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RDC: Corrupção também nas escolas

Kossivi Tiassou | vct
24 de agosto de 2018

O setor da educação não está imune à corrupção, que está bem enraizada na República Democrática do Congo (RDC). Nas escolas, trocar dinheiro ou favores sexuais por notas é uma prática comum.

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Sistema educativo na RDC enfrenta várias dificuldades, como, por exemplo, turmas muito grandesFoto: Laudes Martial Mbon/AFP/Getty Images

Lucienne Munono é diretora da escola "Accademia", na capital da República Democrática do Congo (RDC), Kinshasa. Munono diz que a corrupção faz parte do dia a dia das escolas e recorda um episódio em que testemunhou o momento em que um pai subornou um professor da sua escola.

"Estava a sair vi um professor e um pai foi cumprimentá-lo com um aperto de mão. O professor não largava a mão dele. Achei isso suspeito, e fiz sinal para o professor vir ter comigo. Perguntei-lhe o que tinha na mão, era dinheiro.  Depois perguntei 'era o pai de alguma criança da sua turma?' E ele disse 'sim'".

Atribuir boas notas em troca de sexo

Além de dinheiro, outro fenómeno é a troca de favores sexuais por notas. Com os avanços realizados neste setor nos anos 70, não se imaginava que, 50 anos mais tarde, os alunos que quisessem ter sucesso na escola seriam obrigados a pagar com os seus corpos, especialmente as jovens raparigas. Uma realidade com a qual a jovem Lydia, nome fictício, já se deparou.

DR Kongo 'Boulevard du trente juin' in Kinshasa
Kinshasa, capital da RDCFoto: DW/W. Bashi

"Um professor pediu-me claramente para dormir comigo antes de me atribuir a nota. É verdade que eu não tinha passado na prova, e em troca ele pediu-me que dormisse com ele, se não, não teria as notas que queria".

Lydia acrescenta que o professor lhe disse que se ela lhe oferecesse algo, poderia facilmente contar que o tinha subornado, mas, se dormisse com ele Lydia não iria contar por vergonha. 

Tal como Lydia, Jeanne também já passou por um episódio parecido. "Na minha turma, havia um professor que nos pedia que fizéssemos sexo com ele para ter boas notas. Um dia disse-me: 'Não tens boas notas na minha disciplina, se fores comigo para a cama, podes melhorar'".

Felizmente, este episódio teve um final justo. Jeanne recusou a proposta do seu professor. Os seus pais foram informados da situação e fizeram pressão sobre os responsáveis do estabelecimento de ensino e o professor em questão foi despedido.

Subornar inspetores dos exames

Outro tipo de corrupção é pagar aos inspetores a cargo dos exames do Estado para garantir que os estudantes se saiam bem na prova. A diretora Lucienne Munono também já se viu confrontada com um pedido desses.

"Tenho o exemplo das crianças do sexto ano. Temos uma estrutura de comissão de encarregados de educação, e numa reunião, um dos pais, que também é inspetor do ensino, defendeu que devíamos pagar para garantir que todos os alunos receberiam o diploma do Estado. Eu disse que não e ele respondeu:'isso acontece em todo lado, minha senhora'" .

A corrupção está tão enraizada na escola que é cada vez mais comum os próprios alunos fazerem as suas ofertas aos professores em troca de boas notas: pequenos presentes, dinheiro, favores sexuais. Características como a assiduidade e a inteligência não são as únicas formas de ser um bom estudante, pelo menos, no papel.

Sistema educativo em degradação

Na RDC, os professores são mal pagos, as turmas têm cada vez mais alunos, as salas de aulas estão mal equipadas, às vezes os alunos até têm de se sentar no chão.

RDC: Corrupção afeta também a educação

Para Henri Mutombo, da ONG Para Construir, a corrupção nas escolas acaba por ser um indicador da pobreza que existe na educação. Mutombo considera que há uma falta de visão que não valoriza nem pune os maus profissionais nem valoriza os bons.

"As más condições de trabalho dos professores justifica, de certa forma, esta degradação e há também a questão da impunidade. Se os professores fossem sancionados, se houvesse uma valorização de quem fizesse bem o seu trabalho, acho que não tínhamos chegado a esse ponto", disse.

A situação no setor da educação em certas partes do país pode ser explicada por problemas de governação e económicos, com a queda do preço das matérias-primas a empobrecer o fundo estatal. Uma tendência que tende a agravar-se com os conflitos que continuam a assolar algumas zonas do país. Por enquanto, Henri Mutombo e a sua ONG continuarão a percorrer o país para sensibilizar contra a corrupção nas escolas e universidades.

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