o movimento de protesto provavelmente não teria surgido agora. Segundo o Índice de Desenvolvimento Humano, há duas décadas os países árabes começaram a facilitar o acesso da população à educação, com excelentes resultados.

Também o Presidente tunisino deposto, Ben Ali, se empenhou a fundo pela reforma do ensino no seu país. Um número crescente de jovens começou a ter acesso a uma boa formação. Mas esta não lhes servia de nada, pois continuava vedado o caminho ao emprego, às oportunidades e à participação política e social. Os empregos e os cargos eram reservados à nomenclatura. Antes da revolução, a taxa de desemprego na Tunísia era de 40%. Ditadores como Ben Ali decerto não teriam apostado de forma tão consequente na Educação, se conhecessem de antemão o resultado emancipador dos seus esforços.

O acesso ao ensino varia muito de região para região
O acesso ao ensino varia muito de região para regiãoFoto: Fotolia/somenski

Um direito humano básico

Sem educação não há formação. Há muito que a comunidade internacional reconheceu o facto que é hoje a base do seu empenho por este direito humano. O segundo Objetivo do Milénio das Nações Unidas exige o ensino básico para todas as pessoas do mundo. Registam-se alguns progressos, mas estes são lentos e divergem muito de região para região. A taxa de crianças que frequentam o ensino básico subiu apenas sete por cento entre 1999 e 2009 para um total de 89%.

Já hoje se sabe que em muitas regiões da África e da Ásia o objetivo não vai ser atingido até 2015. Nas zonas em vias de desenvolvimento apenas 87 em 100 crianças completam o ensino básico. Em muitos países mais pobres, quatro de dez crianças abandonam a escola antes do fim do curso. As que vivem em zonas rurais ou de crise, ainda têm menos oportunidades de ensino. Ainda há muito que fazer.

Sem educação não há desenvolvimento
Sem educação não há desenvolvimentoFoto: Getty Images

Não há desenvolvimento humano sem educação

Não obstante, a experiência nos países emergentes, na Índia e na China, demonstra as grandes vantagens económicas da Educação. Nos anos 50 do século passado, as condições de vida na Coreia do Sul eram piores do que em muitos estados africanos hoje. A par como uma melhoria do setor da Saúde e acesso a contracetivos, a construção de um sistema de ensino com oportunidades iguais para homens e mulheres conduziram a uma redução da taxa da natalidade e um «boom» económico.

O crescimento económico em flecha da China também é um resultado da sede de saber: a Educação é um valor central para quase todos os chineses com menos de 25 anos. Ela determina a vida dos mais jovens. Mas a China também é um exemplo para o número ainda demasiado elevado de regimes que apostam mais no ensino sem aumentar a liberdade. Este modelo só funcionará enquanto tiverem o apoio da maioria da população.

Milhões de crianças em todo o mundo são exploradas como mão de obra barata e não podem frequentar a escola
Milhões de crianças em todo o mundo são exploradas como mão de obra barata e não podem frequentar a escolaFoto: AP

A vontade de participar

A longo prazo nenhum regime sem legitimação democrática poderá resistir às reivindicações de uma população educada, que conhece os seus direitos. Nessa altura abrem-se as perspetivas para uma transformação democrática, para mais participação política, como provam os acontecimentos em países como a Rússia, e, de forma mais atenuada, na China e nalguns estados do mundo árabe.

A situação é mais complicada em países como o Zimbabué, o Afeganistão e a Coreia do Norte. Enquanto a maioria aqui viver na pobreza, isolada do mundo pela propaganda política, sem acesso a educação nem informação independente, sem a possibilidade, portanto, de comparar o seu país com outros, os regimes e ditadores estarão seguros no poder. Mais uma razão para continuar a lutar pelo direito fundamental à educação.

A educação é um direito humano fundamental
A educação é um direito humano fundamentalFoto: picture alliance/dpa

Autora: Ute Schaeffer
Edição: Cristina Krippahl/António Rocha