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Reféns do Boko Haram relatam violência extrema no cativeiro

Shafagh Laghai (Nairobi) / Maria João Pinto19 de agosto de 2015

Mais de um ano depois, continua a não haver sinais das mais de 200 estudantes raptadas pelo grupo extremista islâmico Boko Haram no nordeste da Nigéria. Mulheres e meninas que fugiram falam sobre o horror que viveram.

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Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Ola

Ninguém sabe se estão vivas as meninas raptadas pelo Boko Haram a 14 de abril de 2014 numa escola na localidade de Chibok, no estado de Borno, no nordeste da Nigéria. Mais de um ano depois, continua a não haver sinais das estudantes.

Tal como elas, muitas outras mulheres e meninas estão desaparecidas. Segundo a Amnistia Internacional, o Boko Haram sequestrou cerca de duas mil mulheres e crianças desde 2014.

Há seis anos que os extremistas islâmicos aterrorizam a população. Mais de 15 mil pessoas já morreram às mãos dos insurgentes nigerianos. Qualquer pessoa que não aceite seguir a ideologia do grupo tem de ser eliminada. O objetivo: criar um Estado islâmico independente na Nigéria.

Violência como arma

Entre as vítimas estão sempre mulheres e crianças, recrutadas à força, obrigadas a casar. Algumas conseguem fugir. Uma delas é Rebecca, que viveu cinco meses em cativeiro. "Queriam dar-me a um homem como sua mulher. Obrigaram-me a deitar e entrou um homem velho", recorda. "Comecei a chorar e disse-lhes que já tinha trazido 15 crianças ao mundo. E eles deram-me pontapés, na barriga, na cabeça. Estava a sangrar."

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Também nos vídeos do Boko Haram se percebem as condições de violência extrema em que vivem as reféns. Obedecer ou morrer – parece ser esta a escolha. Ou até mesmo matar, como conta Rebecca. "Vi com os meus próprios olhos como as mulheres, especialmente as mais jovens, tiveram de matar. Quatro mulheres da minha aldeia que foram sequestradas comigo tiveram de aprender a disparar e a cortar a garganta de alguém."

A Nigéria criou mesmo um programa de "desradicalização" destinado a mulheres que foram feitas prisioneiras do grupo extremista islâmico. "Algumas são raptadas porque há militantes que precisam de mulheres para tratar das crianças e cozinhar nos acampamentos", conta Fatima Akilu, que lidera o projecto nacional.

As reféns têm diferentes papéis. "Recentemente até têm lutado. Não vimos mulheres combatentes nos vídeos, até agora, mas achamos que estão a treiná-las nos campos", afirma Fatima Akilu.

"Radicalização" de mulheres

Agora, coloca-se também a possibilidade de as mais de 200 estudantes sequestradas em Chibok em 2014 terem sido "radicalizadas". Não há qualquer confirmação, mas quem entra na cidade percebe a dimensão desta hipótese junto daqueles que as conhecem melhor.

Symbolbild Entführungen von Frauen und Mädchen in Nigeria
O movimento "Tragam de volta as nossas meninas" continua a lutar pelo regresso das jovensFoto: picture-alliance/dpa/D. Kurokawa

Não há electricidade nem hospital. Os habitantes de Chibok dizem que foram bombardeados e que voltaram à Idade da Pedra. "Aqui está o sinal do liceu de Chibok. Foi aqui que o Boko Haram sequestrou as nossas filhas. E ali a escola foi reconstruída. O antigo edifício foi destruído", relata Yakubu Madu. A sua filha é uma das meninas sequestradas em Chibok.

Mães e pais uniram forças e partilham a dor. Juntos, tentam também lidar com as mais recentes especulações de que as estudantes foram radicalizadas. "Dizem isso para não terem de procurar mais as nossas filhas. Mas eu, mesmo que a minha filha aparecesse com uma arma à minha frente, só queria abraçá-la. Depois disso, podia matar-me, se esse fosse o seu desejo", confessa Yakubu Madu.