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Profissionais defendem ensino de música clássica em Moçambique e Cabo Verde

Silva-Rocha, Antonio17 de setembro de 2013

Instrumentista moçambicana diz que falta formação de qualidade e aposta em projeto de inclusão social. Em Cabo Verde, professora explica que há procura pela música clássica, mas faltam escolas.

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Eldevina Materula, também conhecida por Kika, é caso ímpar no seu país, já que é a única oboísta de Moçambique. Para estudar oboé, um instrumento de sopro responsável por grande parte dos solos numa orquestra, Kika teve de ir para Portugal.

Kika começou a estudar piano e flauta de bisel na Escola Nacional de Maputo com sete anos e aos 13 anos deixou Moçambique. "Em 1995, me mudei para Portugal, para poder seguir os estudos de música. Na altura, no meu país, não tínhamos sequer o instrumento no qual eu me formei ao fim de dez anos".

Assim como ela, outros profissionais encontram dificuldades para trabalhar com a música clássica no país africano. Faltam professores qualificados, infraestrutura e escolas.

"O grande problema é a falta de ensino de qualidade, equiparado ao europeu", afirma. A instrumentista diz que, em Moçambique, os músicos não têm as mesmas oportunidades de formação como nos Estados Unidos e Europa: "Isso não havia e não há ainda, ou melhor, já há, mas a uma escala muito pequena".

Para Kika, uma das principais lacunas no país continua a ser a falta de formadores. "Infelizmente os professores que temos já se formaram há muitos anos. E neste momento, não há nenhuma escola oficial a ensinar os instrumentos clássicos".

Projeto Xiquitsi

Kika, que toca na Orquestra Sinfónica do Porto, da Casa da Música, em Portugal, decidiu voltar à Moçambique este ano para implementar o projeto Xiquitsi. A iniciativa, que se destina a crianças e jovens dos sete aos 25 anos, tem o objetivo de criar a primeira Orquestra Sinfónica de Música Clássica do país. Além de ensinar música aos mais novos, o projeto tem uma vertente de inserção social.

"Muitos dos alunos estão a começar do zero, a aprender a ler a pauta, o ritmo, as regras da orquestra e, ao mesmo tempo, a disciplina, que se vai repercutir na vida pessoal destes jovens", argumenta.

O primeiro grande concerto está agendado para o final de outubro, na terceira temporada da música clássica de Maputo, mas a diretora artística já fala em vitórias.

"Os nossos alunos vivem não só no centro da cidade, mas também nas regiões periféricas. Muitos andam horas para irem aos concertos. E ainda levam os pais", conta. Para Kika, este é um dos maiores benefícios do projeto.

Trabalho de base

Em Cabo Verde, a professora Sádia Youssufo, da escola de música TUTUTA, na ilha do Sal, afirma que existe procura pela música clássica, mas ainda há poucas escolas.

"Não há professores formados nesse estilo. Então há mais dificuldade em passar esse ensinamento e às vezes é complicado encontrar material didáctico", defende.

A escola TUTUTA é a única que disponibiliza cursos de música clássica para jovens e adultos na Ilha do Sal. A professora considera que a instituição procura dar as bases para que um aluno possa continuar, posteriormente, o estudo do gênero musical.

Alunos jovens

Elayne Barbosa, de 17 anos, é aluna de Sádia e frequenta o curso há seis anos. Ela conta que o seu primeiro contato com a música foi com outros estilos.

"Quando comecei a tocar piano tinha nove anos. Tocava com um professor brasileiro e ele me ensinava mais músicas do seu país". Apesar disto, em pouco tempo a aluna se interessou pelo género clássico. "Faz-me pensar muito na vida e relaxar", diz.

A professora Sádia acredita que um maior conhecimento da musica clássica beneficiaria todo o país. "É algo que vai enriquecer o curriculum dos alunos e a cultura de toda a comunidade, porque a música clássica também nos permite entender melhor os estilos contemporâneos".