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Quénia: Mulheres obrigadas a trocar sexo por água potável

Andrew Wasike
2 de fevereiro de 2023

Nos bairros sociais de Nairobi, a falta de acesso à água potável está a colocar em risco a segurança de mulheres e raparigas. Governo e sociedade civil estão preocupados.

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Foto: Getty Images/AFP/M. Dahir

Catherine Muraya vive há mais de dez anos em Kibera, o maior bairro de lata da capital do Quénia, Nairobi. Em entrevista à DW, conta que a sua filha de 16 anos foi uma das vítimas de extorsão sexual.

"A maioria das nossas crianças é aliciada a trocar sexo por água", denuncia a mãe de duas meninas.

Nos assentamentos informais da capital queniana, onde o acesso a água potável não existe, as famílias são obrigadas a comprar o líquido a vendedores privados. A tarefa de obter água é geralmente da responsabilidade das mulheres que, muitas vezes sem recursos, se veem obrigadas a "trocar sexo por água".

"É uma tendência comum na nossa zona", diz Catherine, acrescentando que os agressores tiram fotografias e vídeos do ato sexual para intimidar as vítimas.

"Ameaçam as crianças que, se não continuarem a ter relações sexuais com eles, publicarão os vídeos."

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Autoridades reconhecem problema

Segundo Vincent Ouma, da Rede de Água e Saneamento do Quénia, uma iniciativa da sociedade civil, pelo menos 9% das jovens que vivem em assentamentos informais são vítimas deste tipo de abuso sexual.

"No entanto, dentro da comunidade e da própria sociedade reina o silêncio sobre este tema, por causa da vergonha e da culpa associada aos abusos. Não falamos sobre eles, não admitimos que é um problema, mas é", disse Ouma.

O Governo queniano garante, no entanto, que já identificou o problema. Segundo Beatrice Inyangala, secretária de Estado do Ensino Superior e Investigação, as comunidades mais pobres são as que mais sofrem.

"Esta vertente do acesso à água é esquecida muitas vezes. Uma investigação revelou que a extorsão sexual existe nos bairros de lata, onde as jovens acabam, por vezes, por ceder para conseguir a água, algo que é um direito humano básico".

Apesar da Constituição do Quénia assegurar o direito ao acesso a água potável e saneamento, o problema continua a alastrar-se. A Rede de Água e Saneamento lançou recentemente uma campanha para pôr fim aos abusos. O Governo também promete acabar com estes crimes.

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