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Prémio Liberdade de Expressão da DW para Anabel Hernández

Helena Kaschel | cvt
27 de maio de 2019

Há décadas, a jornalista e escritora mexicana denuncia os cartéis de drogas e esquemas de corrupção no México. Esta segunda-feira (27.05), recebe o Prémio Liberdade de Expressão da DW, no Global Media Forum em Bona.

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Interview mit der Gewinnerin des DW Freedom of Speech Award 2019: Anabel Hernández
Foto: DW/V. Tellmann

"Este é muito mais que um prémio, mas uma solidariedade não apenas comigo, não é sobre mim, mas sobre a liberdade de expressão no México. É sobre o direito dos mexicanos à informação," declarou a jornalista e escritora mexicana Anabel Hernández ao comentar o reconhecimento recebido ao ser anunciada vencedora do Prémio Liberdade de Expressão da DW.

"Penso que este tipo de prémios concedidos pelos média internacionais, ajuda-nos a continuar o nosso trabalho no México," acrescentou.

Opening ceremony Peter Limbourg
Peter LimbourgFoto: DW/P. Böll

Por cerca de duas décadas, ela tem estado a reportar incansavelmente sobre corrupção, tráfico de drogas, abuso sexual e impunidade no México.

Esta é a quinta vez que a emissora internacional da Alemanha homenageia o engajamento notável pelos direitos humanos e pela liberdade de expressão nos meios de comunicação social. O diretor da DW, Peter Limbourg, elogiou a persistência intrépida da jornalista de 47 anos.

"A luta de Anabel Hernández contra a ocultação e a impunidade é um exemplo impressionante do jornalismo investigativo corajoso," disse Limbourg quando Hernández foi anunciada ganhadora do prémio, na Cidade do México.

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Cidade do México, vista parcialFoto: AP

Biografia como força motriz

Hernández começou a sua carreira jornalística na década de 1990 nos jornais Reforma, Milenio e El Universal e logo ficou conhecida como a principal jornalista investigativa do México.

O assassinato do seu pai na Cidade do México, no final de 2000, que até hoje não foi esclarecido, foi o ponto de viragem no trabalho da jornalista. Depois disso, ela concentrou-se na descoberta de escândalos da Justiça tolerados pelo Estado e de violações da lei.

Em 2001, Hernández recebeu o Prémio Nacional de Jornalismo no México por sua investigação sobre despesas excessivas durante a presidência de Vicente Fox. Sua reportagem sobre a exploração sexual e o trabalho escravo de meninas mexicanas na Califórnia foi reconhecida pela UNICEF em 2003.

Logo der Zeitung El Universal
Marca do jornal mexicano El Universal

Hernández também publicou seu trabalho investigativo em dois livros. Seu bestseller de 2010 "Los Señores del Narco" (na tradução literal para o português: "Os Senhores do Narcotráfico"), sobre a cumplicidade de políticos, do Exército e da comunidade empresarial com cartéis de drogas mexicanos, tornou-a conhecida internacionalmente.

"Fui a jornalista que, pela primeira vez, falou e mostrou provas de tudo isso. Então o Governo Mexicano e muitos de seus funcionários tentaram matar-me. Não o Cartel de Sinaloa, não o [narcotraficante] Joaquín Gusmán. Foi o Governo mexicano que tentou matar-me, como vêm tentando matar muitos outros jornalistas no México que têm estado a tentar falar a verdade," descreveu.

Em 2016, foi publicado o seu livro "La Verdadera Noche de Iguala" (em português literal, "A Verdadeira Noite de Iguala"). Nele, Hernández investiga os assassinatos não resolvidos de 43 estudantes no estado de Guerrero, em 2014 - para dar voz às vítimas e suas famílias, diz ela.

Anabel OL - MP3-Stereo

Exílio: Prémio ao jornalismo corajoso

Mas Hernández também pagou um preço alto pela sua coragem: após ameaças de morte e muitos ataques contra a sua pessoa, ela primeiro se mudou para os Estados Unidos e agora vive exilada na Europa.

De acordo com a jornalista, ainda é arriscado para ela viajar para o seu país natal.

"Neste mundo bizarro, tive que deixar o México para conseguir continuar meu trabalho no México," disparou.

Em outubro de 2018, Anabel Hernández disse que uma de suas fontes havia sido assassinada na rua, durante a pesquisa para seu segundo livro. No entanto, ela não se deixou intimidar.

"Estou convencida de que, se lançar alguma luz sobre a escuridão, isso é mais importante do que a minha própria segurança," disse ela.

Freedom of Speech Award 2018 | Sadegh Zibakalam
Foto: DW/P. Böll

Primeira mulher a receber o prémio da DW

Hernández é a primeira mulher a receber o Prémio Liberdade de Expressão da DW.

"Estou grata por este Prémio Liberdade de Expressão porque acho que esta é uma forma de a comunidade internacional reconhecer que este desastre humanitário que existe no México não é apenas responsabilidade dos mexicanos ou do Governo mexicano ou dos cartéis mexicanos. Esta é também uma enorme responsabilidade da comunidade internacional," avaliou a jornalista.

Mexiko Vicente Fox
Vicente FoxFoto: Getty Images/AFP/Y. Cortez

"Todas essas drogas que chegam à Europa, é porque existe um enorme mercado de consumidores e também de governos que deixam estas drogas entrarem e também porque os cartéis lavam seu dinheiro sujo e sangrento nesse tipo de grande negócio na Europa," concluiu.

Em 2015, Raif Badawi, o blogueiro saudita que ainda se encontra na prisão, foi condecorado. Em 2016, Sedat Ergin, ex-chefe de redação do diário turco Hürriyet, foi o homenageado.

No ano seguinte, o prémio foi para a Associação de Correspondentes da Casa Branca (dos Estados Unidos) e, em 2018, para o cientista político iraniano Sadegh Zibakalam.

A cerimónia de premiação é o destaque do Global Media Forum, evento que debate os rumos da imprensa e que é organizado pela DW. Este ano, a conferência internacional da Deutsche Welle tem lugar nesta segunda e terça-feira (27.05 e 28.05), em Bona.

Cerca de 2000 convidados de mais de 100 países discutirão os atuais acontecimentos nos media e na política.