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"Só o Presidente pode ordenar a libertação dos ativistas"

Sofia Diogo Mateus10 de agosto de 2015

Rafael Marques acompanhou uma das mães dos 15 ativistas detidos ao hospital após a repressão policial da marcha de sábado (08.08). O jornalista e ativista lamenta a forma como está a ser conduzido o processo dos jovens.

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Foto: DW/P. Ndomba

No sábado (08.08), a marcha dos familiares dos ativistas detidos em Angola foi parada por uma carga policial.

Durante o protesto, alguns dos manifestantes, incluindo membros das famílias, foram agredidos e até mordidos por cães da brigada canina. O jornalista Rafael Marques de Morais esteve presente na marcha e, esta segunda-feira (10.08), foi ao hospital com a mãe de Benedito Jeremias, um dos jovens ativistas.

GMF Foto Rafael Marques de Morais
Jornalista e ativista angolano, Rafael MarquesFoto: privat

DW África: O que foi fazer ao hospital? O que aconteceu à mãe do ativista?

Rafael Marques (RM): Fui prestar apoio à senhora Deolinda Luís, a mãe do Benedito Jeremias, um dos presos políticos. A senhora veio do Moxico, do leste de Angola, para prestar auxílio ao filho, na cadeia. O Benedito estava no lugar errado à hora errada. Nunca participou em ações de ativismo político e foi convidado por um amigo para ir ao debate onde [os jovens ativistas] estavam a discutir estas técnicas [as "180 técnicas pacíficas para destruir um ditador'', do livro ''Ferramentas para Destruir o Ditador'', da autoria do jornalista angolano Domingos da Cruz]. Passados quinze minutos, ele estava preso.

No sábado, a senhora juntou-se a outras mães e familiares para gritar "liberdade já", "libertem os nossos filhos". Ela estava na primeira linha da marcha com as outras mães, esposas e irmãs dos detidos. Foi maltratada, à bastonada, pela polícia e, depois, um cão polícia mordeu-lhe. Eu fui impedido de prestar apoio à senhora na altura e colocaram-me numa viatura policial.

DW África: Como começaram os confrontos?

RM: A confusão começou com um general a dar ordens a partir de um carro. A ordem foi: "espanquem-nos, comecem a bater" assim que as pessoas chegassem a uma zona onde a polícia as pudesse encurralar, um local sem saída.

As pessoas não interromperam o trânsito. Estavam a marchar nos passeios. Era um grupo pequeno que ia a cantar "libertem os nossos filhos", "libertem os nossos 15" Não houve cânticos contra o Governo. Não houve palavras de ordem contra o Presidente. Estas senhoras foram violentamente reprimidas pela Polícia Nacional simplesmente porque estavam a gritar "liberdade já". Não houve qualquer altercação, não houve provocação. Estavam indefesas. A primeira linha era constituída por mulheres. Obviamente que havia jovens, amigos e colegas, companheiros de luta dos detidos, que não poderiam deixar de estar presentes. E foram violentamente espancados. Eu próprio fui ameaçado de espancamento enquanto estava no carro da polícia.

DW África: A Procuradoria-Geral da República disse que o processo contra os 15 jovens, que está em fase de investigação, vai concluir dentro de alguns dias. Qual a sua expetativa em relação ao que aí vem?

"Só o Presidente angolano pode ordenar a libertação dos ativistas"

RM: O tenente Osvaldo Caholo, amigo de alguns desses jovens, foi detido sem sequer ter participado nestas reuniões. Mas foi detido porque o Governo precisava de criar a ideia de que os militares também estavam envolvidos. Como provas do seu processo, incluíram fotografias da sua formatura como licenciado do curso de Relações Internacionais, fotografias com a sua família. Isso é prova de golpe de Estado neste país.

Eles vão tomar a decisão que receberem dos seus superiores hierárquicos. Neste caso, essa será uma decisão que virá eventualmente do Palácio Presidencial. O Presidente veio a público falar de golpe de Estado - só ele é que pode desamarrar isso e dar ordem para libertar os jovens.

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