Quelimane: Os mecânicos da capital do ciclismo de Moçambique
A bicicleta é o meio de transporte de eleição em Quelimane, capital da província da Zambézia. No centro, multiplicam-se oficinas e mecânicos prontos para prestar os seus serviços quando há uma avaria.
Modelos para todos os gostos
Na capital do ciclismo há dezenas de lojas, a maioria de cidadãos chineses, indianos e nigerianos, dedicadas à venda de bicicletas novas e usadas. Em cada um dos estabelecimentos, há no mínimo 500 veículos de todos os feitios e para todas as idades. O preço de uma bicicleta em segunda mão varia entre os 5 mil e os 10 mil meticais, cerca de 140 euros. Os estudantes são os principais compradores.
Estratégia de mercado
As oficinas do Mercado Central foram instaladas em locais estratégicos, como o próprio recinto do mercado e a avenida 25 de Junho. É aqui que muitos clientes procuram os serviços de reparação. Os preços variam em função do trabalho: reparar uma roda de bicicleta, por exemplo, pode custar 70 meticais - cerca de um euro. A manutenção completa de uma bicicleta nova ronda os 300 meticais.
Carga horária pesada
Muitos mecânicos têm de caminhar entre 10 a 15 quilómetros da zona de residência até ao mercado, onde se encontram as oficinas. O horário de trabalho não é fácil: as oficinas abrem de madrugada, entre as 4h00 e as 4h30, e fecham por volta das 17h30. Enquanto alguns regressam finalmente a casa, após um longo dia de trabalho, outros frequentam as aulas do regime noturno.
De bicicletas a motas
Fora do mercado central da cidade de Quelimane também há muitas oficinas. Muitos mecânicos oferecem serviço duplo: reparam não só bicicletas, mas também motorizadas. O arranjo de motas é mais rentável, duma vez que se trata de uma "máquina" mais complexa que uma bicicleta.
Clientes satisfeitos
Aiena Azevedo é uma das clientes assíduas destas oficinas. Hoje, traz novos pneus para substituir as rodas da sua motorizada. Nunca teve queixas sobre a qualidade dos serviços prestados pelos mecânicos no mercado central de Quelimane. Não se importa de pagar mais pela confiança: nunca deixaria a sua mota nas mãos de mecânicos fora do mercado.
Negócio gera negócio
A poucos metros das oficinas, há todo o tipo de peças para bicicletas e motorizadas à disposição de mecânicos e clientes. Em caso de danos maiores nos veículos, é preciso substituir várias componentes e o preço do arranjo aumenta.
Aprender o ofício
Todos os dias, as oficinas de Quelimane recebem novos aprendizes de mecânico de bicicletas. É o caso de Lucas Alilo Luís (à direita) que há seis meses trabalha com o mestre Fernando Mariano (à esquerda), os dois naturais de Inhassunge e residentes em Icidhua. Lucas não concluiu a 10ª classe por falta de condições e decidiu juntar-se aos mecânicos do centro.
Mecânicos a mais
O mecânico Lucas Casimiro, de 21 anos, do bairro Icidhua, queixa-se da falta de clientes. Diz que não há movimento devido ao excesso de mecânicos de bicicletas na cidade. A ausência de preços fixos também é um problema, na opinião de Lucas Casimiro: cada trabalhador estipula o seu valor e os clientes vão aos mecânicos de baixo custo.
Da agronomia à reparação de bicicletas
Em Quelimane, há quem tenha abandonado a sua profissão para se dedicar a este trabalho. Lerio Carlos, de 22 anos, formou-se em Agronomia. Há um ano, decidiu juntar-se aos mecânicos de bicicletas, por falta de emprego na sua área. Afirma que já está adaptado à nova realidade e que gosta do trabalho. Ganha cerca de 200 meticais (cerca de 3 euros) por dia.
Pagamento? Só no final!
É uma regra cumprida por todos nas oficinas: clientes e patrões concordam que o pagamento só se faz depois da conclusão do trabalho. Desta forma, evitam-se eventuais falhas na concertação da bicicleta.
Fruta para o almoço
Pelas oficinas, a alimentação não é a ideal. Baixon Casquero é um dos mecânicos de renome em Quelimane. Tal como muitos colegas, não tem tempo para ir a casa à hora do almoço. Ao meio-dia, faz uma pausa no arranjo de bicicletas e come duas mangas cozidas. Para variar, nalguns dias compra bolinhos. Nos dias em que ganha mais dinheiro, compra uma refeição preparada numa das barracas do mercado.
Profissionais realizados
Muitos mecânicos são jovens e chefes de família. À DW Àfrica, dizem sentir-se bem a exercer esta atividade. Ganham o suficiente para pagar as contas em casa, alimentar a família e comprar material para que os filhos possam ir à escola.